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«Quantas vezes Eu quis juntar os teus filhos»
S. Lucas 13,31-35.
Naquele dia, aproximaram-se de Jesus alguns fariseus, que Lhe disseram: «Vai-te embora, sai daqui, porque Herodes quer matar-te.»
Respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Agora estou a expulsar demónios e a realizar curas, hoje e amanhã; ao terceiro dia, atinjo o meu termo.
Mas hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém.»
«Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes Eu quis juntar os teus filhos, como a galinha junta a sua ninhada debaixo das asas, e não quiseste!
Agora, ficará deserta a vossa casa. Eu vo-lo digo: Não me vereis até chegar o dia em que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!»
Reflexão:
«Quantas vezes Eu quis juntar os teus filhos»
A sede espiritual de Cristo acabará. A Sua sede é o Seu desejo intenso de amor por nós, que durará até sermos testemunhas no Juízo Final. Pois os eleitos, que serão a alegria e a felicidade de Jesus durante toda a eternidade, estão em parte ainda aqui em baixo e, depois de nós, haverá outros, até ao último dia. A Sua sede ardente é a de nos ter todos n'Ele, para Sua grande felicidade – é, pelo menos, o que me parece. [...]
Enquanto Deus, Ele é a beatitude perfeita, felicidade infinita que não pode aumentar nem diminuir. [...] Mas a fé ensina-nos que, pela Sua humanidade, Ele quis sofrer a Sua Paixão, sofrer todo o tipo de dores, e morrer por amor a nós e pela nossa felicidade eterna. [...] Enquanto nossa Cabeça, Cristo foi glorificado e não sofrerá mais; mas, como é também o Corpo que une todos os Seus membros (Ef 1,23), ainda não é completamente glorioso e impassível. É por isso que continua a sentir este desejo e esta sede que sentia na cruz (Jo 19,28) e que, parece-me, estavam n'Ele desde toda a eternidade. E isto é assim agora e assim será até que a última alma salva tenha entrado nesta beatitude.
Sim, é tão verdadeiro que existe em Deus a misericórdia e a piedade, como que n'Ele existe esta sede e este desejo. Em virtude deste desejo que existe em Cristo, também nós o desejamos: sem isso, nenhuma alma chega ao Céu. Este desejo e esta sede procedem, parece-me, da bondade infinita de Deus, bem como da Sua misericórdia [...]; e esta sede persistirá n'Ele enquanto nós precisarmos dela, atraindo-nos para a Sua beatitude.
Juliana de Norwich (1342-depois de 1416), mística inglesa
Revelações do amor divino, cap. 31
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