11º
DOMINGO DO TEMPO COMUM
12 de junho de 2016
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“Teus
pecados estão perdoados” – porque ele mostrou muito amor”
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Leituras: Segundo Livro de Samuel 12,
7-10.13;
Salmo 31 (32), 1-2.5.7.11 (R/ cf 5ad);
Carta de São Paulo aos Gálatas 2,
16.19-21;
Lucas 7, 36-8,3
COR
LITÚRGICA: VERDE
Nesta páscoa semanal de Jesus somos
convidados a entender que o perdão é uma experiência divina que se mede pelo
amor. Quanto mais se ama, mais se perdoa e quanto menos se ama, menos se
perdoa. Fazemos, hoje, a comunhão com a Páscoa de cristo que se realiza na vida
dos pecadores que buscam o perdão e se colocam a serviço dos pobres.
1. Situando-nos
Hoje a liturgia nos revela, mais uma vez, o rosto amoroso e
misericordioso de Deus, em Jesus. A compaixão de Deus que vê a pessoa acima do
pecado é experimentada por Davi, que merece o perdão de Deus, apesar de ter
sido infiel a Deus e a seu povo como rei. Pela pecadora, que tem com Jesus um
encontro de amor e perdão, de salvação. Por Paulo que, depois de alcançado por
Cristo, mistura sua vida com a de Jesus. Pelo salmista, que proclama a misericórdia
do Senhor, o qual perdoa e salva gratuitamente.
Deus nos ama e nos perdoa sempre. Tocados pela misericórdia
infinita do Senhor, reconhecemos nossas faltas e limites e, num diálogo
amoroso, podemos experimentar a salvação como dom gratuito. Unimo-nos hoje a
todos os namorados no seu dia. Que seu amor seja muito abençoado por Deus!
2. Recordando a Palavra
Jesus, no Evangelho, revela o dom gratuito do amor e perdão de
Deus a todas as pessoas. O relato anterior havia terminado com uma descrição de
Jesus como “amigo dos publicamos e dos pecadores!” (7,34). No texto de hoje, um
fariseu o convida para uma refeição. Jesus entra na casa do fariseu e senta-se
à mesa com ele.
Esse gesto simboliza participação, comunhão de vida com Jesus.
Os convidados tiravam as sandálias antes da refeição e reclinavam-se em
almofadas. O fariseu omite todas as atenções e a cordialidade devidas a um
convidado ilustre: lavar os pés, dar o ósculo ou beijo e ungir a cabeça.
Mas entra em cena uma mulher que realiza gestos extraordinários
de acolhimento e gratidão ao Senhor, dos quais se julgou dispensado o
anfitrião. A mulher, longe de se considerar perfeita e justa, reconhece-se
pecadora. E por isso ela experimenta a graça do perdão, do amor de Deus que
acolhe e salva gratuitamente, através das palavras e ações de Jesus Cristo.
Pela fé, a mulher alcança o perdão afetuoso do Senhor, que a salva (cf. 1,77).
A experiência da salvação transforma a vida em gestos solidários, em sentimento
de gratidão.
A atitude da mulher anônima, conduzida pela misericórdia do
Senhor, é um apelo de conversão para os que se sentem seguros de sua justiça.
Por meio de exemplos, tirados da vida cotidiana, Jesus ensina seus discípulos a
reconhecerem as fraquezas e a confiar na graça e salvação de Deus. A história
do credor (cf. 7,41-43) ilustra a ação misericordiosa de Deus naqueles que
procuram realizar seu projeto de amor e salvação.
Diante do amor infinito do Pai, que envia seu Filho ao mundo
para salvar, só resta ao ser humano amar com gratuidade. “Os muitos pecados que
ela cometeu estão perdoados pois ela mostrou muito amor” (7,47). Há profunda
ligação entre o perdão dos pecados e o amor generoso.
O Senhor, o Ungido, o Messias, o Filho de Deus revela a
misericórdia principalmente aos pecadores. A graça do perdão torna-se presente
na atividade de Jesus. “Tua fé te salvou. Vai em paz!” (7,50). A fé nasce da
escuta atenta da Palavra de Jesus e gera o perdão, que é salvação. Essa
experiência de transformação possibilita viver em plena comunhão de vida, que é
a paz em Deus.
A vivência individual e comunitária da fé capacita as pessoas a
amar gratuitamente; fortalece para enfrentar os desafios de uma vida
comprometida com o Evangelho de Cristo. Como a mulher anônima do Evangelho, os
que seguem o caminho de Jesus experimentam a graça da salvação, da libertação.
