As trevas da dor | ||||||
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Todos devemos contar com sofrimentos na vida. Não podemos imaginá-la como um sonho cor-de-rosa, não devemos esperar que ela nos cumule de benesses, porque só assim evitaremos grandes decepções. Se alguém anda constantemente atrás da felicidade, de “dias melhores e mais belos”, a dor apanhá-lo-á inesperada e desprevenidamente, e parecer-lhe-á mais dura e pesada.
Já os pagãos contavam com os sofrimentos e chegavam mesmo a considerar de mau agouro uma felicidade perfeita, que lhes parecia uma afronta aos deuses. Por isso, evitavam um homem demasiado feliz, fugiam dele.
Com o pecado original, começou a dor; com ele terminou a primeira felicidade, o jardim de delícias que Deus nos dera. E começou também um processo de atingirmos o céu baseado em Cristo, no qual a dor e a cruz desempenham um papel proeminente. Logo após o pecado original, o Senhor promulgou a lei do sofrimento para o homem (cfr. Gên 3, 17-19) e para a mulher (cfr. Gên 3, 16), e desde então nunca mais se interrompeu a cadeia de dores. A nossa vida é uma luta, os seus dias são como os dias de um mercenário (Jó 7, 1). A todo o homem são dadas tarefas penosas, e um jugo pesado o oprime desde o dia do nascimento até ao da morte.
O CALVÁRIO, CAMINHO QUOTIDIANO
Um cristão, mais do que qualquer outra pessoa, deve contar sempre e por toda a parte com a cruz e o sofrimento: Meu filho, se tencionas servir o Senhor, [...] prepara-te para a provação (Eclo 2, 1). Aliás, o Divino Mestre esclareceu-nos bem a este respeito: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me (Lc 9, 23). Não é o servo maior do que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a vós (Jo 15, 20).
Se pertencêssemos ao mundo, este amar-nos-ia, mas, porque não somos do mundo, odeia-nos (cfr. Jo 15, 19): Sereis odiados por todas as nações (cfr. Mt 24, 9). Os Apóstolos não nos deixam dúvida alguma a este respeito. Segundo São Pedro, somos chamados a suportar dores, não como castigo dos nossos pecados, mas pela nossa boa conduta (1 Pe 2, 19-24). São Paulo diz-nos: Todos os que quiserem viver piedosamente sofrerão perseguição (2 Tim 3, 12).
A experiência e a Sagrada Escritura mostram-nos assim a realidade da dor; daí que esta não nos deva encontrar desprevenidos. Esperar a dor é já uma vantagem que lhe lima as arestas mais duras. A fé diz-nos qual é o sentido e finalidade do sofrimento, e assim achamo-nos perante a vida em condições muito diferentes das daqueles que não gozam da luz da fé. Como é difícil a vida para aqueles que nada sabem da Revelação e por isso não conseguem compreender o sofrimento!
Sem a graça divina, não conseguiremos dominar a dor. Cristo salvou-nos, apagou o pecado que clamava contra nós (cfr. Col 2, 13-15; Rom 3, 22-24). Mas cada um de nós tem de levar a cabo os sofrimentos salvadores, com e em Cristo, e colaborar na edificação do Corpo Místico com a dor correspondente à sua posição (cfr. Ef 4, 12-16). Através da nossa união com Cristo, podemos interceder, expiando, por membros imprevidentes ou mesmo mortos.
EMBORA A DOR NOS FAÇA CLARIVIDENTES, NÃO DEIXA DE SER UM PROBLEMA
Na mão de Deus, dificilmente haverá meio mais eficaz do que a dor para nos libertarmos do nosso eu, dos homens e do mundo. Os nossos sofrimentos, permitidos por Deus, visam em especial a felicidade no além e dizem-nos dolorosamente que nesta terra não somos mais do que peregrinos e estrangeiros (1 Pe 2, 11), que não temos aqui cidade permanente (Hebr 13, 14).
Não há dúvida de que muitas vezes seríamos levados a esquecer-nos disso e nos entregaríamos às coisas terrenas e humanas se a dor não nos ajudasse a ver o nada, a caducidade das coisas terrenas, e não despertasse em nós o desejo de um mundo melhor e mais belo. Enfim, a dor suaviza-nos a morte porque, se o mundo fosse uma mansão de felicidade e bem-estar, não quereríamos partir, e a morte seria ainda mais penosa do que é. Quantas pessoas se entregariam ao pecado e cairiam na desgraça eterna se a dor não nos obrigasse sempre a recuar no caminho do pecado!
Mas, muito embora a Revelação ilumine as trevas da dor, esta não deixa de constituir o mais grave problema, o mais negro enigma da nossa vida. O raciocínio reconhece e vê alguns pontos, a fé esclarece outros, mas à aceitação cabe ainda um grande quinhão. Não interessa tanto a Deus que compreendamos o mistério da dor, mas que creiamos no Senhor e lhe obedeçamos incondicionalmente, embora saibamos que não podemos compreendê-lo nem abrangê-lo.
