NÃO SE PODE SEGUIR A JESUS SEM FÉ Não se pode seguir a Jesus sem uma fé reta; não se pode assumir a radicalidade que comporta “seguir mais de perto o Evangelho e as pegadas de nosso Senhor Jesus Cristo” sem uma fé que implique tudo o que somos e se transforme em fonte de nossa alegria e de nossa esperança, de nosso seguimento de Jesus Cristo e de nosso testemunho ao mundo. No coração do projeto Alpha e Ômega encontraram o ser de nossa Espiritualidade: Abandono à Vontade Divina e Confiança na misericórdia divina que exigira em nossa vida uma experiência original da fé em Deus, realizada no encontro pessoal com Jesus Cristo.
O projeto de vida que queremos viver e perpetuar como Alpha e Ômega na história da Igreja e do mundo a que somos chamados a proclamar: Deus somente, e nada mais, em tudo Deus... é totalmente construído ao redor da viva certeza de que vale a pena arriscar completamente a vida para seguir a Jesus. E isso está a apontar para a necessidade de crer até o fim; aderir ao Deus único de verdade, explicado e narrado (cf. Jo 1,18) de forma definitiva por Jesus (cf. Jo 14,6.9); deixar-se interrogar, ouvindo um “Deus que fala” e interpela, que chama o homem, intervém na história e é conhecido por suas obras, as únicas que lhe dão um nome.
A fé é o único fundamento sólido sobre o qual se pode construir uma vida em espírito de oração e devoção, fraternidade, minoridade, pobreza e solidariedade; só partindo da fé podemos responder à nossa vocação de encher a terra com o Evangelho de Cristo. A fé move as montanhas (cf. Mt 17,20s). A fé transforma o que parece absurdo numa bela realidade e o que parece impossível deixa de sê-lo (cf. Lc 5,1-7). O que seria impossível ao homem não o é para Deus (cf. Lc 18,27). Nosso Deus é o Deus do impossível (cf. Lc 1,37) e nada é impossível a quem crê e confia nele: “tudo posso naquele que me dá força” (Fl 4,13).
Mas a fé da qual falamos não é o resultado de um ato puramente intelectual e, muito menos, um esforço moral: é a adesão total à pessoa de Jesus. É, antes de mais nada, abertura incondicional ao relacionamento pessoal com Jesus. A fé baseia-se na escuta de uma palavra que introduz quem a ouve com coração aberto e disponível numa relação de alteridade, de simpatia, e que coloca o crente numa comunidade, numa história de relação toda a ser construída.
A experiência de Deus se expressa no encontro com Jesus e é vivida num contexto de aliança, que é relação de alteridade e de liberdade. Por isso, crer significa abrir-se, confiar-se, arriscar, comprometer-se com o outro. Crer é o antídoto do medo e do cálculo. Crer é, como para Abraão, sair da própria pátria, da casa paterna e pôr-se a caminho para o país que o Senhor nos há de indicar (cf. Gn 12,1), mesmo que não saibamos para onde o Senhor nos há de conduzir (cf. Hb 11,8).
Por isso, é no seguimento que se manifesta a fé: “deixaram tudo e o seguiram” (cf. Mc 1,18.20; Lc 5,28). Cremos nele e o seguimos, confiamos nele, sem perguntar-lhe para onde nos conduz; conhecemos seu amor; nós o amamos e não necessitamos calcular os riscos por nos termos colocado a caminho com Ele. Foi tudo muito simples: chamou-nos, como Abraão, seu amigo; atraiu-nos, como a esposa do Cântico, sua amada; seduziu-nos, como Jeremias, seu profeta. Suas palavras eram chamas de fogo: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Mc 8,34), e nos deixamos atrair por sua luz e por seu calor: “logo o seguiram” (Mc 1,18; cf. Mt 4,20.22; 8,18-22).
