31º DOMINGO TEMPO COMUM
– ANO B
SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS E SANTAS
04 DE NOVEMBRODE 2012
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“Não se manifestou ainda o que havemos de ser”
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Leituras:
Apocalipse 7, 2-4.9-14;
Salmo 23 (24);
Primeira Carta de João 3, 1-3;
Mateus 5,
1-12a.
COR LITÚRGICA: Branco.
A celebração de hoje nos fala de duas realidades: a do
céu e a da terra, que nos conduz à santidade. Como nós estamos a caminho para a
eternidade é importante nos perguntarmos sobre nossa vida de santidade ainda
neste mundo, pois um dia estaremos vivendo mergulhados na santidade divina, no
céu.
1. Situando-nos
brevemente
Estamos no primeiro domingo do mês de novembro. No
Brasil, a solenidade de todos os santos e santas de Deus é transferida para o
domingo, para que todos os cristãos possam hoje celebrar sua vocação para a
santidade.
No último domingo, tivemos o segundo turno das eleições
em algumas cidades. A partir de agora, vivemos, no contexto municipal, um novo
momento político, perante o qual, como comunidade, somos sinal de unidade, pela
qual todos são convidados a tomar consciência de que somos parte de um mesmo povo.
É hora de superar e esquecer divisões que possam ter ocorrido em tempo de
campanha.
Ainda temos presente o dia de Finados, que celebramos na
última sexta-feira, através do qual somos levados a vivenciar a comunhão dos
Santos que professamos na fé.
A solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus, que
celebramos neste domingo, nos lembra que o chamado à santidade é uma proposta a
todos os fiéis para buscarem o seguimento do caminho do Senhor e para esperarem
pela sua ação redentora, testemunhada através da Igreja.
A liturgia destes dias está, de certa maneira, unida à
reflexão escatológica que os domingos que seguem nos apresentam. Aqui, com
certeza, não se trata de uma especulação sobre o futuro e sim de uma esperança
viva que se experimenta a partida da fé.
2. Recordando a
Palavra
O evangelho traz para nossa
meditação a vocação à santidade partindo da proclamação das bem-aventuranças.
As bem-aventuranças dentro do
Evangelho de Jesus integram a proclamação da nova aliança, da nova Lei. Através
dela Jesus introduz o cumprimento da justiça de Deus e o anúncio de seu Reino
entre nós.
O evangelho diz que Jesus, para
proclamar as bem-aventuranças, subiu à montanha. É preciso lembrar que, no
contexto bíblico judaico, “montanha” é o lugar onde Deus se manifesta e fala
com Moisés e ainda o lugar onde Deus confiou os dez mandamentos (a Lei) a
Moisés.
O evangelho fala que, na montanha,
Jesus “sentou-se”. “Sentar” significa que Jesus é mestre, ensina com
autoridade. Esta autoridade se confirma no evangelho, porque ele mesmo vive as
bem-aventuranças e nele elas se cumprem.
A nova lei, proposta por Jesus, é
apresentada aos discípulos, que “se aproximaram” e junto dele estão para
escutar seus ensinamentos. O discípulo que está na montanha junto ao mestre
participa desta realidade nova, ao ser destinatário da proclamação e convocado
a testemunhar a ação de Deus. Isto é, os discípulos são proclamados felizes,
quando se fazem testemunhas de Jesus, em particular quando perseguidos por
causa de seu nome.
O contexto de perseguição e
adversidade ao qual aquele que se faz discípulo está sujeito, conforme a última
bem-aventurança anunciada, aproxima o discípulo ainda mais do seguimento ao
mestre.
Os bem-aventurados, de acordo com o
evangelho, cumprem seu caminho a partir da fé e da esperança.
As promessas das bem-aventuranças
anunciam a presença do Reino que já se cumpriu através da ação redentora de
Jesus. Por isso, para o discípulo, mesmo como promessa, pela fé abraçada no
seguimento de Jesus, torna-se uma realidade atual e confere-lhe um estado do
bem-aventurado. A acolhida e a vivência da bem-aventurança é o lugar a partir
do qual, no seguimento de Jesus, Deus realiza seu Reino.
