Virtudes e dons do Espírito Santo
Virtude é o hábito do bem, isto é, disposição
estável para agir bem.
Opõe-se ao vício - que é o hábito
do mal.
Virtudes naturais são adquiridas
pelo exercício e aperfeiçoamento de dons naturais. Desenvolvem-se pelo esforço
da vontade, agindo sobre a aptidão específica. Por exemplo, a virtude de um bom
pintor.
Virtudes sobrenaturais são as
que, pela graça santificante, recebemos de Deus, tendo por fim nossa eterna
salvação. Não dependem de nosso esforço - ao nos dar a graça, Deus as infunde
em nossa alma. Devemos, porém, desenvolvê-las.
Virtudes teologais são infusas
(ou sobrenaturais). Vêm de Deus e nele têm seu objeto imediato. São a Fé, a
Esperança e a Caridade. Recebemo-las com a graça do Batismo, e, em maior abundância,
com a da Confirmação.
Virtudes morais são diretamente
ligadas aos costumes - ligam-se a Deus, de modo indireto. Podem ser naturais,
isto é, que se alcançam por meios naturais, ou sobrenaturais, pelo efeito da
graça.
Dentre essas virtudes, destacam-se
a Prudência, Justiça, Força e Temperança. Todas as outras virtudes morais
derivam-se dessas quatro. Sem a prática dessa virtudes ninguém pode entrar na
vida de perfeição". Recebidas no Batismo, são infusas (ou sobrenaturais) -
recebemo-las com a graça santificante.
Fé
“Ter fé numa coisa, é aderir a
ela, por causa da afirmação de outrem, sem podermos conferir pessoalmente”. Se
a afirmação é de nossos semelhantes, nossa fé é humana. Se a afirmação é de
Deus, trata-se de fé divina.
É praticamente impossível viver
sem fé. Não existe quem só creia no que pode conferir. Acreditamos em bulas de
remédios e em tabuletas de ônibus. Esta fé é humana - e dela precisamos para
viver como homens.
Para vivermos como filhos de
Deus, precisamos da fé divina, da Fé, virtude teologal que nos leva a crer na
palavra de Deus, no que o Verbo revelou e a Igreja ensina. Como virtude
teologal, seu objetivo imediato é Deus.
A Fé - Virtude teologal é infusa
(é recebida no Batismo), sobrenatural em seu princípio e seu fim (Deus).
"Não é uma busca, mas uma posse". "É um encontro da alma com a
Verdade de Deus". "Deus nos capacita a crer em Deus - não círculo
vicioso: é circulação de amor".
Esperança
No sentido amplo, é a expectativa
de um bem que se deseja. Em sentido restrito, aqui empregado, é virtude
sobrenatural que nos dá firme confiança para alcançarmos a felicidade eterna e
obtermos os meios de consegui-la. Seu princípio é a graça e Deus é o seu fim.
Faz-nos passar pelo mundo "como se não fôssemos do mundo" - sem nos
prender a ele.
O demasiado apego a coisas
mundanas, a sofreguidão na busca de prazeres, a busca de soluções unicamente
materiais para todos os problemas - tudo isso são sinais de desespero. A
Esperança - virtude cristã - leva-nos a "passar no mundo, sem nos prender
a ele; a pisar de leve, para não se prender no lodo; a possuir como se não
possuísse. Não se trata pois, de esperar nos homens, mas de esperar em Deus e
com Deus.
Caridade
É a maior das virtudes. (Leia-se
a 1º. Epístola de S. Paulo aos Coríntios, cap. 13). Romperá as portas da
eternidade e para sempre viverá. No Céu, a Fé será substituída pela visão de
Deus; a Esperança, pela sua posse - mas o Amor viverá eternamente.
É a virtude sobrenatural que nos
faz amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, pelo
amor de Deus. Tem em Deus seu objetivo e seu fim principal. Por causa desse
amor a Deus, leva-nos a amar o próximo como a nós mesmos. Assim, aí,
encontra-se uma ordem no amor: Deus, acima de tudo, em primeiro lugar; depois,
nós mesmos e, em seguida, o próximo. Sim, antes de nos perguntar pelo que
fizemos dos outros ou com os outros, Deus nos perguntará pelo que fizemos dos
dons que Ele nos deu, o que fizemos de nós mesmos.
