A ÁRVORE DA IMATURIDADE
NÃO sei por que nestes dias,
meditando, me veio a visualização da “árvore
da imaturidade”.
Ela surgiu no campo de cada pessoa. Havia quem estivesse
cheia destas árvores e quem tinha menos, mas me parece de não ter visto nem um
campo onde não houvesse pelo menos uma árvore. Aí me convenci que a maturidade
não é fácil de ser alcançada e provavelmente totalmente maduro mesmo ninguém é.
Aliás, os que gritam tanto
para a maturidade muitas vezes andam nos campos da imaturidade e são imaturos.
Tenho visto como diz o salmista, muitas árvores caírem, mas a palmeira dos
justos, mesmo no estio e na seca, continua de pé porque confiam no Senhor.
Costumo
dizer, fazendo levantar as orelhas aos meus amigos teólogos, que nem Jesus se
apresenta para nós humanamente maduro 100 por cento. Há nele o humano que às
vezes parece gritar forte. Jesus não
ficou nada satisfeito quando somente um leproso, dos dez que foram curados,
veio agradecer, não se sentiu feliz e se queixou amargamente. “Não eram por
acaso dez os que curei, e os outros nove onde estão?” O vento gélido da
ingratidão também chegou bem perto de Jesus e ele sofreu muito. Como ele podia
ser feliz recebendo o beijo da traição de Judas? Ou em ver os seus discípulos
preocupados em dormir quando estava angustiado até a morte na hora das
oliveiras?
Mesmo a presença adulta, madura de
Nossa Senhora, em determinados momentos ela sentiu medo, insegurança e se viu
como que rejeitada pelos outros, embora que tudo isto não a abalasse nos seus
sentimentos e fé mais profunda de adesão à mesma vontade do Pai. E que dizer de
São José? Que noites insones deve ter passado e necessitou do anjo do Senhor
que em vários momentos lhe aparecesse e lhe desse a segurança de que podia agir
livremente, sem medo.
Depois destas três grandes pessoas
da maturidade humana e espiritual todo o resto da humanidade beira os 60 por
cento de maturidade e diante das dificuldades cai para 40 ou cinqüenta e volta
a trinta. Bem aventurada a santa maturidade que nos permite olhar dentro de nós
e ver que somos chamados a caminhar corajosamente, a levantar-nos sem medo, sabendo
que ele, o Senhor, é nossa força.
Mas diante de tudo isto podemos sim
ver algumas árvores da imaturidade mais presentes no início deste novo milênio
e que não parece tão firme como poderíamos esperar.
A mesma fragilidade de
ontem aparece por aí no dia de hoje:
1. Agressividade: Parece-me
ver que esta árvore da agressividade está bem presente no terreno de tantas
pessoas. Temos medo e o medo nos faz agressivos, achando que através deste
mecanismo de defesa, podemos nos libertar do medo. Agredimos antes de tudo a
nós mesmos, não aceitando as nossas limitações e nem a possibilidade de poder
errar. O perfeccionismo é terrível, não admite erros nem para si mesmo e nem
para os outros. Somos agressivos com Deus não aceitando que Deus nos tenha feito
como somos ricos em graças e qualidades, mas também tão diferentes dos outros.
Não aceitar o diferente pode gerar inveja, ciúme, covardia. Quando levado ao
extremo leva o ser humano a atitudes que são no mínimo imaturas. Agressivos com
os outros, não aceitamos os outros e tentamos destruí-los e fazer deles o nosso
pedestal, o degrau pelo qual podemos subir mais alto e olhar melhor o mundo e a
humanidade aos nossos pés.
2. A árvore da
exibição: É uma árvore estranha no
nosso jardim e terreiro, mas tão necessária para muitas pessoas. Precisamos
mostrar-nos, colocar-nos em evidência, não importa como, desde que os outros
nos notem. É só ver a moda, que assume atitudes e vestidos tão estranhos que
não dá para não notar. Será que é moda ou só é vitrine para chamar a atenção?
Às vezes até dentro da igreja e na vida de pessoas clericais e consagradas se
nota isto e, sem dúvida, até em mim deve existir esta árvore da exibição. Faz
tanto mal e impede de sermos o que devemos ser, e nada mais. A mais bela veste
que devemos procurar é a da humildade, da simplicidade. Só o amor vale e o amor não faz barulho, não chama a atenção. Ele
passa despercebido próprio porque é amor. Aprender de Jesus a sermos pobres,
simples, a passar no meio do mundo fazendo o bem sempre e a todos. O
exibicionismo nos torna artificiais é só de aparência. A maioria da beleza da
exibição, dizia um preso ao amigo, “vai embora com água e sabão”, é pura
maquilagem e nada mais. Mas necessitamos nos colocar máscaras sobre máscaras. O
normal, o natural hoje desaparece e não chama mais atenção. O exibicionismo
projeta o nosso eu naquilo que ele não é. Quem sabe que valeria a pena todos
nós reler com atenção o que diz Jesus dos exibicionistas da oração, da esmola e
do jejum... lembra o texto? Vamos reler:
Evitai praticar as vossas boas
obras diante dos outros para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis
nenhuma recompensa do Pai que está nos céus.
Quando,
pois, deres esmola, não vás tocando trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas
nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos outros. Eu vos garanto:
eles já receberam a recompensa. Mas quando deres esmola, não saiba a mão
esquerda o que faz a direita. Assim a tua esmola se fará no oculto e teu Pai,
que vê no oculto, te dará o prêmio.
E quando orardes, não sejais como os
hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas das praças
para serem vistos pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa.
