29º DOMINGO TEMPO COMUM
– ANO B
21 DE OUTUBRO DE 2012
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“Entre vós
não deve ser assim”
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Leituras:
Isaías 53, 2a.3a.10-11;
Salmo 32 (33);
Hebreus 4, 14-16;
Marcos 10, 35-45.
COR LITÚRGICA: Verde
Ser discípulo de Jesus é diferente da lógica deste mundo
e do poder político, que só pensam em si mesmos não nos outros. Ser discípulo
de Cristo é colocar-se a serviço dos outros, principalmente dos mais
necessitados. É pelo serviço em favor da vida que o cristão realiza fielmente a
vontade do Senhor. Lembramos também o "Dia Mundial das Missões e da Obra
Pontifícia da Infância Missionária". Como cristãos, somos chamados a uma
ação missionária no estilo de Jesus, anunciando o Evangelho como servos, numa
atitude de despojamento e simplicidade e dando testemunho da nova maneira de
viver que combina com o projeto do Reino.
Entraremos com a cruz e as fitas coloridas que lembram
os nossos continentes: amarela= Ásia; azul= Oceania; vermelha= América; branca=
Europa; verde= África.
1. Situando-nos
brevemente
Estamos no penúltimo domingo de outubro, Dia Mundial das
Missões, da Obra Pontifica da Infância Missionária, quando fazemos a coleta
para as missões. É importante relembrar a participação e o compromisso
missionário de todos os membros da Igreja. “Na Igreja de Cristo, todo batizado
é missionário”. Em conformidade com o lema Aparecida, todo discípulos é
necessariamente missionário: “discípulos missionários em Jesus Cristo, para que
nele nossos povos tenham vida”.
Vamos nos aproximando do DNJ (Dia Nacional da
Juventude), uma oportunidade para refletir sobre o envolvimento com a JMJ 2013
(Jornada Mundial da Juventude), no Rio de Janeiro, e com seus preparativos,
através das pré-jornadas, sob encargo de cada Diocese.
Na Liturgia deste 29º domingo, vemos novamente um
anúncio da Paixão e celebramos o verdadeiro significado do poder e do reinado
de Cristo, que se traduz em serviço. Jesus inverte a lógica humana e explicita a
lógica de Deus, pela qual os últimos são os primeiros; os que se elevam são
humilhados; quem se humilha é exaltado; os que querem ser grandes devem se
tornar servidores de todos.
2. Recordando a
Palavra
A primeira leitura nos apresenta
uma parte do texto sobre o Servo de Javé. O texto completo, talvez explicitasse
melhor a dimensão de seu exemplo de serviço. Contrasta a concepção de êxito
humano com aquilo que Deus considera como êxito: por meio do sofrimento e por
assumir a culpa dos homens (cf. v.11), “cumprirá a vontade do Senhor” (v.10).
Este é o Servo de Javé, aquele que
“ofereceu sua vida em expiação” e que “fará justos inúmeros homens” (cf. vv.10
e 11); que não apresenta beleza, nem poder, nem triunfo, mas ao contrário, aos
olhos do mundo é desprezado e motivo de vergonha (cf. texto completo dos
versículos 2 e 3). Portanto, a primeira leitura nos apresenta dois elementos:
primeiro, o exemplo o servo que agrada a Deus e, segundo, o contraste existente
entre esse modelo e a ideia humana de eleição.
O Salmo responsorial retrata a
graça de Deus que nos vem como dom, por meio da confiança: “sobre nós venha,
Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” (v.22). Eis o
êxito do Servo de Javé, isto é, sobre ele veio o favor de Deus, cumpriu-se com
êxito a vontade do Senhor, pois, em meio ao sofrimento, confiou em Javé até as
últimas conseqüências, oferecendo sua própria vida.
A mesma temática de fundo está
contida na segunda leitura, apresentando Jesus como aquele que “foi provado em
tudo como nós” (v.15) e que é, portanto, próximo dos seres humanos e não
distante ou cheio de poder. Em confirmação disso, temos o texto de Filipenses
4, a “kenosis”, ou seja, o despojamento, ou a proximidade de Deus para com os
homens, assumindo nossa condição humana.