Antes de sermos responsáveis
pelos outros, cada um é responsável pela própria alma - e é nesse sentido que o
amor a si mesmo vem antes do amor do próximo. Trata-se do bom amor de si mesmo,
relacionado com nossa alma imortal e seu destino; amor de si mesmo, pelo que
nós somos principalmente: filhos de Deus, ao Céu destinados.
Não se trata, pois, de egoísmo ou
amor-próprio, que, no sentido mais empregado, é o mau amor de si mesmo, por
motivos secundários, desprovidos de real importância (por causa de beleza,
inteligência, cultura, etc.)
Em terceiro lugar, vem o amor ao
próximo. Este deve ser amado por amor a Deus e em Deus - e, também, pelo que
possui de mais importante: sua alma imortal, com imagem e semelhança divina.
Este é o verdadeiro amor ao próximo que, acima de nacionalidade, posição
social, cor da pele, etc, abrange todos os homens. É o amor verdadeiro,
centelha do amor de Deus. É a verdadeira Caridade, a que levou S. João
Gualberto a amar seu inimigo e S. Francisco de Assis a beijar um leproso.
Leva-nos a imitar o Mestre que nos disse e nos mostrou que Deus é Amor.
Prudência
É a virtude que nos faz conhecer
e praticar, oportunamente, o que é bem. A Prudência sabe escolher meios,
ajeitá-los ao fim que pretende. Aproveita a hora propícia, o lugar acertado.
Não dá passos errados. Nisso tudo, é virtude moral natural.
Tornar-se-á sobrenatural quando,
ainda fazendo isso mesmo, estiver iluminada pelo brilho da fé, auxiliada pelo
concurso da graça, e referir tudo à meta suprema da eterna salvação. No Batismo
a recebemos como virtude infusa - é fruto da graça recebida. Prudência não tem,
pois, o sentido vulgar e mesquinho que, às vezes, lhe emprestam. É a virtude do
reto agir. É racional e honesta. Justamente, é considerada como a "rainha
das virtudes morais".
Encontram-se, na Prudência, três
elementos:
Reflexão - O homem prudente pensa
antes de agir - e o cristão, além disso, reza. Calcula os prós e contras,
considera ensinamentos da experiência (própria e alheia).
Determinação - O homem prudente,
depois de pensar, toma uma decisão. (As virtudes são correlatas. Aqui, a força ajuda).
Realização - O homem ao examinar
bem um assunto e decidir-se sobre ele. Só se torna um ato de Prudência quando
realizado. (Também, aqui, entra o auxílio da força.)
Contra a Prudência, pode-se pecar
por insuficiência ou por excesso. No primeiro caso, há irreflexão (quando não
se pensa bem) ou descuido (quando não são empregados meios devidos para a
realização - tornando-a imprudente).
No segundo caso, encontra-se a
astúcia - "mascara da prudência", usada para fins repreensíveis e a
prudência do século que, absorvida por interesses materiais, esquece os
objetivos espirituais. Liga-se a um demasiado zelo pelo futuro (temporal) e
conseqüente descuido pela vida eterna.
Em nossos dias, sob diversos
aspectos, é a deturpação da Prudência que mais encontramos - apesar do aviso de
Cristo: "Procurai, primeiro, o reino de Deus e sua justiça, que tudo o
mais vos será dado de acréscimo" (Mt 6, 25-33).
Justiça
É a virtude que nos leva a dar, a
cada um, o que lhe é devido. Abrange todas as nossas obrigações para com Deus e
para com o próximo, isto é, a religião inteira. Por isso é que, no Antigo
Testamento, os homens virtuosos são chamados de homens "justos". Não
ignoravam os judeus que a justiça importa em fidelidade a todos os preceitos da
Lei.
