30º
Domingo do Tempo Comum
27 de outubro de 2013
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“Para
alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros. Jesus
contou esta parábola” (Lc 18,9)
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Leituras:
Eclesiástico 35, 15b-17.2022a;
Salmo 33;
Segunda Carta de São Paulo a Timóteo 4,
6-8.16-18;
Lucas 18, 9-14.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta celebração vamos perceber que a justiça de Deus
encontra espaço no coração humilde e a fidelidade do Senhor vem ao encontro
daqueles que fazem sua súplica com fé, reconhecendo-se pecador. O
arrependimento sincero é um ato fundamental para sermos perdoados por Deus. Lembremos
hoje do dia Nacional da Juventude e rezemos por todos eles, para que possam ser
evangelizadores de outros jovens.
1. Situando-nos
brevemente
Neste domingo, continuamos
acompanhando Lucas, que nos fala sobre a oração. Hoje a insistência é sobre
“como orar”.
A parábola do fariseu e do
publicano, a última das parábolas próprias de Lucas, marca a centralidade da
celebração e da pregação deste domingo. Certamente o merece, mas convém
procurar que a assembléia penetre no sentido da parábola e não fique na
superficialidade de dizer que o fariseu é mau e o publicano é bom.
Pode ser perigosa uma interpretação
mal feita: se justificaria o pecado e se desestimularia a observância dos
preceitos sagrados, que são importantes, mas não bastam. A justificação por
meio do reconhecimento do próprio pecado e pela fé plena no amor de Deus é o
tema de fundo desta parábola.
Nesse domingo celebramos o Dia
Nacional da Juventude, que, desde 1985, acontece todos os anos no ultimo
domingo de outubro. A temática de “Juventude e Missão” deseja ajudar a
sociedade a olhar para a juventude, refletir e acompanhar suas propostas que
visam à transformação da realidade de morte em vida.
2.
Recordando a Palavra
A primeira leitura de hoje é tirada
do livro do Eclesiástico, escrito em torno do segundo século antes de Cristo.
Hoje, ela nos propõe afirmações sobre o poder da oração feita com humildade. O
texto apresenta a obra de Deus, comparando-a com a de um “juiz” (v.15): ele é
imparcial, não pode ser corrompido pelos ricos. Olha com carinho para os pobres
suplicantes que não tem nada para lhe retribuir. A oração agradável a Deus é a
oração da pessoa fiel, que adora a Deus com humildade e Constancia. Essa oração
realmente “penetra nas nuvens”.
É isso que canta o Salmo 33: “Este
pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu, livrou-o de suas angustias todas”. Deus
está perto do coração atribulado, confortando os de espírito abatido. Que bom
sabemos que, em nossas dores, dificuldades e problemas, Deus está conosco.
A segunda leitura, continuando a
perícope do domingo passado, é comumente chamada de “o testamento do Apostolo”.
Esta carta é o ultimo escrito de Paulo, já velho e prisioneiro. Ele se dirige a
Timóteo, pouco antes de ser condenado à morte. Paulo está ciente de seu fim
iminente. Num tom amargurado e muito íntimo, Paulo nos apresenta seu testamento
espiritual.
Neste contexto, ele encara, com
serenidade, sua morte e a aceita como um sacrifício que há de oferecer a Deus e
como um retorno à casa do Pai. Descreve sua vida com imagens tiradas de
práticas desportivas e militares. Ele, no entanto, não se sente um fracassado:
compara-se apenas com aquela libação (sacrifícios em honra da divindade por
ocasião da morte de alguém) de óleo, água ou vinho que, no Templo, eram
derramadas sobre as vítimas, nas oferendas diárias da manha e do entardecer.
Esta imagem serve para Paulo expressar que sua vida é uma oferenda, uma doação,
um devolver a Deus o que Ele lhe deu. Para ele, morrer é como uma partida ao
encontro definitivo e pleno com Cristo.
O Evangelho nos apresenta uma
parábola que é seqüência imediata daquela que ouvimos no ultimo domingo (da
viúva insistente e do juiz iníquo). Vai endereçada diretamente a uma classe de
pessoas: os autossuficientes.
O fariseu e o cobrador de impostos
“sobem ao Templo para orar”. Os dois têm fé, contudo, tem vida e mentalidade
diferentes. O fariseu é uma pessoa honesta e devota,, reta no agira e mestre na
oração. Ele reza “de pé”, gabando-se dos próprios méritos e condenando os
outros. Ele fazia coisas boas como o jejum (a lei obrigava apenas ao jejum
anual, ele o fazia duas vezes por semana), o dízimo, a oração, o cumprimento da
lei, o levar a serio a religião. O cobrador de impostos, ao contrário, é um
colaborador dos romanos, traidor da pátria, certamente um corrompido. Ele, no
então, reza à distancia, olhos baixos, batendo no peito. Depois de identificar
resumidamente esses dois personagens, Jesus faz seu juízo com uma linguagem
paulina, empregando o termo “justificado”: para Paulo, a justificação não
acontece devido às obras, mas pela fé. Assim, a situação inverte-se.
Essa crítica de Jesus é uma crítica
frontal ao povo de Deus ali onde ele se sente mais firme e seguro: em sua
relação com Deus. Nada do que o fariseu diz a Deus é mentira. Falta-lhe, porém,
a atitude fundamental: reconhecimento de sua pequenez diante de Deus.
3.
Atualizando a Palavra
Tanto o fariseu quanto o cobrador
de impostos eram pessoas de fé. Também para nós, hoje, o problema não é tanto o
contraste entre fé e falta de fé, mas entre modos diversos de colocá-la em
prática. Ninguém tolera que uma pessoa religiosa vida de forma errada. Todos
sentimos simpatia por uma pessoa de bem, independentemente de sua religião.
