Amas-me? Segue-me!
«Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de Jonas, tu Amas-me
mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu sou teu Amigo”. Jesus
disse: “Apascenta os meus cordeiros”.
Jesus perguntou de novo a Pedro: “Simão, filho de Jonas, TU AMAS-ME?” Pedro respondeu:
“Sim, Senhor, tu sabes que eu sou teu Amigo”. Jesus disse: “Apascenta as minhas ovelhas”.
À terceira vez, Jesus perguntou a Pedro: “Simão, filho de Jonas, TU ÉS MEU AMIGO?” Então
Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou à terceira vez: ‘Tu és meu Amigo’. E disse a Jesus:
“Senhor, tu conheces tudo, e bem sabes que eu sou teu Amigo”.
Jesus disse: “Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo punhas o cinto e ias para onde querias. Quando fores mais velho, estenderás as mãos e outro te apertará o cinto e te levará para onde não queres ir”.
Jesus disse isto anunciando a morte com que Pedro iria dar glória a Deus.
E depois Jesus acrescentou: “SEGUE-ME”.» Jo 21, 15-19
Interpretar
Este encontro recriador de Jesus com Pedro é narrado em contexto pascal. A experiência pascal dos discípulos é uma experiência interior possibilitada pelo Espírito Santo, dom de Jesus na sua Ressurreição.
Ao escrever os evangelhos, muitos anos depois da morte e ressurreição de Jesus, era necessário anunciar o sentido e a novidade desta experiência. Além disso, no tempo em que os evangelhos são escritos (o de João foi o último, mais de 60 anos depois da experiência pascal!) a Igreja nascente tinha que enfrentar algumas mentiras e boatos que corriam de que Jesus não tinha ressuscitado, e tudo eram apenas alucinações coletivas dos discípulos por causa da tristeza de terem perdido o Mestre.
Então, no estilo literário da época, os evangelistas vão elaborar relatos simbólicos e catequéticos em que colocam Jesus Ressuscitado a fazer as mesmas coisas que fazia antes da morte, e do mesmo modo. Por isso, o que está no fundo da linguagem destes relatos é o seguinte testemunho: “Este que agora experimentamos interiormente como Ressuscitado é o mesmo com quem caminhamos, aprendemos, convivemos e comemos antes de o matarem. Não é um fantasma, nem uma alucinação nossa! É Jesus, o nosso Mestre, agora ressuscitado pelo poder de Deus e fonte do Espírito Santo para todos!”
Neste diálogo de Jesus Ressuscitado com Pedro, o segredo está na diferença entre o Amor que Jesus pede na pergunta, e o amor que Pedro é capaz de dar em resposta… Jesus pede um Amor à sua medida, ao seu jeito: “Amai como eu vos amo”… Na língua do Novo Testamento, o grego, Jesus pede Agapê. Quando a bíblia diz “Deus é Amor”, diz “Deus é Agapê” (1Jo 4, 8) Mas Pedro só é capaz de retribuir ainda com amizade, que no original se diz Filia… No entanto, caminhará no seguimento de Jesus assim mesmo… Até ao testemunho máximo da morte violenta que deve ter acontecido em Roma, por volta do ano 62 d.C., na mesma altura do Apóstolo Paulo e muitos outros cristãos.
Meditar
Imagino sempre o rosto paciente de Jesus repetindo o “Amas-me?” quase soletrando, para que Pedro entendesse bem o que lhe estava a pedir. E dou-me conta de que também é quase sempre assim conosco: há uma grande distância entre as Propostas e as Respostas na nossa relação com Deus.
