«Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por
vós.»
S. Lucas 9,46-50.
Naquele
tempo, veio então ao pensamento dos discípulos qual deles seria o maior.
Conhecendo Jesus os seus pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si
e disse-lhes: «Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe,
e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais
pequeno entre vós, esse é que é grande.»
João tomou a palavra e disse:
«Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele
não te segue juntamente connosco.»
Jesus disse-lhe: «Não o impeçais,
pois quem não é contra vós é por vós.»
Comentário :
«E impedimo-lo, porque ele não Te segue juntamente connosco.» Jesus
disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por
vós.»
O ecumenismo busca precisamente fazer crescer a comunhão parcial existente
entre os cristãos, até à plena comunhão na verdade e na caridade. Passando dos
princípios, do imperativo da consciência cristã, à realização do caminho
ecuménico rumo à unidade, o Concílio Vaticano II põe em relevo sobretudo a
necessidade da conversão do coração. O anúncio messiânico – «completou-se o
tempo e o Reino de Deus está perto» – e o consequente apelo – «convertei-vos e
crede no Evangelho» (Mc 1, 15) – com os quais Jesus inaugura a Sua missão
indicam o elemento essencial que deve caracterizar qualquer novo início.[...]
«Não existe verdadeiro ecumenismo sem conversão interior». O Concílio apela,
tanto à conversão pessoal, como à conversão comunitária. [...]
Assim, cada um tem de se converter mais radicalmente ao Evangelho e, sem nunca
perder de vista o desígnio de Deus, deve rectificar o seu olhar. Com o
ecumenismo, a contemplação das «maravilhas de Deus» (mirabilia Dei)
enriqueceu-se com novos espaços onde o Deus Trino suscita a acção de graças: a
percepção de que o Espírito age nas outras comunidades cristãs, a descoberta
de exemplos de santidade, a experiência das infindáveis riquezas da comunhão
dos santos, o contacto com aspectos surpreendentes do compromisso cristão.
E, correlativamente, estendeu-se também a necessidade de penitência: a
consciência de certas exclusões que ferem a caridade fraterna, de certas
recusas em perdoar, de um certo orgulho, daquele entrincheiramento
anti-evangélico na condenação dos «outros», de um desprezo que deriva de falsa
presunção. Assim, toda a vida dos cristãos está marcada pela solicitude
ecuménica e, de certo modo, eles são chamados a deixar-se plasmar por ela.
Beato João Paulo II (1920-2005), papa
Encíclica «Ut unum sint», §§ 14-15
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