É
preciso ter tempo para estarmos a sós com Deus
“Vinde
vós sozinhos à parte, a um lugar deserto, para descansar um pouco.”(Mc 6,30-34)
Ouvido
o relato dos discípulos, sem dar-lhes nenhum sinal de aprovação, Jesus tem uma
reação imediata: quer falar a sós com eles: “Vinde vós sozinhos à parte, a um
lugar deserto, para descansar um pouco.” Nesta frase tem um conteúdo teológico
profundo. “Vinde”/venham recorda o primeiro chamado ao seguimento(Mc 1,17); o lugar
deserto/despovoado alude à ruptura com os valores da sociedade (Mc 1,35.45); a
expressão à parte indica que Jesus pretende de novo sanar as incompreensões dos
discípulos(cf. Mc 4,34), porque muitas vezes os discípulos não captaram o
sentido das palavras de Jesus.
Neste
sentido o Evangelho de Marcos contém a pedagogia de Jesus. Entendemos por
pedagogia o processo de formação que permite às pessoas crescer em sua
consciência e liberdade, tornando-as autônomas e livres para tomar as melhores
decisões; o verbo descansar usa-se(em Is 14,3) para significar a libertação do
cativeiro de Babilônia realizada por Deus. Marcos alude a essa passagem para
indicar que Jesus quer libertá-los da ideologia que os domina, impedindo-lhes o
seguimento.
Precisamos
parar para tirar lição do convite de Jesus para descansar, este texto nos
mostra, na verdade, o ritmo da vida cristã.
A
vida cristã é um ir contínuo à presença de Deus da presença de homens e um sair
da presença de Deus para a presença de homens. Só na medida em que alguém
descobrir e viver a oração/vida espiritual poderá experimentar a obra de amor
como serviço de Deus. E na medida em que ele adorar Deus no serviço ao próximo
sentirá o desejo insaciável de ir à parte, a um lugar deserto para estar só com
o Cristo, só com Ele. Sem isto, a espiritualidade será trocada pelos espíritos
do mundo e suas ideologias.
Há
sempre dois perigos no ritmo da vida de cada cristão.
O
primeiro perigo é o perigo de atividade constante/sem parar.
Ninguém pode trabalhar sem descansar. E ninguém pode viver a vida cristã, se
ele não tiver tempo para estar com Deus. O grande perigo de nossa vida é que
não damos a Deus nenhuma oportunidade para ele falar para nós porque não
sabemos como ficar em silêncio e como aprender a parar nenhum minuto. Nós não
damos a Deus tempo para ele nos reabastecer com sua força porque não temos
tempo para esperá-lo e falar com ele. Temos que nos abrir ao que há de eterno
nas coisas. Se alguém não for despojado, pobre no espírito, terá,
inconscientemente, tendência a executar a obra que tem a fazer para a sua própria
satisfação e não para a glória de Deus. Será virtuoso não porque ama a vontade
de Deus, mas porque deseja admirar suas próprias virtudes ou obras.
Ele
esquece da fonte dessas virtudes que é Deus, como alguém que bebe a água e
esquece de cuidar da fonte, por isso, acaba não tendo mais a água para sobreviver.
Quanta carga pesada desta vida que temos que carregar, quando não tivermos
contato com Deus que é o Senhor de tudo de bom nesta vida. Santo Agostinho
dizia: “Em qualquer lugar para onde o homem se dirija se não se apoiar em Deus,
sempre encontrará dor”.
O
segundo perigo o grande desafio à nossa felicidade é o desafio do demais
de fazer que ser:
há coisas demais para fazer, distrações demais, barulho de mais. Achamos que
precisamos fazer mais, ir a mais lugares, querer e realizar mais coisas. Infelizmente
a Igreja nos ensinou e até exigiu isto de nós para que possamos dizer que somos
católicos cristãos e comprometidos temos
que fazer e não nos ocuparmos e ser. Enquanto
o dia continua tendo vinte e quatro horas, e o ano com os seus doze meses nós
nos preocupamos em fazer muito e esquecemos de trabalhar na construção do nosso
Ser. Ninguém pode querer moldar ou mudar o outro segundo meu modo de ver e
agir. Todos somos seres inacabados estamos em acabamento. Damos muito mais
importância as nossas funções que a construção de nosso ser. É às vezes bem
mais fácil construir uma igreja que construir um cristão morada de Deus.
Pe.
Emílio Carlos Mancini.
Nenhum comentário:
Postar um comentário