De fato, o trono de Deus não é o
trono de opressão ou de majestade avarenta, mas é trono de graça, do qual todos
os que se aproximam com confiança recebem a misericórdia e o auxílio, no
momento oportuno.
No evangelho, Marcos narra (na
versão mais longa) o episódio ocorrido na subida para Jerusalém, após o
terceiro anúncio da Paixão de Jesus (Mc 10, 32-34). Deveríamos esperar dos
discípulos uma atitude de preocupação ou mesmo uma tentativa de impedir Jesus
de ir em direção à sua morte. Ao contrário, porém, eles revelam total
incompreensão das palavras de Jesus e uma busca humana de poder e destaque.
Os discípulos ainda pensavam o
Messias como um libertador, com um reinado que lhes soava como um governo
político. O próprio pedido dos dois irmãos possui caráter de exigência:
“queremos que faças por nós o que vamos pedir” (v. 35), o que parece revelar
certa soberba da parte de ambos, ao se considerarem dignos de tal posto diante
dos outros discípulos.
O cálice e o batismo se referem à
sorte ou ao futuro de Jesus, que é de sofrimento e morte. Tiago e João, no
entanto, não pensam nisso e entendem seu cálice como cálice de vitoria e de
realeza e se declaram dispostos a dele beber.
Finalmente, Jesus se dirige
taxativamente a todos os discípulos: “entre vós, não deve ser assim” (v. 43),
não deve haver tirania, nem opressão, nem uso do poder para esmagar os outros.
Jesus inverte a lógica do poder humano, e o desloca para o serviço e a
humildade: “quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (v.44).
3. Atualizando a
Palavra
A Palavra deste domingo questiona a lógica humana do
poder e reprova, tenazmente, toda forma de soberba, opressão ou carreirismo
discriminatório. Prova as instâncias que exercem poder sobre o significado de
sua existência: existem para o serviço a ser prestado ou para si mesmas?
Para o cristão, ser grande significa colocar-se a
serviço; trabalhar em prol dos outros. A autoridade provém da humildade.
Diante de toda concepção mundana de poder, a Liturgia
nos propõe pelo menos duas dimensões do exemplo de Jesus. A primeira: a do
Servo de Javé, que carregar a culpa de outros para torná-los justos. Isso
reporta ao evangelho, quando Jesus afirma que o “Filho do Homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate para muitos“ (cf. v.45).
A segunda: o que motiva a atitude desse servo. Ela aparece na segunda leitura,
na qual Cristo é o sumo sacerdote que se compadece das fraquezas dos seres
humanos e se permite ser um de nós, provado como nós.
Não são, portanto, o poder e o destaque que tornam
alguém grande aos olhos de Deus, mas o quanto cada um é capaz de compadecer-se
do outro e colocar-se a serviço dele.
4. Ligando a Palavra com
a Ação Eucarística
Toda a celebração deste domingo está envolta pelo tema
do serviço e da entrega ao outro. A exemplo de Jesus Cristo, somos vocacionados
a servir, como reza a oração inicial: “dai-nos a graça de estar sempre ao vosso
dispor, e vos servir de todo o coração”.
As leituras também remetem à maior obra de serviço
realizada por Jesus: sua oblação ao Pai, no altar da cruz, que se faz presente
na Eucaristia, sob as espécies do pão e do vinho oferecidos. Reza a oração
sobre as oferendas: “dai-nos, ó Deus, usar os vossos dons servindo-vos com liberdade,
para que, purificados pela vossa graça, sejamos renovados pelos mistérios que
celebramos em vossa honra”.
De fato, os dons de Deus nos foram concedidos não para
nosso egoísmo ou vaidade, mas para o serviço. O gesto de servir com liberdade
concede a verdadeira felicidade, pois, na doação de si, o ser humano encontra a
realização.
Igualmente, a oração depois da comunhão nos educa a
respeito de nossa relação com o poder e os bens temporais: diferentemente da
lógica do mundo do ter mais, para poder mais, para gozar mais, ela nos ensina
que os bens terrenos devem ser auxílio para conhecermos os valores eternos.
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