«Se alguém quiser vir Comigo [...] tome a sua cruz e siga-Me»
S. Mateus 16,24-28.
Naquele tempo, Jesus disse, então, aos discípulos: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la.
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que poderá dar o homem em troca da sua vida?
Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme o seu procedimento.
Em verdade vos digo: alguns dos que estão aqui presentes não hão-de experimentar a morte, antes de terem visto chegar o Filho do Homem com o seu Reino.»
Reflexão:
«Se alguém quiser vir Comigo [...] tome a sua cruz e siga-Me»
Dois anos antes da sua morte, Francisco percebeu que depois de ter imitado a Cristo durante a vida, devia agora também imitá-Lo na Sua Paixão. Isto em nada o assustou, tanto mais que, transportado para Deus pelos desejos dum arrebatamento absolutamente seráfico e transformado pela compaixão n'Aquele que, «pelo amor imenso» (Ef 2,4), quis ser crucificado, enquanto rezava numa certa manhã na encosta da serra que se chama Monte Alverne, por alturas da Festa da Exaltação da Santa Cruz, viu descer do céu um serafim com seis asas resplandecentes como lume. De uma assentada chegou perto do homem de Deus, e uma pessoa apareceu então por entre as suas asas: era alguém crucificado, com os braços e as pernas estendidos e pregados a uma cruz.
Esta visão mergulhou Francisco no mais profundo assombro, uma vez que no seu coração se misturavam a tristeza e a alegria. Rejubilava com o olhar benevolente com o qual se viu estimado por Cristo na figura dum serafim, mas aquela crucifixão trespassava a sua alma de dor e de compaixão como uma espada (Lc 2,35). Desse modo, essa visão maravilhosa mergulhou-o na mais alta perplexidade, até porque sabia que um ser imortal como um serafim não podia de maneira alguma suportar os sofrimentos da Paixão. Por fim, graças à luz do Céu, compreendeu por que razão a divina Providência lhe enviara uma visão assim: não era pelos martírios do corpo que devia transformar-se na figura de Cristo crucificado, mas através do amor que incendeia a alma.
São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja
Vida de S. Francisco, Legenda Major, cap. 13
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