A força transformadora do amor de Deus, manifestada na prática
de Jesus, inspira a missão dos seguidores e seguidoras de Cristo. Jesus
anunciava a Boa-Nova do Reino de Deus, acompanhado dos Doze, certamente de
outros discípulos e de muitas outras mulheres (cf. 8, 1-3). Além, de Maria
Madalena, Joana e Susana, havia outras mulheres discípulas que agiam no anonimato,
como a do texto de hoje.
A experiência da cura e da libertação as compromete no
seguimento de Jesus. Elas tornam-se colaboradoras na obra da evangelização, no
crescimento da fé. Apesar do perigo, as mulheres permanecem com Jesus na hora
do sofrimento junto à cruz (cf. 23,49). Certamente, elas ajudaram também a
preparar o corpo de Jesus para a sepultura (cf. 23,55). Como testemunhas da
ressurreição de Jesus, anunciam aos Onze tudo o que haviam recebido dos
mensageiros de Deus (cf. 24, 9-11). A presença das mulheres foi, portanto,
fundamental no início das primeiras comunidades (cf. At 1,14).
A primeira leitura pertence ao segundo livro de Samuel. O
profeta Natã é enviado por Deus para denunciar o pecado de Davi, o rei que
tinha a missão de cuidar da vida do povo, estava abusando de seu poder,
desrespeitando o direito dos pequenos. Natã, fortalecido pela Palavra de Deus,
defende o direito, a vida dos que são oprimidos e injustiçados, como Urias.
A palavra profética denuncia as injustiças praticadas pelo rei
contra o povo. Ao ouvir a parábola, Davi indigna-se contra o rico que possuía
muito e mesmo assim foi roubar a única ovelha de um pobre coitado. Mas o
profeta conduz Davi a reconhecer que sua ação está reproduzindo gestos de
violência e até mortes. Por isso, Natã lhe diz: “Esse homem és tu!” (2Sm 12,7).
Natã enumera todos os benefícios concedidos a Davi. Mesmo assim,
o rei “despreza a palavra do Senhor” (cf. 2Sm 12,9), sua generosidade sem
limite. Ele comete adultério ao seduzir e engravidar Betsabeia, a mulher Urias,
oficial de seu exército. Além disso, comete homicídio ao ordenar ao general de
seu exército que colocasse Urias à frente da linha de batalha, no lugar mais
perigoso (cf. 11,14-17).
O pecado quebra a aliança da vida realizada com Deus e os
irmãos, causa situações de morte e deve ser reparado. A Palavra do Senhor,
dirigida através do profeta Natã ensina, corrige, conduz à prática da justiça.
Com o Salmo de hoje 31(32), proclamemos a misericórdia do
Senhor, que nos perdoa e nos salva gratuitamente. Deus guia no caminho da
justiça os que reconhecem seus pecados, suas fraquezas e confiam em seu amor
misericordioso.
A segunda leitura, tirada da Carta de São Paulo aos Gálatas, destaca
que Deus nos salva por meio da fé em Jesus Cristo. A fé abre nosso coração ao
amor gratuito e à salvação do Filho de Deus. Dependemos da graça e da misericórdia
de Deus para nos salvar, pois somos fracos, pecadores.
Pela fé em Jesus Cristo, somos justificados e libertados. Na
medida em que seguimos o projeto de fé e amor de Deus, vivido com fidelidade
por Jesus até o fim, fazemos a experiência da salvação. Paulo vive em
profundidade a comunhão com a vida e a missão de Cristo. Por isso, afirma: “Com
Cristo, eu fui pregado na cruz. Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim”
(2,20).
A fé nos faz agir como Cristo, motivados pelo amor solidário.
Pelo Batismo participamos da morte libertadora e da ressurreição gloriosa de
Cristo, tornando-nos novas criaturas.
3. Atualizando a Palavra
Somos chamados a acolher a salvação de Deus, que se manifesta a
nós amorosamente na Palavra, nas celebrações, na partilha do pão e dos dons, na
comunhão fraterna, nas ações solidárias. Em Cristo, fazemos a experiência da
misericórdia e do perdão de Deus. Ele está sempre pronto a acolher e perdoar.
Impelidos por sua compaixão, somos chamados a ser generosos como
a mulher anônima, expressando todo nosso amor e ternura através de gestos
solidários. Em cada encontro, em cada celebração fazemos a experiência da fé
que nos salva. Fortalecidos pela Palavra animadora de Cristo, o Filho de Deus:
“Vai em paz!” , assumimos o compromisso de viver o amor na gratuidade.
“Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Esse Deus, que ama o ser humano com
igualdade, toma a iniciativa de fazer aliança (cf. Gn 17). Comprometido, Ele vê
o sofrimento do povo, ouve o grito de aflição diante dos opressores, o liberta
e o conduz à terra prometida (cf. Ex 3,7-8). Ao longo da história, Deus envia
profetas, como Natã, para comunicar sua palavra e defender o direito e a
justiça das pessoas oprimidas.
