27º DOMINGO TEMPO COMUM
– ANO B
07 DE OUTUBRO DE 2012
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“Portanto, o
que Deus uniu o homem não separe”
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Leituras:
Gênesis 2, 18-24;
Salmo 127 (128);
Hebreus 2, 9-11;
Marcos 10, 2-16.
COR LITÚRGICA: Verde
Nesta celebração pascal, Jesus deixa claro o valor da
união entre o homem e a mulher, que unidos em matrimônio, constituem uma
unidade, e que nas dificuldades do dia-a-dia lutam mais ainda pelo seu amor
eterno, para que não seja abalado. Ele também acolhe e abençoa as crianças, que
são as maiores vítimas de uma sociedade injusta, e sofrem as conseqüências de
uma família sem estrutura.
1. Situando-nos
brevemente
Estamos no início de outubro, mês missionário, do
Rosário e também um mês político, pois, nas eleições para prefeitos e
vereadores, escolheremos aqueles que governarão nossas cidades, nos próximos
quatro anos. Quantas vezes já ouvimos falar que a Igreja não deve se meter na
política e sim cuidar da religião, das coisas de Deus, o que nos parece certo,
se entendermos por política as diferentes concepções e maneiras de se governar,
próprias dos partidos políticos.
No entanto, se política for a arte de governar e
conduzir uma cidade, nação ou estado, então, como cidadãos, temos não só o
direito, mas também o dever de participar. Por isso, votar é, antes de tudo, a
participação de todo cidadão, seja ele cristão ou não, visando à construção de uma
sociedade menos injusta e mais igualitária. Sem dúvida, a luz do evangelho é
fundamental nesta luta de participação democrática.
As leituras do 27º domingo do Tempo Comum apresentam uma
temática sempre atual: a união matrimonial. Fruto do amor de um homem e uma
mulher, o matrimônio aparece como projeto de Deus para o ser humano na busca da
realização e da felicidade. Esse amor fiel, construído e fundamentado na doação
e na entrega, será para o mundo um reflexo do amor de Deus para como ser
humano.
Os textos bíblicos situam o debate em seu verdadeiro
horizonte, trazendo a intenção originária do Criador. Essa forma enfatiza a
fidelidade no matrimônio, proibindo explicitamente o divórcio. Fidelidade é um
valor imprescindível no casamento cristão. O adultério é a ruptura de uma
relação que deve ser concebida não como um simples contrato legal, mas como uma
disposição de vida, uma aliança estável, à semelhança daquela que o meso Deus
fez com seu povo, alimentada pelo amor e não pela lei.
Entremos em comunhão com a Igreja que hoje, em Roma,
inicia o Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização para a transmissão da fé
cristã.
2. Recordando a
Palavra
O texto proposto pelo Gênesis
situa-se no chamado “Jardim do Éden!”. Lugar criado por Deus para o homem, obra
prima de suas mãos. Um ambiente de felicidade onde, aparentemente, todas as
exigências da vida humana são contempladas. A história de Adão e Eva é
classificada como uma narrativa didática das origens.
Para surpresa de muitos, todos os
nomes aqui são simbólicos, revelando uma realidade humana. Cada um tem um
significado. Adão, do hebraico, Adam
que significa humanidade, ser humano. Esta palavra pode estar ligada também com
a palavra hebraica adamá, que
significa terra. Eva, do hebraico, Hawah
que quer dizer mãe de todo os viventes.
O texto manifesta o desejo de Deus
em criar uma companheira para o homem. O homem não estava plenamente realizado,
faltava-lhe alguém com quem partilhar a vida.
Deus colocou, nas mãos do homem,
chamado aqui de Adão, os animais e as aves. Pelo fato de falar que Adão lhes
deu o nome, dá a entender que Deus lhe atribuiu também a autoridade sobre tudo
o que foi criado, ou seja, participação na obra da criação.
Adão deu um nome para cada animal
criado por Deus. Porém, entre os animais e aves criados, ele não encontrou uma
companheira, uma auxiliar. Da costela (lado) de Adão, Deus então cria a mulher.
Nosso texto termina com um
comentário próprio do autor: “por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir
à sua esposa, e os dois serão uma só carne”. O homem não foi criado para viver
sozinho, mas para viver em contínua relação.
A segunda leitura, da Carta aos
Hebreus, foi escrita para os cristãos abalados na fé, por causa da perseguição
judaica e romana, e desapontados com a demora da volta de Jesus, pois com Ele
viria a salvação.
