†
Deus e o mistério da nossa própria natureza
-Progressão: a peregrinação
John Main descreveu a prática da meditação como uma peregrinação em direcção às profundezas do nosso coração. Uma peregrinação é uma viagem que se efectua pelo poder do Espírito em direcção a um lugar sagrado. Podemos viajar sozinhos, mas nunca estamos sós. A solidão da meditação cura o nosso isolamento mais doloroso.
Será melhor encarar esta viagem como uma espiral ou um labirinto, do que como um trajecto linear de um lugar para outro. Eis porque a mandala constitui o símbolo universal do percurso espiritual. Às vezes pode-nos parecer que andamos às voltas por meandros intermináveis, mas ao fazê-lo, estamos a aproximarmo-nos cada vez mais do centro.
“Deus é como um círculo, cujo centro está em todo o lado e cuja circunferência não se encontra em lado nenhum” John Main
Jesus comparava o Espírito ao vento: “não podemos dizer de onde vem, nem para onde vai”. É efectivamente impossível medir o espiritual. Logo não temos que avaliar, nem medir a oração.
Jesus disse também que sabia de onde vinha e para onde ia. Trata-se da viagem do conhecimento de si mesmo. À medida que nos desprendemos do nosso EU centrado em nós mesmos, do nosso egoísmo, cresce o conhecimento sobre aquilo que somos verdadeiramente. O “EU verdadeiro ” é o que temos de mais precioso na vida, pois é aí que se situa o nosso ponto de encontro com Deus. Como toda a viagem, este percurso é composto por etapas; tratando-se de uma viagem espiritual, não as podemos avaliar.
1. A Conversão
Quando começamos a meditar, pode acontecer sentirmos um “primeiro fervor” de conversão. Então, esta disciplina até nos parece simples, deixando-nos repletos de entusiasmo como nos primeiros momentos de uma relação. É importante sentir esse entusiasmo, mas há que aprofundá-lo através do empenhamento.
2. A Subida
A viagem pode tornar-se árdua, mas ao aprendermos a perseverar, descobrimos os profundos mistérios de Deus e o mistério da nossa própria natureza. Neste processo ocorrerão momentos de turbulência, pois as emoções recalcadas e as memórias escondidas podem emergir na consciência. Mesmo que pareça negativo, este processo purifica e liberta. Nesses momentos o apoio de outras pessoas pode ajudar consideravelmente.
3. A Abertura
Noutras alturas, especialmente a seguir a uma fase prolongada de subida, sentimos que estamos à beira de romper com toda a resistência a um melhor conhecimento e a um amor profundo de Deus, de nós mesmos e dos outros. Sentiremos então uma paz e uma alegria profundas. A aceitação destas experiências e destes momentos, sem tentar controlá-los, repeti-los ou manipulá-los, é importante.
A graça, supostamente, é um dom. Mas um dom deixa de o ser quando o procuramos agarrar.
A grande qualidade que aprendemos a respeitar através desta viagem é a da pobreza.
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3)
Se aceitássemos o mantra como sendo o caminho para a pobreza, a viagem seria simples. No entanto, simplicidade não significa facilidade. A pobreza significa “desapegar-se”. O mantra ajuda-nos a viver o ensinamento de Jesus, de “renunciarmos a nós mesmos”.
Ao meditar, dia após dia, veremos que o mantra se enraíza, ele mesmo, no nosso coração, o que nos levará a viver o trabalho quotidiano e o repouso, com uma maior consciência da presença de Deus. As nossas vidas tornar-se-ão mais contemplativas.
Inicialmente, diremos o mantra numa corrente quase contínua de distrações. Depois deixaremos que o mantra ressoe em nós sentindo menos esforço e menos distracções.
Finalmente, escutaremos o mantra com todo o nosso coração, o que nos conduzirá, ao mesmo tempo, para lá das distracções.
Mas esses estádios são tão cíclicos como progressivos. O mais importante a reter quando pensamos em “progresso”, é que somos sempre, todos nós, “principiantes”.
A†Ω
Nenhum comentário:
Postar um comentário