23º DOMINGO TEMPO COMUM
– ANO B
09 DE SETEMBRO DE 2012
Senhor, nos dê a tua graça para não fecharmos nosso coração, principalmente
aos mais necessitados.
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“Ele tem
feito bem todas as coisas: ao surdo faz ouvir e aos mudos falar” (Mc 7,37)
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Leituras:
Isaías 35, 4-7a;
Salmo 145 (146);
Tiago 2, 1-5;
Marcos 7, 31-37.
COR LITÚRGICA: Verde
Nesta Eucaristia Jesus nos pede que abramos nosso
coração para o amor, para o serviço, para o perdão. Muitas vezes nos fechamos
de uma forma que não conseguimos perceber a ação de Deus em nossa vida.
Tornamo-nos cegos e surdos à sua mensagem. Que Ele possa entrar em nossos
corações e fazer as maravilhas que somente Ele é capaz, dando-nos o exemplo de infinito
amor e doação.
1. Situando-nos
brevemente
Estamos no 23º domingo do Tempo Comum. Com o intuito de
uma interação sempre maior entre a Palavra e a Eucaristia, as duas mesas que
constituem um só ato de culto, é que propomos a reflexão da liturgia deste
final de semana.
Neste ano B, em que acompanhamos o Evangelho de Marcos,
a Palavra nos propõe um encontro com aquele que anunciou e mostrou presente o
Reino de Deus, por suas ações e ensinamentos: Jesus de Nazaré, que passou
fazendo o bem.
Sabendo que a liturgia “não esgota toda a ação da
Igreja” (SC, n.9), mas é seu cume e fonte (SC, n.10), importa também que,
especialmente neste mês da Bíblia, nos empenhemos, pessoal e comunitariamente,
para um encontro com o Cristo na Palavra. Como nos dizem os bispos reunidos em
Aparecida: “A Palavra de Deus não são meras palavras. A Palavra é uma pessoa
que fala e fala a outra pessoa. E, por ser pessoa, busca estabelecer uma
relação...” (Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja,
Documentos da CNBB, n.97, introdução).
Vejamos o que mais, em nossa comunidade, podemos
fomentar em termo de estudo e celebração em torno da Palavra de Deus.
2. Recordando a
Palavra
No evangelho de hoje, Jesus se
encontra novamente em território pagão; saindo da região de Tiro, passa por
Sidônia e continua até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole.
Apresentam a Jesus um homem surdo, que falava com dificuldade, pedindo que lhe
impusesse a mão. Afastando-se com o homem da multidão, Jesus tocou com os dedos
seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou-lhe a língua. Olhando para o céu,
suspirou e disse: Efatá! (abre-te). Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua
língua se soltou e o homem começou a falar sem dificuldade. Segue, então, a
recomendação insistente de Jesus para que não contassem nada a ninguém.
Contudo, quando mais ele recomendava, mais eles divulgavam seus feitos.
Isaías, dirigindo-se aos exilados
da Babilônia, anuncia uma nova situação para o povo, um novo tempo, um ”outro
mundo” que se avizinha. São palavras de ânimo e de esperança fundamentada na
ação libertadora de Deus: “é Ele que vem para nos salvar”.
“Não escolheu Deus os pobres deste
mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?”
É este questionamento de São Tiago, finalizando a segunda leitura de hoje. Não
é exatamente isso que Jesus expressa no seu atendimento atencioso aos doentes e
pobres? É propriamente a fé em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado que não
admite a acepção de pessoas.
3. Atualizando a
Palavra
A atividade de Jesus em território pagão realça a
universalidade da sua missão. Marcos assim destaca que Jesus veio para
comunicar a vida a todas as pessoas, abolindo a distinção entre povos impuros e
povo puro.
O gesto da imposição das mãos, solicitado pelos que
trouxeram o homem surdo, era um gesto familiar a Cristo e de uso tradicional
para a transmissão de poder e autoridade, para a transmissão de bênçãos. Os que
trouxeram o enfermo pensavam, pois, que esse gesto fosse essencial para a cura.
