30º Domingo do Tempo Comum - Ano C
Uma confiança absoluta na misericórdia de Deus e uma entrega confiada
nas mãos de Deus.
A liturgia deste domingo
ensina-nos que Deus tem um “fraco” pelos humildes e pelos pobres, pelos
marginalizados; e que são estes, no seu despojamento, na sua humildade, na sua
finitude (e até no seu pecado), que estão mais perto da salvação, pois são os
mais disponíveis para acolher o dom de Deus.
A primeira leitura define Deus como um “juiz justo”, que não se
deixa subornar pelas ofertas desses poderosos que praticam injustiças na
comunidade; em contrapartida, esse Deus justo ama os humildes e escuta as suas
súplicas.
O Evangelho define a atitude correta que o crente deve assumir
diante de Deus. Recusa a atitude dos orgulhosos e auto-suficientes, convencidos
de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude
humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas
disposto a acolher o dom de Deus. É essa atitude de “pobre” que Lucas propõe
aos crentes do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda leitura, temos um convite a viver o caminho cristão com
entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo. A leitura foge, um
pouco, ao tema geral deste domingo; contudo, podemos dizer que Paulo foi um bom
exemplo dessa atitude que o Evangelho propõe: ele confiou, não nos seus
méritos, mas na misericórdia de Deus, que justifica e salva todos os homens que
a acolhem.
LEITURA I – Sir 35,15b-17.20-22a
O livro de Ben Sira foi escrito
nos inícios do séc. II a.C. (entre 195 e 171 a.C.), numa altura em que os selêucidas
dominavam a Palestina e a cultura helênica – cada vez mais onipresente –
colocava em risco a cultura, a fé e os valores judaicos. O autor do livro
(Jesus Ben Sira), preocupado porque muitos dos seus concidadãos se deixavam
seduzir pelos valores estrangeiros e negavam as raízes do seu Povo, escreve
para defender o patrimônio cultural e religioso do judaísmo, a sua concepção de
Deus, do mundo, da eleição e da aliança. Procura convencer os seus compatriotas
de que Israel possui na sua “Torah”, revelada por Deus, a verdadeira
“sabedoria” – uma “sabedoria” muito superior à “sabedoria” grega.
O texto que nos é proposto
insere-se num pacote de sentenças em que Jesus Ben Sira procura apontar aos seus
concidadãos o caminho da verdadeira “sabedoria” (cf. Ben Sira 34,21-35,26).
Esse “caminho” passa pela prática de uma “religião verdadeira”, isto é, pelo
cumprimento rigoroso dos mandamentos da “Torah”, nomeadamente no que diz
respeito à vivência da justiça comunitária e ao respeito pelos direitos dos
mais pobres… Nestas sentenças, Jesus Ben Sira avisa que Deus não pode ser
comprado com atos de culto, por parte daqueles que praticam a injustiça e que
escravizam os irmãos. O apelo do autor vai, portanto, no sentido de que sejam
cumpridos os mandamentos da Lei e sejam respeitados os direitos dos pobres e
dos débeis. É essa a verdadeira religião que Deus exige do homem. Aqueles que
pretendem ser sábios não podem cometer injustiças de manhã e à tarde aparecer
no Templo a afirmar a sua fé e a sua comunhão com Deus, através da oferta de
vultuosos sacrifícios de animais. Isso seria, praticamente, comprar Deus e
fazer dele cúmplice da injustiça… E Deus não aceita esse esquema.
Deus é, então, um juiz justo (é daqui que
parte o nosso texto), que não faz acepção de pessoas, que não aceita ser
cúmplice dos opressores, que não Se deixa subornar pelos presentes dos ricos e
não desiste de fazer justiça aos pobres (são explicitamente nomeados os órfãos
e as viúvas – as duas figuras paradigmáticas dos desprotegidos, que só tinham
Deus para os defender da prepotência dos grandes).