O conteúdo da proclamação do Reino,
a proposta das bem-aventuranças, tem como tema central a justiça do Reino. As
bem-aventuranças são assim um juízo de Deus sobre os homens, tornando justos e
felizes os que acolhem o reino na fé e o realizam a partir do seguimento a
Jesus.
A proclamação das bem-aventuranças
apresenta a ação de Deus que santifica e torna felizes, isto é, leva a
participar de seu Reino aqueles que estão destituídos da vida e da dignidade
humana e aqueles cuja prática promove a justiça.
O programa das bem-aventuranças
propõe, pois, através do conteúdo da promessa, uma ligação entre a primeira e a
última. Em ambas se estabelece a vivência da fé como condição para possuir o
estado de bem-aventurado.
Na primeira, a condição da fé
aparece em “felizes os pobres em espírito”, como despojamento diante dos
valores do mundo: dinheiro, poder e prazer. Na última, a condição da fé aparece
como seguimento e testemunho de Jesus e de sua obra, ao dizer: “felizes sereis
quando vos perseguirem por causa do meu nome”.
A partir desta fé, Jesus leva o
discípulo a testemunhar a ação de Deus que cumpre a justiça para com “os
aflitos”, “os despossuídos” e “aqueles que têm fome e sede de justiça”, como
parte de uma promessa de libertação para a humanidade.
É Deus que se solidariza com o
gênero humano da mesma forma como no Egito, quando libertou o povo da
escravidão. A santidade aqui aparece como pura graça de Deus, como ação de Deus
que santifica e restitui a vida.
A mesma realidade podemos afirmar a
partir das promessas que Deus fez por meio de profetas, anunciando seu messias.
O discípulo pode ainda experimentar
a ação de Deus que justifica, santifica, torna felizes aqueles cujas ações
concretizam a prática da justiça esperada por Deus. Assim, Jesus apresenta como
ditosos “aqueles que prestam ajuda”, “os limpos de coração” e “aqueles que
promovem a paz”.
Enquanto buscamos viver as
bem-aventuranças, temos o testemunho daqueles que alvejaram a veste no sangue
do Cordeiro, o que se constitui num vivo apelo ao testemunho (martírio). O
destaque que a leitura do Livro do Apocalipse atribui aos eleitos que deram
testemunho do seguimento ao Senhor com suas vidas, perante todos os demais
eleitos, é um vivo apelo à santidade, através da fidelidade e da entrega
radical da vida nas mãos de Deus.
3. Atualizando a
Palavra
Na festa de Todos os Santos, celebramos a vida daqueles
que estão na glória com o Senhor e nossa comunhão de vida e de fé com eles,
através de Jesus, em quem todos fazem parte de uma mesma Igreja, Corpo Místico,
e de um mesmo mistério pascal que se atualiza em cada Eucaristia.
Nesta festa de Todos os Santos, queremos refletir sobre
a ação de Deus que nos santifica, contemplando aqueles que já trilharam este
caminho aqui na terra e hoje estão na glória. Esta festa nos lembra, em
especial, que, como cristãos, devemos ter a esperança de um dia estar com ele
nesta mesma glória. Assim proclamamos que Jesus é o caminho que nos leva a
participar da mesma bem-aventurança.
A leitura do Apocalipse mostra que a santidade abrange
uma multidão, gente de todos os povos, línguas e nações. Nesta festa, queremos exaltar
a força e a ação de Deus que os levou à santidade, para assim podermos também
nós participarmos, com esperança renovada, desta verdade que os céus nos dão.
Ao refletirmos sobre a santidade proposta na liturgia da
Palavra deste domingo, somos levados a dizer que Jesus se fez fonte e modelo de
santidade, pois nele as bem-aventuranças encontram realização.
