28º DOMINGO TEMPO COMUM
– ANO B
14 DE OUTUBRO DE 2012
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“Vende tudo o
que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu”
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Leituras:
Sabedoria 7, 7-11;
Salmo 89 (90), 12-17;
Hebreus 4, 12-13;
Marcos 10, 17-30.
COR LITÚRGICA: Verde
Nesta celebração pascal, somos convidados a refletir
sobre as escolhas que fazemos. Recorda-nos que nem sempre o que reluz é ouro e
que é preciso, por vezes, renunciarmos a certos valores perecíveis, a fim de
adquirirmos os valores da vida verdadeira e eterna. Que o Senhor nos ajude a
compreender isso, para trilharmos o caminho do Reino.
1. Situando-nos
brevemente
Estamos no segundo final de semana do mês de outubro,
mês dedicado às missões e ao Rosário. Vivemos também o período de eleições, em
nosso país. Os cristãos são evangelicamente chamados a serem conscientes de seu
voto em vista do bem comum.
A leitura do evangelho deste domingo traz presente a
dimensão vocacional.
Quem pode ser salvo? Perguntam, com espanto, os
discípulos. Todos aqueles que aderem a Deus e a seu Reino, considerando-o como
sua verdadeira e maior riqueza. “Em comparação com ele (a sabedoria a que se
refere a 1ª Leitura), julguei sem valor a riqueza” (cf. Sb 7,8), pois “uma
riqueza incalculável está nas suas mãos” (v.11b).
Na segunda leitura, continuamos a ouvir a Carta aos
Hebreus, iniciada no domingo passado, a qual se estenderá até a Solenidade de
Cristo Rei do Universo. Neste domingo, refletimos sobre a profundidade da
Palavra.
Embora não se esgote nisso, três idéias podem nortear a
reflexão deste domingo: 1º o seguimento de Jesus (quer na vocação de todo
batizado, quer na vocação especifica) requer desapego e disponibilidade (isto
é, colocá-lo em primeiro lugar); 2º sábio é aquele que prefere a sabedoria de
Deus em lugar de todos os bens e promessas humanas; 3º a conseqüência do
desprendimento dos bens é a partilha.
2. Recordando a Palavra
O livro da Sabedoria, embora seja
atribuído a Salomão, sugere a autoria de um judeu em torno do ano 50 a. C. Ele
é dirigido aos judeus que, influenciados pela cultura helenística, acabam
colocando em risco sua fé, mas também é dirigido aos pagãos, afirmando a uns e
outros que só o Deus de Israel garante a verdadeira felicidade.
A sabedoria autêntica (tão
preocupada pela filosofia grega) é a fé no Deus único de Israel e a fidelidade
à sua Lei. Assim, se entende a exaltação da Sabedoria de Deus perante os valores
da cultura helenística da época: “cetros e tronos, saúde e beleza” (cf. vv
8,10)
No evangelho, o convite de Jesus a
“vender todos os bens, dar aos pobres e segui-lo” (v.21) pode ser referência à
primeira leitura, em que se sugere a verdadeira riqueza, diante da qual “a
prata será como lama e todo outro do mundo comum um punhado de areia” (v.9),
como sendo a Sabedoria (Pode-se entender a Sabedoria como Sabedoria
personificada, artífice de todas as coisas (Sb 7,21) como o Verbo de Deus em Jo
1,3 e também em Sb 9,9). Assim, o seguir Jesus Cristo está ligado à atitude do
sábio que prefere a Sabedoria de Deus (isto é, seguir Jesus Cristo) antes de
toda riqueza.
A renúncia exigida pelo evangelho
de hoje não se refere a uma renúncia fundamentalista dos bens temporais, mas a
colocá-los em seu devido lugar, dando-lhes o valor correto e não exacerbado. A
Sabedoria de Deus é o dom que permite gozar dos bens terrenos, sem obsessão nem
cobiça, mas com maturidade e equilíbrio (cf. v11): “todos os bens me vieram com
ela, pois uma riqueza incalculável está em suas mãos”.
A Carta aos Hebreus é um sermão
destinado às comunidades cristãs que se deixaram cair na monotonia e começaram
a ceder diante de doutrinas estranhas ao ensinamento dos Apóstolos. Por isso,
esse discurso quer motivar os cristãos a viver uma fé mais coerente e
empenhada, a fazerem de suas vidas um contínuo sacrifício de louvor a exemplo
de Cristo, sumo sacerdote, que é o mediador entre Deus e os homens. Narra a
profundidade da Palavra de Deus que “julga os pensamentos e as intenções do
coração” (cf. v.12). É a escuta e a acolhida dessa Palavra que tornam o homem
verdadeiro sábio.
No evangelho, vemos que há uma
busca ansiosa pela vida eterna da parte do rico, ilustrada por sua forma de vir
ao encontro de Jesus: “correndo e ajoelhando-se diante dele” (v.17) e por seu
comportamento exemplar: “tudo isso tenho observado desde minha juventude”
(v.20).
Jesus diante da pergunta, responde
o que seria corriqueiro: observar os mandamentos. Lança, porém, um desafio que
toca a raiz das opções e dos valores humanos: fita-o com amor e pede a opção
radical pelo Reino de Deus.
