A DIREÇÃO ESPIRITUAL?
O fim de toda a direção
espiritual é a Santidade.
A direção espiritual foi definida
como “ciência e arte de conduzir as pessoas à perfeição segundo a própria
vocação iluminada pelo Evangelho e pela Palavra da Igreja”. Portanto, conforme
a maioria dos autores, “a direção espiritual católica é a ajuda que um católico
oferece a outro católico para chegar à coerência de vida segundo os princípios
do Evangelho e os ensinamentos da Igreja Católica”.
A arte e a ciência da direção
espiritual significam que o diretor espiritual deve ser profundo conhecedor dos
caminhos que levam a Deus, fundamentados sobre a Palavra de Senhor, mas também
sobre as ciências humanas tão necessárias no conhecimento do ser humano.
A psicologia, a psicanálise e
outras ciências humanas podem substituir a direção espiritual?
É claro que não, porque nenhuma
ciência humana, sem o suporte da graça e da iluminação do Espírito Santo,
poderá desenvolver plenamente a potencialidade espiritual do ser humano.
O diretor espiritual, além de ser
um profissional, deve ser também “um mistagogo”, Isto é, alguém que possua
experiência espiritual e, com a palavra e o testemunho de vida, transmita esses
valores aos seus orientados. Não se
coloca a profundidade dos mistérios humanos nas mãos de qualquer pessoa que não
tenha um profundo respeito pelo trabalho que Deus fez no coração de alguém.
Quando e como fazer a direção
espiritual?
Uma direção espiritual que queira
produzir frutos e frutos abundantes não pode acontecer algumas vezes esporádicas,
rápidas e sem reflexão. É preciso que os encontros aconteçam com certa
freqüência e depois passem a tornar-se menos freqüentes, mas será sempre
necessário encontrar-se com o diretor espiritual para poder esclarecer,
aprofundar e conhecer melhor o que Deus espera de nós.
O diretor espiritual que acolhe
com cordialidade e afetividade sadia o dirigido, permite que ele manifeste o
que se passa no seu coração. Revelar a própria consciência nem sempre é fácil.
É preciso saber esperar o momento oportuno, quando a pessoa vai percebendo que
chegou a hora de se abrir totalmente.
A direção espiritual, verdadeira
e autêntica terapia interior, oferece ao dirigido a oportunidade de enfocar a
vida à Luz da Palavra de Deus e do modelo completo da existência humana que é
Jesus Cristo.
Deus é quem convoca a mudanças de vida.
O silêncio e a solidão são indispensáveis para contemplar a si mesmo e,
sem medos, olhar as próprias feridas sangrando. Somente vendo as gotas de
sangue cair pode-se perceber o tamanho da ferida e a cura necessária.
Há momentos de extrema solidão em
que o ser humano, por quanto materialista possa ser, levanta seus olhos para o
céu e invoca o nome a luz de alguém que ilumine. O ambiente da direção
espiritual é um espaço sagrado, uma tenda onde Deus e o ser humano se encontram
motivados pelo amor.
O ser humano, desejoso de ser
redimido e Deus desejoso de nos redimir de todas as nossas fragilidades.
Relacionamento entre diretor
espiritual e dirigido
Não é necessário um grande
esforço para compreender que a direção espiritual é um relacionamento humano
entre duas pessoas que tem uma meta em comum: chegar à plenitude da vida
interior em Cristo. Todo
relacionamento, quando é sadio, desemboca na amizade. Há muitos autores que
gostam de definir a direção espiritual como “amizade espiritual”, pois ajuda a
penetrar mais a fundo o encontro de duas pessoas que, tendo os mesmos
sentimentos e objetivos de vivência evangélica, se ajudam reciprocamente.
O relacionamento não pode ser
gélido, frio; deve, sim, apresentar todas as características de uma amizade
fraterna que abre os caminhos para uma integração da fé, da amizade e do ideal
de santidade.
Todas as características do
relacionamento humano de amizade são necessárias para uma boa direção
espiritual, sem dominar e sem impedir que o outro seja ele mesmo, e que possa
viver com plena liberdade o que Deus lhe pede. Diretor espiritual não é máquina
Xerox, mas sim amigo e companheiro que contempla com alegria o desenvolvimento
da pessoa nas várias dimensões humano-espirituais, se alegra pelo seu sucesso e
se entristece pelos seus fracassos.
Conteúdo da direção espiritual
A direção espiritual tem como
finalidade levar a pessoa à unidade harmoniosa de todo o ser. A vida inteira
deve ser espiritual. Na sequência
destacamos alguns pontos que fazem parte da
formação da direção espiritual:
-
Ajudar a pessoa a superar a dicotomia alma/corpo, levando-a a ver o
corpo como um sacramento do amor de Deus, pelo qual se realiza a verdadeira
experiência do amor de Deus e a experiência do amor humano.
-
Superar o egoísmo e colocar-se generosamente a serviço de Deus e dos
outros.
- Ajudar o dirigido a procurar
uma vivência integral da vida sacramental e não só de alguns sacramentos.
-
Ter uma terna e filial devoção a Nossa Senhora.
- Criar uma maior familiaridade
com a Palavra de Deus.
- Viver com autenticidade e
coerência o estado de vida.
- Ajudar a pessoa numa serena
iniciação de oração.
- Ajudar a pessoa no conhecimento
dos místicos.
-
Introduzir a pessoa na oração pessoal, comunitária e litúrgica,
compreendendo que a oração não é sentimento, mas fidelidade ao projeto de amor
a Deus.
-
Formar a pessoa para uma vida de ascese, de mortificação para que seja
mais solidária.
-
Exercitar um tipo de mortificação que leve ao autodomínio e controle de
sua paixões.
- Educar a o sentido da cruz.
- Assumir a própria fragilidade e
paixões.
- Acolher a cruz com alegria,
como bem aventurança.
- Levar a pessoa a assumir a sua
fé integrada na Igreja local e universal.
A direção espiritual deve fazer
crescer uma pessoa que assume Jesus Cristo, a Igreja e a vida concreta de cada
dia, que tem identidade cristã e social no ambiente em que vive, tornando-se
assim fermento de transformação.
Livro de esclarecimento : Sciadini,
Patrício, O que é, como se faz direção espiritual. São Paulo, Loyola, 2008.
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