As bem-aventuranças nos ajudam a ver e conhecer o rosto
de Jesus, isto é, a descobrir a santidade de Deus proposta para a humanidade e
a tomar parte nela. Elas ajudam também a mostrar para onde o olhar de Deus se
dirige e qual a vontade de Deus a ser buscada, para que se realize seu Reino.
O programa de vida que enuncia as bem-aventuranças é o
caminho do discípulo para conhecer Jesus na intimidade e, ao mesmo tempo, para
segui-lo, isto é, tomar parte na realização do Reino de Deus e de sua justiça
entre nós.
A santidade que Jesus nos apresenta e proclama, a partir
da ação de Deus no mundo, é, em primeiro lugar, graça em que Deus restitui vida
e realiza a justiça. Em segundo lugar, é tarefa pela qual Deus confirma a ação
daqueles que colaboram com a realização de seu reino, promovendo o perdão e a
paz para todos.
A santidade, assim, está longe de ser uma prática ritual
vazia. Ela é um efetivo e íntimo convívio e conhecimento do Senhor e de sua
vontade, para o serviço eficaz aos irmãos.
No contexto do Evangelho de Mateus e das
bem-aventuranças, Deus espera de seu povo a prática da justiça, mas não
qualquer justiça e sim aquela cuja ação devolve esperança e vida. Nestas ações,
estão em destaque aquele que busca ser limpo de coração, sem segundas
intenções, e aquele que é fonte de perdão, pois estes colaboram para que haja
paz, shalom, o bem maior do Reino.
A santidade em Deus não é pietismo ritualista mas ação
de Deus em favor da vida. A santidade de Deus, presente no meio do povo e
apresentada por Jesus no evangelho, confirma a fé daqueles que, contra as
certezas do mundo, pautam sua ação pelo cumprimento das promessas do Senhor e
pela realização de seu Reino.
Para nos abrirmos a este caminho de santidade no
seguimento de Jesus, devemos hoje ser sensíveis aos apelos daqueles que são os
aflitos, os desprovidos, os que têm fome e sede de justiça, para lhes sermos
anúncio vivo, sinal da presença de Deus entre nós.
A palavra de Deus, especialmente através das
bem-aventuranças, é critério para avaliarmos nossas práticas espirituais,
devoções e participação na comunidade. A vida de santidade, que hoje celebramos
na festa de Todos os Santos, é comunhão destes no Senhor e realização das
bem-aventuranças em suas vidas, como cumprimento do Reino definitivo.
Perguntemo-nos: nossa prática de fé e busca de santidade
conseguem nos despertar para a vida e para as necessidades dos irmãos? Onde o nosso
compromisso com os outros consegue fazer parte de nossa oração e busca de Deus?
4. Ligando a Palavra com
a Ação Eucarística
Na Prece Eucarística II, assim rezamos: “Na verdade, ó
Pai, vós sois santo e fonte de toda a santidade!” Isto depois de termos cantado
solenemente; “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo”.
Na Sacrosanctum
Concilium n.8, encontramos uma bela reflexão sobre a unidade da Igreja
peregrina e da Igreja Celeste, que acontece em cada celebração litúrgica: “Na
liturgia terrena nós participamos, saboreando-a já, da liturgia celeste, que se
celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos encaminhamos como
peregrinos, onde o Cristo está sentado à direita de Deus, qual ministro do
santuário e do verdadeiro tabernáculo; com toda a milícia do exército celeste
entoamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos,
esperamos fazer parte da sociedade deles; esperamos pelo Salvador, nosso Senhor
Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste, e nós apareceremos com ele
na glória”.
Enfim, em cada celebração eucarística somos convidados a
participar do banquete nupcial, da ceia do Cordeiro imolado. Um dia, no céu,
participaremos, com todos os anjos e santos, desta mesma Ceia, não mais com o
Pão e o Vinho, mas na presença, face a face, de Jesus.
A mesa do altar é “a mesa dos peregrinos”, conforme
rezaremos na oração após a comunhão.
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