Jesus, apartando-se da multidão com o surdo-mudo, queria
muito provavelmente evitar qualquer mal-entendido de cunho messiânico. Jesus
colocou os dedos em seus ouvidos, como que indicando que ia abri-los, e,
cuspindo, com a saliva tocou a língua dele. Vale lembrar que, na antiguidade, a
saliva era considerada remédio.
Os gestos e os toques de Jesus vão despertando,
excitando a fé daquele homem, preparando-o para o que vai realizar (ver Isaías 50,
4-5). Antes da palavra de ordem para a cura, Jesus, olhando para o céu
suspirou, assim indicando que a cura que haveria de seguir era obra do Pai, a
fonte de todo o bem. Depois de sua oração silenciosa, ordenou a cura: abre-te
(efatá)! “Imediatamente seus ouvidos se abriram e sua língua se soltou e ele começou
a falar sem dificuldade”.
Uma vez que Marcos não se refere nem à possessão, nem a
algum espírito, como faz em tantos outros casos, é bem provável que se tratasse
de um defeito natural. Cristo, consciente de que realizava o plano do Pai e não
buscava “atrair holofotes” sobre si mesmo, além de afastar-se da multidão para
realizar a cura, recomenda insistentemente que não o digam a ninguém. Marcos
evoca Isaias, lembrando que Jesus havia feito os surdos ouvirem e os mudos
falarem. Foi Jesus mesmo que, interrogado pelos mensageiros do Batista se ele
era o Messias, deu exatamente essa resposta (Cf. Mt 11, 1-6-; Lc 7,18-23).
Quando os israelitas exilados encontravam-se desanimados
e abatidos, o profeta oferece-lhes um oráculo de esperança e de reconforto:
“Coragem! Não temias! O vosso Deus vem para vos salvar!” (v.4). Segundo o
profeta, Deus está para entrar em ação em favor deles. Com Jesus tem início o
cumprimento dessas promessas messiânicas.
Num tempo em que a falta de sentido, a desesperança e a
depressão golpeiam cada cristão em particular. Nossas comunidades devem
oferecer uma mensagem de alento, colocando-se ao lado dos perseguidos e
marginalizados, testemunhando ao mundo em que Deus, nosso Pai, cuida de todos
como seus filhos e filhas.
As injustiças e desigualdades que verificamos
constantemente nossa sociedade, as quais, muitas vezes, são até banalizadas,
jamais poderão ser aceitáveis no seio das comunidades cristãs (2ª leitura). Os
preconceitos discriminatórios, praticados dentro das comunidades cristãs, constituem
pecados graves que precisam ser extirpados, uma vez que estas foram
constituídas justamente para serem um sinal de esperança para os empobrecidos e
marginalizados.
4. Ligando a Palavra com
a Ação Eucarística
Redimidos e adotados como filhos e filhas, esperamos
pela fé em Jesus Cristo, de nosso bondoso Pai, a verdadeira liberdade e a
herança eterna. Jesus Cristo em sua atividade provoca a admiração das pessoas,
porque faz bem todas as coisas.
Na Oração Eucarística VI-D, reconhecemos na ação do Filho,
a fidelidade e a misericórdia do Pai: “Ele sempre se mostrou cheio de
misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se
ao lado dos perseguidos e marginalizados. Com a vida e a palavra anunciou ao
mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas”.
“Não deixem o altar da Eucaristia a não ser para ir ao
altar dos pobres. Pois o mesmo corpo de Cristo que servimos no memorial de sua
Paixão e da sua Ressurreição é o que temos agora de servir na pessoa dos
pobres. O altar é também símbolo do festim, da hospitalidade divina para o qual
todos os homens são convidados. Enquanto na Eucaristia tudo recebemos, ao
comungar, o Corpo e o Sangue de Cristo, no altar dos pobres temos de
corresponder, de dividir o dom recebido, temos de fazer a doação de nós mesmos”
(cf. CORBON, J. Liturgia da fonte. Soa Paulo, Paulinas, 1992. P.187).
Alimentados e fortalecidos pela Palavra e pelo Pão, dons
de Jesus Cristo, esperamos viver com ele para sempre. Esperamos ainda que a
nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os laços da amizade.
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