O autor procura animar esses cristãos,
apresentando um Jesus Sacerdote, que tem compaixão de seu povo e que é capaz de
doar sua própria vida em favor de cada um.
Esse Jesus, motivo de escândalo
para os judeus, é aquele que aparece coroado de glória e honra. Feito menor que
os anjos e considerado maldito, por ter pendido no madeiro da cruz, é ele agora
motivo de contradição e escândalo.
Jesus, mesmo sem ter pecado algum,
provou a morte para que ninguém mais morra. Doou-se no lugar de todos. A vida,
extirpada na cruz, alcança sua plenitude, a salvação para todos. Ele tinha
consciência que precisava da entrega total, como um cordeiro no matadouro, para
que a humanidade fosse salva.
No final do texto, Jesus e cada um
de seus resgatados formam uma única pessoa. É pelo sangue derramado de Jesus,
que cada um pode chamar o outro de irmão.
No evangelho, Marcos nos leva a uma
análise sincera do matrimônio e da opção preferencial de Jesus pelos pobres. Os
fariseus que conheciam muito bem a Lei de Moisés, os costumes e a tradição,
questionam Jesus, com a má intenção de colocá-lo em contradição.
A pergunta – é permitido ao homem
repudiar sua mulher? – nada mais é do que uma tentativa de colocar Jesus em
contradição frente à Lei, dando-lhes assim motivos para condená-lo. Eles já
sabiam a reposta, mas queriam saber se Jesus estava do lado de Moisés ou
confirmava ser um deserto da Lei.
Jesus responde à pergunta dos
fariseus com outra pergunta e confirma que, na Lei de Moisés, havia realmente a
possibilidade de se fazer a carta de divórcio. No entanto, esta carta se
justificava devido à “dureza dos corações”.
Usando das palavras do próprio
Gênesis, Jesus qualifica e consagra a união matrimonial, afirmando que Deus os
fez homem e mulher. Estes deverão deixar seu pai e sua mãe para se unirem e não
serão mais duas pessoas, mas uma só.
Conclui, então, Jesus, dizendo que
o que Deus uniu o homem não pode separar. Esta frase conclusiva da argumentação
de Jesus soa como um ditado popular da época, hoje, um provérbio muito usado.
Com o v.10, começa uma nova cena,
Jesus se encontra em outro lugar, mas a temática é a mesma. Interpelado agora
pelos discípulos, continua ensinando e se dirige primeiro aos homens: “quem
despede sua mulher e se casa com outra, comete adultério”. Depois, fala às
mulheres: “e se uma mulher despede seu marido e se cada com outro, comete
adultério também”.
No v.13, surgem novos personagens:
as crianças. Os discípulos repreendiam os adultos que traziam crianças para que
fossem tocadas por Jesus. Provavelmente, eram crianças marginalizadas pela
sociedade judaica.
Jesus indignado com os discípulos,
chama-lhes a atenção, afirmando que o Reino de Deus é destas crianças e quem
não for capaz de se tornar como uma delas não fará parte dele. É preciso que os
adultos sejam puros, desprovidos de malícia, como as crianças, para que a
experiência do Reino aconteça.
O texto termina com Jesus
abençoando as crianças, isto é, dando a elas a dignidade e a atenção que,
provavelmente, não recebiam na sociedade e, talvez, nem na própria família.
3. Atualizando a
Palavra
A liturgia proposta para este domingo é uma reafirmação
da vocação de todo ser humano: o amor. Sem ele a vida não deixa de ser uma
experiência de solidão que condena qualquer um à triste experiência da morte.
Como diz São Paulo: “sem o amor, nada sou”.
A primeira leitura oferece segunda narrativa da criação
do homem e da mulher. O autor nos faz entender que o ser humano só encontra sua
plenitude na relação com o outro e, neste caso, o outro é o diferente da própria
vocação: homem e mulher.
Não há amor sem partilha, doação, seja no contexto espiritual
ou material. Por isso, Deus fez para o homem a mulher e para a mulher, o homem.
Ao ser tirada da costela (do lado) do homem, Deus igualou a mulher à dignidade
de seu companheiro, ambos participantes de sua criação.
A afirmação do homem: “Esta é realmente osso os meus
ossos e carne da minha carne”, exclui toda possibilidade de controle, domínio,
desigualdade de um sobre o outro. Se todos somos iguais diante de Deus, desde a
criação, devemos também, na prática cotidiana, demonstrar essa realidade.
