UM DEUS DE SURPRESAS
Mateus 13,3-9
Jesus contou numa parábola: «O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho: e vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra: e logo brotaram, porque a terra era pouco profunda; mas, logo que o sol se ergueu, foram queimadas e, como não tinham raízes, secaram. Outras caíram entre espinhos: e os espinhos cresceram e sufocaram-nas. Outras caíram em terra boa e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; e outras, trinta. Aquele que tiver ouvidos, ouça!» (Mateus 13,3-9)
No texto, Jesus escolhe uma imagem quase banal do dia-a-dia para nos explicar a nossa relação com Deus. Fala-nos de um lavrador que lança a sua semente por todo lado, de modo a que esta cresça e ele possa ter uma boa colheita.
É como se Jesus nos dissesse: Deus dá a todos, sem medida. Tudo o que Deus pode fazer é dar vida. Não é preciso dar muitas voltas à cabeça para compreendermos como podemos merecer o seu amor. Ele dá esse amor constantemente.
A verdadeira questão que esta parábola nos traz é outra, nomeadamente: como podemos receber o que Deus nos dá? Afinal, uma semente não cresce apenas por si própria. Precisa de encontrar o solo conveniente para dar fruto.
Em nós e no nosso mundo, há muitos obstáculos que obstruem a comunicação e o crescimento da vida de Deus, do seu amor. Para algumas pessoas, há demasiadas provações que tornam a confiança em Deus impossível. As más experiências do passado podem endurecer-nos e fazer-nos duvidar da bondade de Deus.
Mas as provações também podem tornar-nos menos auto-suficientes, mais disponíveis para acolher o que vem de outros lados. Paradoxalmente, às vezes, podem ajudar-nos a avançar para uma vida melhor. Não, o obstáculo mais profundo ao acolhimento do dom de Deus não é o sofrimento, mas a recusa de nos deixarmos ser perturbados, por medo ou por comodismo.
Deus surpreende-nos sempre. As crianças gostam de surpresas, mas os adultos nem sempre as apreciam imediatamente. Mexem com os nossos hábitos, deixamos de ter o controlo total das coisas, põem-nos sobre um caminho que nos leva ao desconhecido. Mas se nunca nos deixamos incomodar, como podemos descobrir a vida inesperada que Deus nos oferece?
Esta vontade de acolher aquilo que não controlamos chama-se a confiança. E quando o dom de Deus encontra um coração que confia, tudo se torna possível. É a isso que a parábola chama dar fruto ao cêntuplo. O universo inteiro é como que recriado pelo sim de um coração que confia.
Constatamos claramente este sim no Novo Testamento, nos lábios de uma jovem, Maria, a mãe do Senhor, quando o anjo Gabriel foi ao seu encontro: para Maria, o anjo foi como o semeador da parábola. Constatamos este sim sobretudo em Jesus Cristo, cuja vida se resume na sua totalidade numa frase: «Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua.»
Talvez pensemos que a experiência de Nossa Senhora e de Jesus Cristo são distantes da nossa. No entanto, pelo contrário, pelo batismo o sim deles torna-se no nosso. Cristo compromete-se conosco a realizar a promessa. Se entramos em nós mesmos fazendo silêncio, então, como a Carta da China nos convida, descobriremos talvez em nós a boa terra que deseja receber a Palavra. E, a longo prazo, este acolhimento transformará o deserto do nosso mundo num jardim florido.
Ad Jesum per Mariam!
Com minha pobre benção.
Pe. Emílio Carlos Mancini +
A†Ω
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