Deus não se deixa abranger por nós, porque é sempre maior, mais extenso que a nossa compreensão (cfr. Jó 26, 14; 36, 26). Ele criou o nosso ser espiritual à sua imagem e semelhança, mas nós deturpamos a sua imagem segundo a nossa imagem e semelhança. Julgamos que deveria agir sempre como nós e, se age de modo diverso e em especial se nos envia padecimentos, duvidamos logo da sua existência.
Para os judeus, a cruz era um escândalo e para os pagãos uma loucura (1 Cor 1, 23). Mesmo os Apóstolos não a entenderam a princípio, e, quando o Senhor falou pela primeira vez dos seus padecimentos, São Pedro quis detê-lo: “Deus tal não permita, Senhor! Não te sucederá isto” (Mt 16, 22). Jesus repreendeu-o imediatamente, e essa sua reação impressionou vivamente os outros Apóstolos. Noutra ocasião em que o Senhor lhes falou dos seus padecimentos, não o entenderam, mas não tiveram a coragem de pronunciar uma palavra: Eles não entendiam esta palavra [...] e tinham medo de interrogá-lo acerca dela (Lc 9, 45). Lembravam-se bem do que sucedera a Pedro. E o mesmo se verificou quando o Salvador lhes falou pela terceira vez dos seus padecimentos (cfr. Lc 18, 34).
Nem mesmo a Santíssima Virgem compreendeu todos os caminhos dolorosos por onde Deus a conduziu e afligia-a o problema do porquê. Quando após três dias de buscas vãs encontraram Jesus no templo, Nossa Senhora perguntou-lhe: “Filho, por que procedeste assim conosco?” E o Salvador respondeu: “Por que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai?” Apesar dessa resposta, não o compreenderam: E eles não entenderam o que lhes disse (Lc 2, 48-50).
E nós, compreenderíamos o Senhor se Ele nos respondesse ao problema premente do porquê? Talvez não. Na maior parte dos casos, ainda não entendemos. Os sofrimentos que nos atingem não podem ser explicados no momento em que se produzem, mas apenas em função do conjunto, e é precisamente no seu significado de conjunto que podem ser entendidos. Aquilo que, encarado isoladamente, pode parecer uma loucura, considerado no conjunto pode constituir uma graça divina muito especial.
O PROBLEMA DO “PORQUÊ”
Não é de admirar, pois, que o “porquê” nos acuda aos lábios, principalmente quando se abate sobre nós uma desgraça grande ou quando as dores se sucedem umas às outras. O próprio Salvador, na hora da mais amarga das suas dores, perguntou ao Pai: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27, 46). A dor parecia-lhe como que um muro que ocultava o semblante amigo de Deus (cfr. Mt 27, 46).
A obediência e a submissão tornam-se ainda mais difíceis quando o nosso entendimento nos demonstra sem qualquer sombra de dúvida que sofremos sem culpa. O fardo torna-se insuportável quando vemos que os inocentes sofrem, ao passo que os culpados não só não sofrem, como parecem tirar grandes lucros e vantagens da sua culpa. Há justos que sofrem como se tivessem agido impiamente e há ímpios a quem nada sucede, como se tivessem agido como justos (Ecl 8, 14). Quantas vezes não nos temos apercebido da veracidade destas palavras! Tu és muito justo, ó Senhor, para que dispute contigo; no entanto, desejaria dizer-te coisas justas. Por que é próspero o caminho dos ímpios? Por que vivem felizes os pérfidos? Plantaste-os e eles lançaram raízes, crescem e frutificam (Jer 12, 1-2). Os meus pés por pouco não vacilaram, por pouco os meus passos não se transformaram; porque invejei os iníquos, vendo a paz dos pecadores. Eles não conhecem misérias; têm forte e são o seu corpo. Não participam das canseiras dos outros homens, nem são fustigados como os outros (Sal 72, 2-5).
Não deveria espantar-nos, diante desse panorama, que caiam na confusão aqueles que não têm fé. A nós, porém, a fé diz-nos que o sol do amor divino continua a brilhar no meio da dor. Por detrás dela está o amor de Deus, que é maior que toda a dor. “Deus castiga aqueles que ama” (cfr. Hebr 12, 6). Certa vez, Cristo queixou-se a Santa Teresa de Ávila de que fossem tão poucos os que o amam. A santa respondeu-lhe: “Não deves admirar-te, pois amas os que te crucificam e crucificas os que te amam”.
Quando as crianças não dão ouvidos às admoestações dos pais, estes vêem-se forçados a castigá-las, apesar do amor que lhes dedicam e até por causa desse mesmo amor. Nada há de mais prejudicial para uma criança do que esse amor brando que não sabe recusar coisa alguma, que não sabe castigar. Até uma certa idade, os filhos não compreendem que o castigo seja uma prova de amor e por isso os pais não lhes dão longas explicações, uma vez que só o castigo os pode levar a mudar de conduta e, em conseqüência, a compreender.