Na segunda leitura, da Carta aos Hebreus, há destaque
para a condição de debilidade assumida por Jesus, levando-o à morte de cruz
para nos revelar a grandiosidade de Deus. Como sermos indiferentes a tão grande
gesto, ao ponto de duvidarmos de sua existência e de sua presença em nossa
vida? Ao assumir a natureza humana, Jesus nos aproximou do Criador e nos
indicou o caminho que devemos seguir para integrar a família de Deus.
A atitude de aceitação incondicional do projeto do Pai,
assumida por Cristo, contrasta com o egoísmo e a autossuficiência de Adão. A
obediência de Cristo trouxe vida plena ao homem. A desobediência de Adão trouxe
o sofrimento e morte à humanidade.
O exemplo de Cristo nos convida a viver na escuta atenta
e na obediência radical às propostas de Deus. Quando o homem prescinde de Deus
e de suas propostas, decidindo que é ele quem define o caminho a seguir,
fatalmente cai em projetos de morte, em suas mais variadas manifestações.
Quando o homem escuta e acolhe os desafios de Deus, aprende e entende o
verdadeiro sentido de sua criação.
O evangelho nos apresenta o projeto ideal de Deus para o
homem e para a mulher: a vivência de um amor forte e indestrutível, capaz de
sobreviver a todas as tensões, fraquezas e dificuldades. Apesar da fragilidade
que o amor humano pode manifestar, a garantia desta qualidade está na presença
de Deus que é AMOR.
Muitas vezes, as preocupações com bens materiais, como o
dinheiro, com a realização profissional e outras mais fazem com que o ser
humano acabe descuidando dos valores próprios de toda relação humana e
familiar, não tendo mais tempo para o que é verdadeiramente importante. Às vezes,
só quando não mais dá tempo para mudar, é que se vê o equívoco.
Atualmente, a constante mudança dos valores em nossa
sociedade, apresentada principalmente pelos meios de comunicação social,
dificulta a fidelidade dos esposos. Em muitos casos, uma simples dificuldade já
serve de motivo para a separação. Existem uniões que já começam praticamente
pensadas para durarem determinado tempo: sem o sacramento, com separação de
bens...
A separação será sempre o fracasso do amor. Só o amor
eterno, manifestado em um compromisso indissolúvel, está de acordo com o que o
Criador nos ensinou, respeitando desta forma seu verdadeiro projeto.
4. Ligando a Palavra com
a Ação Eucarística
Hoje, a Eucaristia nos faz entender que o matrimônio é
uma relação estável e permanente e que o amor deve ser a única razão desta
união. Neste sentido, o homem e a mulher tornam-se imagens de Deus que é
essencialmente amor.
Nesse amor, o casal será capaz de encontrar a luz e a
força para superar os diversos obstáculos próprios do dia a dia da vida
conjugal. A fidelidade permanente dá estabilidade ao casamento como
instituição, fator essencial para a procriação.
Mesmo diante de projetos bem pensados e desejados, a vida
humana carrega marcas de contradição. Nem sempre as pessoas, apesar de seu
esforço e de sua boa vontade, conseguem ser fieis aos ideais prometidos.
Neste sentido, como comunidade cristã, devemos usar
muita misericórdia e compreensão, sem cultivar o desejo de julgar aqueles que,
por diferentes motivações e realidades, não conseguem cumprir o projeto de amor
assumido. Em nenhuma circunstância, as pessoas divorciadas devem ser rejeitadas
ou afastadas da comunidade cristã.
As crianças que Jesus nos apresenta no evangelho deste
domingo são modelos a serem seguidos. Que em nossa simplicidade consigamos
vencer tudo o que possa nos separar de Deus, do próximo e, como conseqüência,
do Reino por ele desejado.
Nós rezamos na oração eucarística IV: “Nós proclamamos a
vossa grandeza, Pai santo, a sabedoria e o amor com que fizestes todas as
coisas: criastes homem e mulher à vossa imagem e lhes confiastes todo o
universo, para que, servindo a vós, seu Criador, dominassem toda criatura. E,
quando pela desobediência, perderam a vossa amizade, não os abandonastes ao
poder da morte, mas a todos socorrestes com bondade, para que, ao procurar-vos,
nos pudessem encontrar”.
Anunciando e proclamando este grande mistério, na
celebração e na vida, renovamos nossa relação profunda com Deus, Uno e Trino,
com as pessoas, com toda a criação e, de maneira particular, com os pequenos e
pobres, como nos ensina Jesus no evangelho.
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