Por outro lado, Jesus Ben Sira
insiste em que Deus
escuta sempre as preces dos débeis e que está atento aos gritos de revolta
daqueles que são vítimas da injustiça. Assim, os humildes que sofrem a opressão
e a prepotência dos poderosos são convidados a apresentar a Deus as suas
queixas, até que Ele restabeleça o direito e a justiça.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir
das seguintes sugestões:
• Este texto põe, antes de mais,
o problema do que é fundamental na experiência religiosa… Sugere que a
“verdadeira religião” não passa pelos ritos, mas por uma vida verdadeiramente
comprometida com os mandamentos, nomeadamente com o mandamento do amor aos
irmãos… Não é verdadeira a religião daqueles que pagam as festas da paróquia,
mas não pagam justamente aos seus operários; não é verdadeira a religião
daqueles que ao domingo depositam na bandeja do peditório algumas notas gordas,
mas não respeitam a dignidade e a liberdade dos outros; não é verdadeira a
religião daqueles que fazem “promessas”, para que Deus os ajude a concluir com
êxito um negócio duvidoso em que alguém vai sair prejudicado… Uma religião
desligada da vida é uma religião falsa, incoerente, hipócrita, com a qual Deus
não quer ter nada a ver…
• O texto revela também, uma vez
mais, que o nosso Deus tem um fraco pelos pobres, pelos débeis, pelos
oprimidos, por aqueles que o mundo considera “vencidos” e sem peso. Atenção:
Deus ama-os e não deixa passar em claro qualquer injustiça cometida contra eles
ou qualquer comportamento que viole a sua dignidade. E os crentes, “filhos de
Deus”, são convidados a atuar com a mesma lógica de Deus… Sou, como Deus,
sensível ao apelo dos pobres, vítimas da injustiça, da segregação, da exclusão?
Luto, com coerência, contra tudo o que gera morte, infelicidade, exploração,
injustiça, miséria? Aqueles que não encontram lugar na mesa dos privilegiados
deste mundo encontram, através de mim, o rosto misericordioso e bondoso do Deus
que os ama?
• A oração do pobre e do
desvalido chega sempre aos ouvidos de Deus… Deus não vira, nunca, as costas a
quem chama por Ele e vê n’Ele a esperança e a salvação. Isto é algo que eu devo
ter sempre presente, nomeadamente nos momentos mais dramáticos da minha
existência, quando tudo cai à minha volta. A Palavra de Deus que hoje nos é
oferecida garante-nos: Deus escuta a oração do pobre (e, no contexto bíblico,
dizer que “escuta” significa dizer que Ele se prepara para intervir e para
trazer àquele que sofre a libertação e a vida).
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 33 (34)
Refrão 1: O pobre clamou e o
Senhor ouviu a sua voz.
Refrão 2: O Senhor ouviu o clamor
do pobre.
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na
minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
A face do Senhor volta-se contra
os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua
memória.
Os justos clamaram e o Senhor os
ouviu,
livrou-os de todas as angústias.
O Senhor está perto dos que têm o
coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus
servos,
não serão castigados os que n’Ele
confiam.
LEITURA II – 2 Tim 4,6-8.16-18
Mais uma vez a liturgia traz-nos
um texto da Segunda Carta a Timóteo. Embora atribuída a Paulo, trata-se (como,
aliás, já vimos nos domingos anteriores) de uma carta escrita por um autor desconhecido,
em finais do séc. I ou princípios do séc. II. Para os crentes da segunda
geração cristã, é uma época de perseguições, de divisões, de heresias e,
portanto, de confusão e de desânimo. Nesse contexto, um cristão anônimo, usando
o nome de Paulo, escreveu a pedir aos seus irmãos na fé que se mantivessem
fiéis à missão que Deus lhes confiou. O seu objetivo era revitalizar a fé e o
entusiasmo dos crentes.
O autor da carta apresenta-se na
pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e nessa pele, faz um balanço final da sua
vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.
A vida de Paulo foi, desde o seu
encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa
ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo
Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida, num dom total,
para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra. No final, ele
sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com
a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas
vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a
todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do
“Reino”).
Para definir a sua vida como dom
total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a
imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total,
ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora,
para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do
seu sangue… A referência à oferta “em libação” faz referência aos sacrifícios
em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a
vítima sacrificial.