Também Nosso Senhor tinha em mira
este mesmo sentido, quando proclamou "bem –aventurados os que têm fome e
sede de justiça, e por causa dela sofrem perseguições" (Mt 5, 6-10), e
quando insta, junto dos discípulos, para que se preocupem, antes de tudo, com o
"reino de Deus e sua justiça" (Mt 6, 33).
Força
É a virtude que nos dá energia
diante dos obstáculos da vida e dos que se encontram dentro de nós mesmos.
Aliás, para enfrentar bem aqueles é preciso, primeiro, dominar estes. O
orgulho, a cobiça, a sensualidade e outras inclinações congêneres devem ser
enfrentados com fortaleza – isso nos tornará mais aptos, mais fortes diante das
dificuldades externas da vida.
Temperança
É a virtude que refreia o desejo
dos gozos sensíveis, especialmente do gosto e tato. Leva-nos a usar os bens
temporais na medida em que servem de meio para atingir os bens eternos. O
prazer sensível não é mal, em si – o mal está na sua procura desordenada e
desvinculada do nosso verdadeiro fim.
Opõem-se à Temperança a gula e a
impureza – que embrutecem, degradam, atingido o homem na alma e no corpo. A
virtude da Temperança nos faz sóbrios e castos. Pelo exercício do autocontrole,
leva-nos à contenção do orgulho – princípio de todo pecado – e, portanto, à
prática da humildade – virtude fundamental, que a ele se opõe.
As virtudes teologais nos levam
diretamente a Deus, As morais, indiretamente, também nos levam a Ele.
Por Seus
Dons, o Espírito Santo nos ajuda neste caminho – caminho que conduz ao Céu.
Estes 7 dons são mencionados por
Isaías (Is 11, 3), referindo-se a Cristo – que os tem em plenitude. É pelos
méritos de Cristo que os recebemos do Espírito Santo.
Conheça o sentido de cada Dom:
Sabedoria
É o que nos dá o gosto das coisas
divinas. Sábio é o que bem hierarquiza valores. O que coloca em primeiro lugar
o que realmente está em primeiro lugar. Liga-se à maior de todas as virtudes –
a Caridade – pois que a grande Sabedoria está no Amor.
Conselho
É o Dom do discernimento. Em
situações difíceis. Faz-nos reconhecer e encontrar a vontade de Deus. Lembra
juízo e bom senso. Liga-se à Prudência.
Inteligência
É o que nos leva a perceber a
Verdade onde ela se encarta. Embora sem desvendá-los, ajuda-nos a aceitar os
mistérios da Religião. É como que o instinto da Verdade. É o Dom que nos faz
convictos. Liga-se à Fé.
Força
Dá-nos energia para superar
obstáculos a fim de cumprir a vontade de Deus. É o Dom que Maria teve no mais
alto grau quando, de pé, no Calvário, assistiu à morte de seu Filho. Foi o Dom
de S. João Nepomuceno, preso e torturado com ferro em brasa, por não revelar um
segredo de confissão. É ligado à virtude do mesmo nome.
Ciência
Leva-nos a compreender a
Religião, sem estudos especiais. O santo Cura D’ars a possuiu em alto grau. S.
Tomás de Aquino afirmava Ter aprendido mias aos pés do altar, que nos livros.
Não se trata de ciência humana. Trata-se, ao contrário, da noção da indigência
do ser criado. Liga-se ao dom das Lágrimas (porque nos vemos como somos) e a
virtude da Esperança (porque conhecemos os efeitos da graça de Deus em nós,
capaz de nos aperfeiçoar e nos fazer conquistar o Céu).
Piedade
Dá-nos uma atitude filial diante
de Deus. Leva-nos a desejar sempre o que for mais perfeito, como o mais justo
diante do Pai. Liga-se à Justiça.
Temor de Deus
É o temor de desagradar ao Bem
Supremo. Teme-se por amor, e este amor nos faz cautelosos, e nos dá equilíbrio.
Liga-se a Temperança e, portanto, à Humildade – virtude básica para a Vida
cristã, justificando, assim, a sua definição na Sagrada Escritura: "O
temor de Deus é o princípio da Sabedoria".
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