Quando chega a plenitude dos tempos, Deus envia seu Filho,
nascido de uma mulher (cf. Gl 4,4), ungido pelo Espírito Santo para evangelizar
os pobres, curar os contritos de coração, como médico corporal e espiritual
(cf. Is 61,2; Lc 4,18), como “mediador entre Deus e os homens” (1Tm 2,5).
Jesus é a revelação do amor do Pai. Ele manifesta o amor
gratuito de Deus até as últimas consequências. Assim, Jesus vence o pecado e a
morte, tornando-se instrumento de nossa salvação. Em Cristo “ocorreu a perfeita
satisfação de nossa reconciliação e nos foi comunicada a plenitude do culto
divino”.
Esta obra da redenção humana, iniciada com tantas ações de Deus
relatadas no Antigo Testamento, foi completada por Jesus, principalmente por
seu mistério pascal (SC, n.5). Por este mistério, Cristo, “morrendo, destruiu a
nossa morte, e, ressuscitando, recuperou a nossa vida” (Missal Romano, Prefácio
da Páscoa).
Vivemos numa sociedade pecadora, que infelizmente perdeu o
sentido da ética, da verdade, da justiça. Somos parte desta sociedade, portanto,
ao mesmo tempo em que somos causadores do pecado, podemos também ser
responsáveis pela mudança. O exemplo concreto de Jesus Cristo, na humildade de
sua encarnação, na entrega através de sua paixão e morte, na pobreza e
materialidade de sua eucaristia, nos enche da força, do vigor, da capacidade de
seu amor e perdão.
Este amor e perdão devem inspirar nosso lutar e sofrer pela
verdade, pela justiça, enfim, pelo Reino. Nosso amor a Jesus deve ser
concretizado no acolhimento aos irmãos, sem preconceitos, especialmente os mais
marginalizados e desprotegidos, como as mulheres, as crianças, os idosos e os
pobres.
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
As ações litúrgicas, nas quais Cristo se faz presente, são
momentos privilegiados para fazermos a experiência da salvação. À medida que
nos reunimos para celebrar o mistério pascal: “lendo ‘tudo quanto a Ele se
referia em todas as Escrituras’ (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia, na qual
‘se torna novamente presente a vitória e o triunfo de Sua morte’ (...)”
(Ibidem, n.6), somos tocados, atingidos pelo mistério de Cristo.
O Ritual da Penitencia diz o seguinte: “No sacrifício da missa a
paixão de Cristo se faz presente e a Igreja oferece de novo a Deus, para a
salvação de todo o mundo, o corpo, que é entregue por nós, e o sangue, que é
derramado para remissão dos pecados. Na Eucaristia, Cristo está presente e se
oferece como ‘vítima de nossa reconciliação’ e para que ‘sejamos reunidos num
só corpo’ pelo seu Espírito Santo” (Introdução n.2).
Iniciamos a celebração colocando toda a nossa confiança no
Senhor: “Ouvi, Senhor, a voz do meu apelo: tende compaixão de mim e atendei-me;
vós sois meu protetor: não me deixeis; não me abandoneis, ó Deus meu Salvador!”
(Antífona de Entrada). Neste domingo, somos convidados a fazer, n’Ele e com
Ele, a experiência da afeição e do perdão, reunindo-nos como irmãos e irmãs,
escutando sua Palavra e celebrando sua entrega na Eucaristia, corpo entregue e
sangue derramado para a remissão dos pecados.
Deus oferece seu perdão, sua bondade infinita, como ouvimos na
Palavra proclamada. De nossa parte é preciso, diante do amor infinito de Deus,
reconhecer nossas falhas e pecados, como diz o salmista: “Eu confessei, afinal,
meu pecado, e perdoastes, Senhor, minha falta”.
Toda ação eucarística é uma experiência da misericórdia de Deus.
O prefácio da Oração Eucarística sobre Reconciliação I nos ajuda a rezar a
ternura e a bondade de Deus, que nunca cansa de perdoar: “Na verdade, é justo e
bom agradar-vos, Deus Pai, porque constantemente nos chamais a viver na
felicidade completa. Vós, Deus de ternura e de bondade, nunca cansais de
perdoar. Ofereceis vosso perdão a todos convidando os pecadores a entregar-se
confiantes à vossa misericórdia. Jamais nos rejeitastes quando quebramos a vossa
aliança, mas, por Jesus, vosso Filho e nosso irmão, criastes com a família
humana novo laço de amizade, tão estreito e forte, que nada poderá romper.
Concedeis agora à vossa Igreja, para que se volte para vós. Fazei que, sempre
mais dócil ao Espírito Santo, se coloque ao serviço de todos”. Repletos da
misericórdia do Senhor, sejamos no mundo sinais de seu amor.
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