À ESCUTA DA PALAVRA.
BILHETE DE EVANGELHO.
“Não separe o homem o que Deus uniu…”
Quando Jesus pressente que Lhe querem estender uma armadilha, Ele
refere-se à vontade de seu Pai. Ora, Deus tem um projecto que submete ao
homem, e este, porque foi criado livre, realiza este projecto ou
recusa-o. O mais belo projecto de Deus é o homem, a sua criatura. Como
Ele o criou à sua imagem, fê-lo como ser de relação. É por isso que Ele
cria a humanidade, homem e mulher, e a sua comunhão significa algo de
Deus que em si mesmo é comunhão.
O que conta numa obra artística não são
primeiramente as interpretações ou os comentários que são feitos, mas a
intenção do autor. Face ao amor do homem e da mulher, não comecemos por
olhar como é vivida hoje a relação, mas contemplemos o sonho de Deus e
tenhamos sobre os casais o olhar de Deus, que vê que aquilo que Ele fez é
bom ou que oferece a sua misericórdia àqueles que não puderam ou não
quiseram interpretar o seu projeto.
“Não separe o homem o que Deus uniu…” Jesus coloca o dedo na ferida… O
divórcio é sempre um fracasso, um sofrimento. Mas entrou nos costumes
como uma realidade normal, um “direito”! Jesus está contra a corrente…
Palavra incompreensível para muitos homens e mulheres, qualquer que seja
a sua idade! Na sua resposta aos fariseus, Jesus recorre a um critério a
que geralmente se presta pouca atenção. Vai ao “princípio da criação”, à
vontade primeira, à vontade criadora de Deus. Ora, esta vontade é que
os seres humanos se tornem “imagens de Deus”, na medida em que aceitem
entrar uns e outros nas relações de amor recíproco, porque Ele, Deus, é
eterno movimento de amor no seu Ser mais profundo.
O casal humano, antes
mesmo da questão da procriação, é chamado por Deus a tornar-se o
primeiro lugar de incarnação deste movimento de amor. O amor humano, sob
todas as suas formas, não nasceu dos acasos da evolução biológica. É
dom de Deus. Quando os homens recusam este dom, impedem Deus de imprimir
neles a sua imagem. Na realidade, vão contra a vontade criadora,
introduzem uma desordem na criação tal como Deus a quis. Porque Ele
escuta plenamente o seu Pai e acolhe sem quaisquer reticências nem
recusas a vontade de amor do seu Pai, Jesus, e apenas Ele, pode
colocar-nos na luz de Deus Criador e da sua vontade criadora.
Mas isso
supõe que aceitemos escutar Jesus, tomar Jesus na nossa vida. Só
poderemos compreender a exigência de unidade e de fidelidade no amor
humano se aceitarmos tornar-nos, dia após dia, discípulos, mais ainda,
amigos de Jesus. Para resolver os nossos problemas afetivos, temos
razão em recorrer à psicologia, à psicoterapia do casal. Mas isso não
basta.
A verdadeira falta é uma falta de profundidade espiritual. Não
servirá de nada a Igreja repetir sem cessar a sua oposição ao divórcio
se, primeiro, não fizer imensos esforços para ajudar a redescobrir um
verdadeiro acompanhamento com Jesus, revelador do amor do Pai.
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