Há duas maneiras de dar a vida
por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo
veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue
por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades;
imitar Paulo é um desafio que o autor da Carta a Timóteo faz aos discípulos do
seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda parte do nosso texto
(vers. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de
um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se
sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem
consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a
força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final
da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a
Ele pelos séculos sem fim. Amém”. É esta a atitude que o autor da carta pede
aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a
presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim
recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu
o bom combate da fé.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir
das seguintes linhas:
• Paulo foi uma das figuras que
marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu
exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma
tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo;
interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em
todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a
tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito
de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os
homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve
interpelar, desafiar e inspirar cada crente.
• O caminho que Paulo percorreu
continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver
de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de
renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância
fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica
ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz
do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho
que vale a pena, pois conduz à vida plena. Concordo? É este o caminho que eu me
esforço por percorrer?
• Convém ter sempre presente esse
dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo
não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos;
o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal.
Animados por esta certeza, temos medo de quê?
ALELUIA – 2 Cor 5,9
Aleluia. Aleluia.
Deus estava em Cristo
reconciliando o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da
reconciliação.
EVANGELHO – Lc 18,9-14
Mais uma vez, Lucas coloca-nos no
“caminho de Jerusalém”, para nos deixar uma lição sobre o “Reino”. Desta vez,
Jesus propõe uma parábola “para alguns que se consideravam justos e desprezavam
os outros”. Os protagonistas da história são um fariseu e um publicano.
Os “fariseus” formavam um dos
grupos mais interessantes e com mais impacto na sociedade palestina do tempo de
Jesus. Descendentes desses “piedosos” (“hassidim”) que apoiaram o heróico
Matatias na luta contra Antíoco IV Epifanes e a helenização forçada, eram os
defensores intransigentes da “Torah” (quer da “Torah” escrita, quer da “Torah”
oral – isto é, dos preceitos não escritos, mas que os fariseus tinham deduzido
da “Torah” escrita); no dia a dia, procuravam cumprir escrupulosamente a Lei e
esforçavam-se por ensinar a Lei ao Povo: só assim – pensavam eles – o Povo
chegaria a ser santo e o Messias poderia vir trazer a salvação a Israel.
Tratava-se de um grupo sério, verdadeiramente empenhado na santificação do Povo
de Deus. No entanto, o seu fundamentalismo em relação à “Torah” será, várias
vezes, criticado por Jesus: ao afirmarem a superioridade da Lei, desprezavam
muitas vezes o homem e criavam no Povo um sentimento latente de pecado e de
indignidade que oprimia as consciências.
Os “publicanos” estavam ligados à
cobrança dos impostos, ao serviço das forças romanas de ocupação. Tinham fama
de utilizar o seu cargo para enriquecer de modo imoral; e é preciso dizer que,
na generalidade, essa fama era bem merecida. De acordo com a Mishna, estavam
afetados permanentemente de impureza e não podiam sequer fazer penitência, pois
eram incapazes de conhecer todos aqueles a quem tinham defraudado e a quem
deviam uma reparação. Se um publicano, antes de aceitar o cargo, fazia parte de
uma comunidade farisaica, era imediatamente expulso dela e não podia ser
reabilitado, a não ser depois de abandonar esse cargo. Quem exercia tal ofício,
estava privado de certos direitos cívicos, políticos e religiosos; por exemplo,
não podia ser juiz nem prestar testemunho em tribunal, sendo equiparado ao
escravo.
No fariseu e no publicano da
parábola, Lucas põe em confronto dois tipos de atitude face a Deus.
O fariseu é o modelo de um homem
irrepreensível face à Lei, que cumpre todas as regras e leva uma vida íntegra.
Ele está consciente de que ninguém o pode acusar de cometer ações injustas, nem
contra Deus, nem contra os irmãos (e, aparentemente, é verdade, pois a parábola
não nos diz que ele estivesse a mentir). Evidentemente, está contente (e tinha
razões para isso) por não ser como esse publicano que também está no Templo: os
fariseus tinham consciência da sua superioridade moral e religiosa, sobretudo
em relação aos pecadores notórios (como é o caso deste publicano).