Ora, se nem sempre os filhos conseguem compreender os pais, como havemos nós de poder compreender Deus? Com certeza que o Senhor não nos leva a mal choros e queixumes, desde que saibamos reagir com fé. A fé diz-nos que o Senhor é um Deus de amor e ensina-nos a ver esse amor por trás das desgraças, levando-nos a aproveitá-las, a reconhecer o valor que têm para a eternidade.
A DOR E O PECADO
Se olhássemos mais atentamente para a nossa condição de pecadores e para a natureza do pecado, com certeza não nos revoltaríamos tantas vezes contra Deus: Ai daquele que discute com quem o criou, não sendo mais que um vaso entre os vasos da terra. Porventura diz o barro ao oleiro: Que fazes? (Is 45, 9). Pode um mortal ser puro diante do seu Criador? (Jó 4, 17).
Perante Deus, todos somos mais ou menos culpados: todos os castigos são pequenos em comparação com a ofensa que fizemos a Deus ao pecar. Ninguém sofre inocentemente; só Cristo na Cruz e Nossa Senhora a seus pés sofreram sem ter pecado. Quanto a nós, todos sofremos com justiça, todos recebemos o justo castigo das nossas ações (cfr. Lc 23, 41); e se não merecemos a dor que nos aflige num determinado momento, merecemo-la – e talvez mais – por pecados e erros anteriores.
Por isso, não nos devemos admirar de que a dor nos aflija, nem perguntar em que a merecemos. Com muito maior razão deveríamos perguntar em que merecemos o bem-estar e a felicidade quando deles gozamos. Mas é nosso hábito aceitar com naturalidade a felicidade que Deus nos dá, como se a tivéssemos merecido, quando é certo que as coisas deveriam passar-se justamente ao contrário: Se aceitamos a felicidade da mão de Deus, não devemos também aceitar a infelicidade? (Jó 2, 10).
Enfim, nós, pecadores, nunca devemos altercar com Deus por causa da dor, porque não podemos esquecer que Ele não poupou o Filho bem-amado em quem tinha postas as suas complacências (cfr. Lc 3, 22), que o mergulhou num mar de dor como a ninguém na terra. Se tivermos presentes todas estas coisas, será legítimo lamentarmo-nos?
“BEM-AVENTURADO O HOMEM A QUEM DEUS CORRIGE”
Embora compreendamos muitas coisas e possamos seguir o Senhor por alguns caminhos com a razão iluminada pela fé, há muitos outros que não podemos compreender, porque nos conduzem a trevas profundas. Só nos pode ajudar a fé viva na justiça divina e no imenso amor que o Senhor nos dedica. Deus não pode ser cruel, nem por um instante. Quase seria preferível duvidarmos da nossa própria razão a duvidarmos da justiça e amor divinos. Quem perder a fé e a confiança na justiça de Deus, no seu amor, bondade e misericórdia, perderá o chão debaixo dos pés, deixará de ter as suas raízes em Deus, origem da sua vida, e será arrebatado pela tempestade da dor.
A fé diz-nos que Deus é nosso Pai, que está junto de nós quando nos envia o sofrimento. Nesse momento, passamos como que para uma escola superior: O Senhor está perto daqueles que têm o coração atribulado (Sal 33, 19). A dor é mesmo um dos sinais mais seguros de eleição: Bem-aventurado o homem a quem Deus corrige (Jó 5, 17).
É nosso dever, mesmo ao sofrermos as mais negras dores, estarmos convencidos de que é Deus quem as envia e não começar a ponderar e a cismar. Basta procurarmos compreender o que quer Deus dizer-nos por intermédio desse sofrimento, saber como poderemos valorizá-lo e utilizá-lo. Porque Ele quer salvar-nos e levar-nos ao céu pelo caminho da dor: O que presentemente é para nós uma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós um peso eterno de glória incomparável (2 Cor 4, 17). E devemos pensar com São Paulo que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória vindoura (Rom 8, 18).
Scio cui credidi, “Eu sei em quem creio e confio”, escreve São Paulo (2 Tim 1, 12). O Salvador exorta-nos a não ter medo (cfr. Mt 10, 28; Lc 12, 32). Um passarinho não tem valor e, no entanto, nenhum cai sobre a terra, nem coisa alguma lhe acontece, sem que o Pai o saiba. Nós valemos muito mais aos olhos de Deus e até os próprios cabelos da nossa cabeça estão todos contados (Mt 10, 30). Não há, pois, que ter medo.
Não temais!, diz-nos o Senhor. Ainda que a terra trema e as montanhas se afundem (Sal 45, 3), ainda que nos matem (cfr. Lc 12, 4), tudo vem de Deus e tudo serve para o nosso bem (cfr. Rom 8, 28). Só devemos temer a Deus quando lhe fugimos.
Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rom 8, 31). Nada temas, porque eu estou contigo (Gên 26, 24; Is 41, 10). Por Richard Gräf
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Ani Ledodi Vedodi Li
Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”
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Deus o Abençõe !
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"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"
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Pe.Emílio Carlos†
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