Caros filhos, não se fechem ao seu amor, na ilusão de uma impossível auto-suficiência (cf. Gn 3,1-7). Permitam que Jesus entre em seu "espaço vital" (cf. Sfc 44). Como a Samaritana do Evangelho, ofereçam-lhe o que são, o que têm, sua verdade sem restrições. Só ele saciará definitivamente sua sede de plenitude. Diante do risco de uma fé momentânea e ocasional, que não leve a unificar a vida, ou diante do risco de uma pertença parcial, que não desemboque na experiência de um verdadeiro discipulado, vocês devem recordar, caros filhos, que crer é comprometer-se com o projeto de Deus, confiando em sua fidelidade, confiando em sua promessa, seguros na rocha de sua bondade e misericórdia.
E, dado que a história da salvação chegou à sua plenitude em Cristo, crer significa seguir a Jesus, pôr Jesus no centro da própria vida, fazer de Jesus o fundamento de nosso presente e de nosso futuro. Diante do risco da fragmentação e da esquizofrenia espiritual e interior, Jesus é o amor que dá unidade à caminhada e à história de cada um de nós; Jesus é o único que pode levar-los à unidade, que pode conduzir-nos à fonte da perfeita comunhão.
Permita caros filhos, que lhes pergunte particularmente a cada um: O que você pensa de sua fé? Como a alimenta? Quais são os obstáculos que encontra em sua vida para crer verdadeiramente? Quem é Jesus para você? Que lugar Jesus ocupa em sua vida de cada dia? Encontrar o tesouro facilita a caminhada
O encontro precede ao seguimento. Os discípulos seguem o Senhor somente depois de se terem encontrado com ele. O mesmo acontece com Paulo. Em ambos os casos, houve um encontro com Jesus e uma palavra de sua parte; quem a ouviu e a acolheu no coração sentiu-se “conquistado” (Fl 3,12), “escolhido” (Rm 1,1), “chamado” (1Cor 1,1), “amado” (Gl 2,20). O mesmo acontece hoje. Para seguir a Jesus é necessário encontrá-lo, crer nele, ouvi-lo, segui-lo e morrer com ele para poder ressuscitar com ele. Por outro lado, o encontro é aquilo que dá sentido ao seguimento em suas exigências mais radicais. Deixa-se alguma coisa porque se encontra alguma coisa; deixa-se tudo, porque se encontra tudo, ou melhor, Aquele que é tudo. É significativo que, na vocação dos primeiros discípulos, o desprendimento e a renúncia se expressam através de um duplo movimento de separação e de aproximação: deixam tudo (cf. Mc 1,18.20) e se aproximam dele (cf. Mc 3,13).
A alegria da descoberta é tal que justifica a venda de tudo para chegar ao tesouro (cf. Mt 13,44). Se a tristeza bloqueia, a alegria motiva a decisão de seguir a Jesus. A alegria da descoberta, uma descoberta sempre gratuita e surpreendente, a paixão pelo "tesouro escondido" e o amor por Jesus fazem que a renúncia a tudo que alguém possui não se torne um ato heróico, um extraordinário sacrifício ou uma extrema privação; mas seja como uma conseqüência do fato de ter encontrado Aquele que pode satisfazer as aspirações mais profundas e a própria vida da pessoa.
Para quem conhece a Jesus – para quem encontra o tesouro escondido – ele é o único necessário; tudo o mais é secundário. Não para que tudo perca o significado, mas porque, no fim, tudo é considerado uma perda para ganhar a ele (cf. Fl 3,7.12). O discípulo deixa tudo para aproximar-se daquele que é tudo: “Vocês também querem ir embora?... Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,67s). O discípulo vê o essencial e o essencial está somente em quem tem palavras de vida eterna. O discípulo não tem nenhum bem superior a ele (cf. Sl 16,2). Como Paulo, o discípulo foi conquistado por ele (cf. Fl 3,12), até poder dizer que ele é sua vida (cf. Fl 1,21; Gl 2,20). O discipulado não se mede por aquilo que alguém deixa – mesmo que se deva deixar muitas coisas – mas por aquilo que se encontra.
Também nesse caso quero perguntar-lhes pessoalmente: Você encontrou realmente a Jesus? Como? Quando? Os discípulos lembram-se exatamente (cf. Jo 1,39). Como alimentas esse primeiro encontro?
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