A oração do publicano torna-se um
modelo não só de oração, mas também da atitude de quem reza. Nossa oração deve
partir de uma atitude de humildade, reconhecendo que não podemos nos salvar a
nós mesmos. É igualmente isso que ouvimos na primeira leitura: a humildade é
indispensável para que a oração possa “atravessar as nuvens” e obter resultado.
A oração do Salmo se contrapõe aos soberbos que tem o coração atribulado; “o
Senhor está preto de quem tem o coração ferido”.
A salvação da pessoa humana somente
poderá vir de Cristo, o qual, embora sendo de natureza divina, humilhou-se a si
mesmo até à morte e morte de cruz, e, pó isso, foi elevado na glória. O cristão
só se pode gloriar da cruz. Foi assim que São Paulo entendeu, bem expresso no
final de sua vida: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o primeiro” (1Tm 1,15). Quando era jovem fariseu, não teria dito
palavras semelhantes, porém depois ele se converteu e experimentou, em si
mesmo, a obra poderosa do Senhor que o libertou do mal, ou seja, de sua orgulhosa
autossuficiência.
O centro de tudo é este: saber-se e
sentir- pecador e fraco. O farisaísmo está hoje presente no mundo cristão tanto
no contexto individual quando no comunitário. No contexto individual, devemos
confessar que, muitas vezes, educamos nossos cristãos no farisaísmo: damos as
eles as leis como norma fundamental de suas vidas. No contexto comunitário, o
farisaísmo se manifesta em grupo da Igreja que se crêem os bons, os
cumpridores, os fiéis.
Estes rezam para que os que não
pensam como ele se convertem, porque estão errados! Onde está radicado o mal do
farisaísmo? Na nossa visão de Deus, a quem vemos como um comerciante que vende
o céu em troca de obras humanas. Esta parábola prepara muito bem a teologia
paulina da justificação que Deus concede a quem não pode se justificar a si
mesmo. Esta justificação se obtém por meio da cruz de Cristo, e o Batismo é o
seu instrumento.
Aproximar-se de Deus consiste em
abandonar o próprio egoísmo para encontrar a felicidade em Deus. Os santos
sempre se consideravam pecadores: quanto mais perto da luz se está, mais se percebem
as manchas do pecado em nós. Quando se toma consciência do pecado, então, e
somente então, aparece Deus com a promessa da salvação.
“O Senhor está perto de quem tem o
coração ferido” (Sl 33), canta o salmista. Deus salva os que não têm como se
salvar: todos nós. Cristo, no evangelho, não louva a situação humana de pecado
do publicano, nem sua indigência moral, sua escassa prática religiosa. Louva,
isto sim, seu arrependimento, sua humildade, seu não julgamento dos demais.
Jesus também não condena o fariseu por seu religioso, por levar uma vida moral
digna, por fazer jejum e dar o dízimo. Critica sua soberba e o julgamento que
faz dos outros.
O Apóstolo Paulo frente aos que
querem se salvar sozinhos lembra: a lei escraviza. Paulo foi mestre em mostrar
que o cristianismo não é religião da lei. É a religião da liberdade em Cristo.
Por isso, ele testemunha que seu êxito de vida não se deve a ter sido um bom
observante da lei mosaica, mas deve ao fato, de Cristo ter estado ao seu lado e
dado forças na missão. A salvação cristã vem pela fé em Cristo. Não podemos nos
salvar, porque não merecemos a salvação. Participar da vida de Deus é graça,
dom que recebe quem tem um coração capaz de receber.
Recordamos algumas frases de três
santos católicos e de um grande líder indiano: “Muito mal suplica a Deus quem
nega aos outros o que pede para si” (São Pedro Crisólogo). “Muitos vão à igreja
e recitam milhares de formulas de oração, mas quando saem já não sabem o que
fizeram. Trabalharam com os lábios, mas não compreenderam o que diziam. Então
tu que não entendes a tua própria oração, como queres que Deus te ouça?” (São
João Crisóstomo). “Devo reduzir-me a zero. Enquanto um homem não se considera espontaneamente
o último, não há para ele salvação” (Mahatma Gandhi). “Só se sobe quando de
desce” (São Francisco de Sales).
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
“Dize-me com quem andas e te direi
quem és” ou “dize-me como rezas e te direi quem és”.
Paulo vê sua morte iminente como um
sacrifício oferecido a Deus. Na celebração eucarística, oferecemos nossa vida a
Deus para que também nós sejamos associados ao sacrifício redentor de Cristo.
Tanto o sacramento mais procurado:
a Eucaristia , como os menos valorizados: a unção dos Enfermos e a Penitência,
são momentos privilegiados de, como a atitude do publicano, reconhecer nossa
total dependência de Deus. Se nos fechamos em nossa autossuficiência, Deus não
tem como agir em nós, pois fazemos dele alguém dispensável.
A oração pós-comunhão deste domingo
diz assim: “Ó Deus, que os vossos sacramentos produzam em nós o que significam,
a fim de que um dia entremos em plena posse do mistério que agora celebramos”.
Que significa Eucaristia? Significa
“Ação de Graças”. Agradece quem percebe que o que tem e o que é não são méritos
seus, mas obra do amor de Deus em nós. A Eucaristia é a oração por excelência,
cujo centro é o louvor e ação de graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo.
Transformemos nossa vida numa oração contínua, trabalhando humildemente a
serviço do Reino, sem outra intenção e sem esperar outra “coroa” que não seja o
próprio Senhor.
Sempre que iniciamos uma celebração
eucarística, reconhecemos nossos pecados e professamos a misericórdia do Pai, para
sermos menos indignos de nos aproximarmos de sua mesa. A atitude do publicano,
que reconhece o pecado, é condição para se acercar da mesa do Senhor.
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