Este homem, no entanto, mesmo
fazendo uma busca sincera de Deus, não se desapegou de suas seguranças humanas
e não pode assumir o Reino como valor fundamental e radical. Em sua vida, os
bens eram ainda mais importantes que o Reino. O Reino de Deus é incompatível
com o apego às coisas terrenas – “vende tudo o que tens”, com o egoísmo – “dá
aos pobres” – e exige o seguimento de Jesus – “segue-me”.
Na segunda parte do texto
(vv.28-30), a renúncia pelos bens terrenos não é vazia, mas se trata de uma
escolha por um bem maior. Os discípulos não deixaram tudo, por amarem o
sofrimento e a pobreza, mas por terem optado por algo maior. Pode-se, assim, aludir
à dimensão vocacional dos textos de hoje.
3. Atualizando a
Palavra
“Que se deve fazer para receber a vida eterna?”. Eis uma
pergunta que cada um de nós também faz, em seu coração, com estas ou outras
palavras semelhantes.
Jesus responde que, inicialmente, se deve viver conforme
os mandamentos, porém o simples cumprimento das obrigações não é suficiente, é
exigida do coração uma opção que assuma o Reino Deus e o seguimento como maior
riqueza da vida; exatamente como ilustra a parábola do tesouro encontrado no campo
(cf. Mt 13, 44-46).
Cabe-nos o questionamento a respeito da importância que
atribuímos ao Reino e ao seguimento. A “fórmula” para calcularmos essa
importância é através do desapego. O que seriamos capazes de renunciar, em
função do Reino?
O ensinamento de Jesus aqui não é tanto sobre o desprezo
dos bens, como se eles não tivessem valor em si mesmo, mas o de que o Reino
deve ser colocado em primeiro lugar por todo aquele que quiser ganhar a vida
eterna.
Quais as coisas que se antepõem ao Reino, na sociedade
de hoje? Quais delas se fazem presentes em minha vida pessoal e se antepõem ao
Reino?
Na dimensão da partilha, destacada nos textos deste
domingo vê-se a certeza de que o desapego, em nome do seguimento de Jesus não é
em vão, mas produz “cem vezes mais” (cf. v.30). A partilha garante “um tesouro
no céu” (cf. v.21).
Diante dessa Palavra, nos confrontamos com o egoísmo e
materialismo do mundo de hoje, misturados ao individualismo, ao acúmulo de bens
e ao vazio da laicização (um mundo que nega o valor, como palavra digna de
crédito, da religião institucionalizada).
Cabe aos cristãos de hoje reassumirem, com coragem, a
prioridade do Reino sobre todos os desvalores egoístas e apegados do mundo
atual. Cabe-lhes testemunhar a Sabedoria da Palavra de Deus que é “viva, eficaz
e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (cf. Hb 4,12). Seremos
perseguidos (cf. Mc 10,30), mas receberemos a vida eterna e cem vezes mais
felicidade do que a recebida na lógica do mundo do egoísmo e do apego.
4. Ligando a Palavra com
a Ação Eucarística
A oração do dia deste domingo nos convida a “estarmos
sempre atentos ao bem que devemos fazer”. De fato, além do bem praticado em
consequência à obediência e da prática dos mandamentos (cf. Mc 10, 19-20), é
preciso partilhar, desapegar-se, renunciar ao egoísmo, “dar aos pobres” (v.21).
Reunimo-nos para celebrar a Eucaristia, porque o
Espírito Santo colocou em nosso coração a esperança. No meio das provações do
caminho, a Palavra e a partilha suscitam, em nós, um novo sentido de viver a fé
e a missão. Neste mundo sem coração, há muitos “homens ricos” que, angustiados
e em busca de novo sentido à vida, acorrem para a celebração na esperança de
uma palavra consoladora e criadora. “Manifestai a vossa obra a vossos servos e
a seus filhos revelai a vossa glória”, rezamos.
A comunidade se reúne para celebrar a Eucaristia
convocada pela Palavra de Deus. Alimentada pela escuta da Palavra e pela
participação na ceia do Senhor, retoma o caminho da missão: anunciar a Boa-Nova
para homens e mulheres de todas as condições, culturas e nações.
Pela participação na celebração eucarística, memorial da
Páscoa, o Senhor nos acolhe, transfigura, salva e nos envia a comunicar a todos
as razões de nossa fé e de nossa esperança. A missão visa realizar, no mundo, o
projeto de Deus, em virtude do qual toda semente de verdade e de graça presente
entre os povos, longe de se perder, é purificada e restituída a seu autor, isto
é, a Cristo (cf. AG, n.9).
Celebrar a Eucaristia pressupõe uma atitude de querer
partilhar, solidariamente, tempo, esforço, bens, conhecimentos, para fazer
avançar o projeto do Reino. A partilha solidária nos conduz a celebrar
autenticamente a Eucaristia. Esta, bem celebrada e vivida, nos impulsiona à
compaixão e à solidariedade.
Retirada do Salmo 33,11, a antífona de comunhão reflete:
“Os ricos empobrecem, passam fome, mas aos que buscam o Senhor, não falta
nada”. Em conformidade ao tema que reflete a Palavra deste domingo, as riquezas
do mundo acabam, mas aquele que possue a Deus como sua riqueza verdadeira, seu
tesouro escondido, não falta nada.
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