Mas quando rezares entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai que
está no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. Quando
jejuardes, não fiqueis tristes como os hipócritas, que desfiguram o rosto para
os outros verem que estão jejuando. Eu vos garanto: eles já receberam a
recompensa. Mas quando jejuares, lava o rosto e põe perfume na cabeça, para os
outros não perceberem que estás jejuando, mas somente teu Pai que está no
oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa.(Mt 6, 1-6.16-18)
Há muitas plantas da imaturidade. Quem
sabe se outro dia falaremos de outras árvores que abundam no jardim de nossas
almas.
NO JARDIM DOS IMATUROS
As árvores da imaturidade: a árvore da
exibição e da agressividade; mas seria um jardim meio morto se tivesse somente
estas duas árvores. É necessário parar e procurar as árvores daninhas que vão
destruindo a beleza da nossa alma. Parece-me que uma árvore da imaturidade que
tem um bom viveiro e boa exportação em todos os continentes é a árvore do poder
disfarçado como serviço:
3. A árvore do poder: Aliás, falar de árvore seria ate uma brincadeira,
deveríamos falar, quando pouco, de floresta. O poder seduz, encanta e uma vez
que entra no sangue se torna lentamente “genético” e não se pode viver sem ele.
O que mais o ser humano deseja por natureza é dominar, mandar, decidir. Tudo
isto aparentemente nos faz grandes e importantes. De fato quando as pessoas se
encontram para conversar, depois de um pouco se passa às credenciais: o que
você faz? Qual é teu cargo? E quase todos se apresentam como “chefes” de um
setor, ou como organizadores. Hoje têm mania de dizer “promeoteur”, não importa
o que esteja provendo. Pode ser até cebola ou suco de beterraba...Mas é promeoteur
de alguma coisa. Não se pode ninguém mais apresentar como “Zé-ninguém”. No
entanto, à luz do Evangelho e da palavra de Deus, tudo isto é fumaça e nada
mais do que fumaça. Não há quem duvide que o poder é doença contagiosa e que
ainda não foi descoberta a vacina nem o remédio. Só o único remédio é passar
através do esvaziamento anunciado por Jesus, que veio “não para ser servido,
mas sim para servir”. Um remédio amargo para se engolir nos primeiros tempos,
depois é fácil e se torna tão necessário que nos faz falta. É claro que a nossa
inteligência às vezes é “perversa”, nos apresenta o poder como serviço e nos
tornamos vítimas de tudo. Posso dizer que tenho experimentado esta doença, mas
que agora me parece que me sinto não totalmente livre, mas um pouco mais livre.
4. A árvore da dependência afetiva: Esta não é uma árvore, é floresta amazônica. De
tanto insistir que todos somos dependentes afetivamente, menos é claro, os que
declaram os outros afetivamente dependentes, se tornou a doença do momento. É uma
árvore que tem tantas ramificações e tantas sub espécies que parece difícil
saber detectá-la. Parece-me obvio que somos afetivamente dependentes, se o
nosso coração é feito para amar. O mesmo Agostinho declarava que “o nosso
coração anda inquieto até que não descanse em ti, Senhor, porque foi feito para
ti”. Este é um tipo de dependência: sempre teremos a necessidade do amor de
Deus para sermos nós mesmos, para experimentar a alegria de sermos amados por
Deus. Mas será que o amor de Deus é suficiente para o ser humano? Quando era
mais novo achava que sim, hoje não, com a experiência da gente e depois de
ouvir e escutar tantas pessoas. O amor de Deus sozinho não é suficiente para
fazer uma pessoa feliz em todos os momentos da vida. Necessitamos também de poder
perceber que somos amados pelos outros, acolhidos, somos seres relacionais,
corporais, e portanto precisamos de exteriorizar o nosso amor e afeto, sem nos
tornar escravos. É um caminho longo, difícil e provavelmente só seremos livres
quatro dias depois de mortos. O
egoísmo humano, o desejo de afeto são fortes demais. É água mais forte do que o
fogo, é vida mais forte do que a morte que penetra em nós. A nós cabe saber
canalizar tudo isto. É até bonito e gratificante um belo dia experimentar e ver
que sozinhos não podemos viver e que precisamos dos outros. Mas que não podemos
ser escravos de ninguém.
5. A árvore do medo: Nunca entendi porque temos medo. E o pior, há
momentos em que você tem medo de tudo, da luz, da água, da noite, das pessoas,
de Deus e de você. É um medo que penetra na pele e nos atormenta lentamente. Aí
precisamos trabalhar esta imaturidade da nossa vida…Mas Deus é tão bom conosco
que quando o medo se faz forte demais, ele mesmo se encarrega de enviar os seus
anjos para nos dizer: “não tenhas medo”. Alias, quando descobri que Moisés teve
medo, Jeremias também teve medo, José teve medo, Nossa Senhora teve medo e o
mesmo Jesus fugiu de medo, achei que o meu medo era natural e que o único jeito
que tinha para superá-lo era o caminho apresentado pelo evangelista João: “o
verdadeiro amor afugenta o medo e o medo afugenta o amor”.
Está inserida a imaturidade na
genética humana? Está.
A estas árvores quem sabe devemos
acrescentar outras tantas plantas, como a inferioridade, o assedio sexual,
moral, afetivo que anda solto por aí. Ou quem sabe a honestidade é tão
fragilizada que as pessoas acham que único jeito hoje é ser imaturo, fazer
chantagem emocional para lucrar sempre um pouco do que precisamos? Choramos mas
gostamos de apanhar, como dizia um velho pescador acostumado a ficar no mar.
Ele, com um exemplo muito pobre, mas significativo dizia: “os imaturos são como
os peixes, sabem que vão morrer, mas correm atrás da isca”.
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