1. «Que vem a ser isto» (Mc 1,27)?!
Poderá ser também a nossa
pergunta de espanto e exclamação, depois de ouvirmos, ao vivo, Jesus no
Evangelho! De facto, ninguém fica indiferente à presença e à novidade de
Jesus. Jesus surpreende e provoca, não apenas pela Palavra que diz, mas
pelos gestos que realiza! O Evangelho pode dividir-se em duas cenas!
2.
Na primeira cena, registremos o comentário do evangelista:
«Jesus
começou a ensinar e todos se maravilhavam com a sua doutrina» (Mc 1,22).
Não se chega a saber, qual o tema, qual o assunto, qual o conteúdo, do
seu ensinamento. Pouco importa aqui… Pois Jesus surpreende, não tanto
pelo que ensina, mas pelo modo como ensina: «porque os ensinava com
autoridade e não como os escribas» (Mc 1,22).
O que está em causa, não é
a matéria de ensino; é a «impressão» que a pessoa de Jesus causa nos
seus interlocutores. A autoridade de que goza não é institucional, não
lhe vem da dignidade sacerdotal, não é uma autoridade jurídica! A sua
autoridade vem-lhe de «dentro», da «verdade de si mesmo» daquilo que Ele
é: ele é a Palavra, que se fez Carne. Ele é a Verdade, em Pessoa. Ele é
totalmente sincero e fiel. N’Ele não há desacordo entre o ser, o dizer e
o fazer. A sua autoridade vem-lhe, afinal, do testemunho da Verdade.
Ele diz e faz. A sua Palavra atua… e os seus gestos falam!
Eis,
nesta primeira cena, um desafio, sobretudo para os educadores, pais,
padres, catequistas e professores. Ficai cientes disto: A vossa
autoridade, em educação, passa mais pelo que viveis e fazeis, e não
tanto pelo que dizeis. Na tradição cristã, o testemunho faz parte
essencial do anúncio. O testemunho da vida é a forma simples e
espontânea de irradiar valores, é mesmo a credencial das palavras que
dizeis, do ensino que praticais. Educareis muito mais pela impressão,
pela marca indelével, que deixais nos alunos, nos filhos, pelo modo como
vos relacionais com eles, do que pelos conteúdos que lecionais ou pelos
«sermões» que lhes pregais.
3. «Vieste para nos perder»?
A
segunda cena pode chamar mais a atenção dos mais jovens! Gostava que
tomásseis, para vós as palavras daquele «homem, com um espírito impuro»
(Mc 1,23). Ele, ao sentir a proximidade de Jesus, e a força libertadora
da sua Palavra, reage furioso, com esta pergunta: «Que tens tu a ver
connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder» (Mc 1,24)? Olhai: não
representará este homem, cada um de nós?
O Homem, com o espírito
impuro, é a figura da pessoa, prisioneira dos seus instintos,
escravizada pelos seus vícios, fechada sobre si mesma, dominada pelas
trevas da ignorância, atada pelos seus muitos medos. É, por isso, uma
criatura isolada, cercada, incapaz de se abri e relacionar. Todavia,
aquele homem não resiste à presença e à proximidade de Jesus! Tem medo.
Medo que Jesus desarranje a sua vida, medo que Jesus ponha em causa o
seu lugar, medo de se comprometer com Jesus. «Sei quem tu és, o Santo de
Deus» (Mc 1,24). Ele bem vê a diferença. E admira Jesus. Ele sabe que
Jesus é o Messias, mas não quer que Jesus se meta com a sua vida: «que
tens tu que ver conosco, Jesus de Nazaré» (Mc 1,24)?
4. «Que tens tu que ver conosco, Jesus de Nazaré» (Mc 1,24)?
“Não será, caros jovens, caríssimos irmãos, que este é o medo de todos
nós? Não será que, bem lá no fundo do nosso coração, há este medo de nos
abrirmos totalmente a Cristo, medo de deixarmos entrar Cristo
totalmente dentro de nós? Medo de que Ele nos tire algo na nossa vida?
Não teremos, porventura, medo de renunciar a qualquer coisa de grande,
de único, que torna a vida assim tão bela? Alguns jovens temem, em seus
pensamentos: “se deixo Cristo entrar, não me arriscarei, a encontrar-me,
depois, na angústia e privado da liberdade”? Não, caros jovens! Quem
deixa entrar Cristo, não perde nada, nada – absolutamente nada daquilo
que torna a vida livre, bela e grande (cf. Bento XVI, Homilia para o
início do ministério de supremo pastor, 24 de Abril de 2005; citada na
Festa de Acolhimento dos Jovens em Colónia, 18 de Agosto de 2005)! Só
nesta amizade com Jesus, é que se abrem de par em par as portas da vida.
Só nesta amizade, é que se abrem realmente as grandes
potencialidades da condição humana. Só nesta amizade podemos,
experimentar aquilo que é belo e o que liberta”!
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