O publicano é o modelo do
pecador. Explora os pobres, pratica injustiças, trafica com a miséria e não
cumpre as obras da Lei. Ele tem, aliás, consciência da sua indignidade, pois a
sua oração consiste apenas em pedir: “meu Deus, tende compaixão de mim que sou
pecador”.
O comentário final de Jesus
sugere que o publicano se reconciliou com Deus (a expressão utilizada é “desceu
justificado para sua casa” – o que nos leva à doutrina paulina da justificação:
apesar de o homem viver mergulhado no pecado, Deus, na sua misericórdia
infinita e sem que o homem tenha méritos, salva-o). Porquê?
O problema do fariseu é que pensa
ganhar a salvação com o seu próprio esforço. Para ele, a salvação não é um dom
de Deus, mas uma conquista do homem; se o homem levar uma vida irrepreensível,
Deus não terá outro remédio senão salvá-lo. Ele está convencido de que Deus lhe
deve a salvação pelo seu bom comportamento, como se Deus fosse apenas um
contabilista que toma nota das acções do homem e, no fim, lhe paga em consequência. Ele
está cheio de auto-suficiência: não espera nada de Deus, pois – pensa ele – os
seus créditos são suficientes para se salvar. Por outro lado, essa
auto-suficiência leva-o, também, ao desprezo por aqueles que não são como ele;
considera-se “à parte”, “separado”, como se entre ele e o pecador existisse uma
barreira… É meio caminho andado para, em nome de Deus, criar segregação e
exclusão: é aí que leva a religião dos “méritos”.
O publicano, ao contrário,
apoia-se apenas em Deus e não nos seus méritos (que, aliás, não existem). Ele
apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões;
entrega-se apenas nas mãos de Deus e pede-Lhe compaixão… E Deus “justifica-o” –
isto é, derrama sobre ele a sua graça e salva-o – precisamente porque ele não
tem o coração cheio de auto-suficiência e está disposto a aceitar a salvação
que Deus quer oferecer a todos os homens.
Esta parábola, destinada a
“alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”, sugere que esses
que se presumem de justos estão, às vezes, muito longe de Deus e da salvação.
ATUALIZAÇÃO
Para refletir e atualizar este
texto, considerar os seguintes dados:
• Este texto coloca,
fundamentalmente, o problema da atitude do homem face a Deus. Desautoriza
completamente aqueles que se apresentam diante de Deus carregados de
auto-suficiência, convencidos da sua “bondade”, muito certos dos seus méritos,
como se pudessem ser eles a exigir algo de Deus e a ditar-Lhe as suas
condições; propõe, em contrapartida, uma atitude de reconhecimento humilde dos
próprios limites, uma confiança absoluta na misericórdia de Deus e uma entrega
confiada nas mãos de Deus. É esta segunda atitude que somos convidados a
assumir.
• Este texto coloca, também, a
questão da imagem de Deus… Diz-nos que Deus não é um contabilista, uma simples
máquina de recompensas e de castigos, mas que é o Deus da bondade, do amor, da
misericórdia, sempre disposto a derramar sobre o homem a salvação (mesmo que o
homem não mereça) como puro dom. A única condição para “ser justificado” é
aceitar humildemente a oferta de salvação que Ele faz.
• A atitude de orgulho e de
auto-suficiência, a certeza de possuir qualidades e méritos em abundância,
acaba por gerar o desprezo pelos irmãos. Então, criam-se barreiras de separação
(de um lado os “bons”, de outro os “maus”), que provocam segregação e exclusão…
Isto acontece com alguma frequência nas nossas comunidades cristãs (e até em
muitas comunidades religiosas). Como entender isto, à luz da parábola que Jesus
hoje nos propõe?
• Nos últimos séculos os homens
desenvolveram, a par de uma consciência muito profunda da sua dignidade, uma
consciência muito viva das suas capacidades. Isto levou-os, com frequência, à
presunção da sua auto-suficiência… O desenvolvimento da tecnologia, da
medicina, da química, dos sistemas políticos convenceram o homem de que podia
prescindir de Deus pois, por si só, podia ser feliz. Onde nos tem conduzido
esta presunção? Podemos chegar à salvação, à felicidade plena, apenas pelos
nossos próprios meios?
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