E nem outra coisa podia acontecer, porque Deus sonha e chama para o melhor da vida aqueles que ainda estão a construí-la! Deus nunca “sonha pequeno”, quando se trata de nos amar… Deus sonha sempre “em grande”, quando está em causa a “menina dos seus olhos”! Por isso vivemos serenos com Deus, mesmo não respondendo “na mesma moeda”, porque Deus só nos pede que respondamos “na nossa moeda”. Sim, “amor com amor se paga”, mas o nosso amor em construção não pode responder ao Amor em Plenitude de Deus sem ficar “curto”. E Deus permanece sereno… e nós também devemos aprendê-lo…
O Deus revelado em Jesus de Nazaré não é um “moralista divino” a colocar-nos fasquias que temos que alcançar, medidas e normas vindas de cima e que nos esmagam com as suas exigências. DEUS É AMOR, e todo o Seu diálogo conosco acontece na densidade amorosa do Espírito Santo que em nós diz a Sua Palavra, sem imposições. Por isso, Jesus de Nazaré, o Ressuscitado, não se “zanga” com Pedro por este não conseguir ainda responder ao “Amas-me?” com um “Amo-te!” à medida. DEUS É PACIENTE, e o Seu Messias é disso revelação. Na bíblia, a Graça de Deus explica-se como a atitude de Deus que se “baixa”. O Deus-Graça é o “Deus que se debruça”, o não-pretensioso, não-vaidoso, não-distante. Aquele que se debruça até se tornar “Emanuel, Deus conosco”!
Em Jesus de Nazaré, o Deus a quem nos habituamos a chamar Altíssimo, revela que, afinal, Ele prefere ser o Deus-Baixíssimo, o Deus conosco e entre nós, o Amor que permanentemente “vem para servir e não para ser servido”, o Amor que nos “lava os pés” para nos pôr sempre a caminho na Vida de maneira nova. Por isso, Jesus “baixa a fasquia” da Proposta a Pedro.
À terceira vez, não continua a insistir no “Amas-me?”, e pergunta-lhe: “És meu Amigo?”Em vez de “puxar Pedro por uma orelha” para o pedestal altíssimo da sua Pergunta, Jesus “baixa” ao nível da sua Resposta. Deus não desiste de nós, mas também não nos impõe o impossível! O Amor de Deus nunca deixa de nos fazer crescer, inspirar a conversão e animar mudanças, mas nunca o faz pelo caminho da opressão ou da ameaça. Deus aceita o que somos, assume-o e consagra-o, para que venhamos a ser mais. Por isso, o Amor de Deus acontece no nosso coração como um permanente “Segue-me!”
Para quê? Para que cheguemos a amar mais e melhor, mais à medida de Deus que é “Amor sem medidas”, para que cheguemos a aproximar cada vez mais as nossas Respostas às Propostas que Ele nos faz.
Deus introduz-nos na LÓGICA DO AMOR CRESCENTE. E é neste Amor Crescente que a nossa Vida se vai recriando, como Pedro se recriou das três negações. É sempre no Amor que Deus nos refaz.
“Junta os nossos cacos” e molda-nos de novo com o Seu Sopro de Vida e a Sua Palavra que se torna Caminho cheio de Sentido para continuar a caminhar. Abrir-se ao diálogo íntimo com Jesus Ressuscitado, o Messias de Deus, é abrir-se ao perdão, à libertação, à cura interior dos nossos mais escondidos medos e memórias. Sim, precisamos sempre de um Amor maior que tudo isso para que nos encontremos mais livres e leves.
Além disso, abrir-se ao diálogo íntimo com Jesus Ressuscitado, é deixar-se configurar pelo Espírito à sua imagem e semelhança. Tornamo-nos continuadores da sua Missão, prolongadores da sua Passagem Libertadora, testemunhos da sua Presença. Por isso Jesus pede a Pedro que “apascente as suas ovelhas e os seus cordeiros”. Ele que disse. “Eu sou o Bom Pastor!” (Jo 10, 11), confia a Pedro a missão de continuar e explicitar o seu Amor de Bom Pastor, aquele que “dá a Vida pelas suas ovelhas”, e dá Vida às suas ovelhas! Pede-o a Pedro, como o pede a nós…
“O Senhor é meu Pastor, conduz-me a pastos abundantes onde sacia a minha fome, e leva-me a nascentes de águas cristalinas onde sacia a minha sede” (Sal 23, 1-2)
O Bom Pastor é o que alimenta da Palavra e sacia com o Espírito Santo, nos prados verdejantes ou nas escarpas mais agrestes da nossa Vida.
E nós, seus Amigos, somos chamados a colaborar com o Pastor, dando testemunho da Palavra e tornando-nos instrumentos do Espírito. Esta é a Missão que brota do nosso “Amor Crescente” a Jesus. Até quando?... Até ao fim, até chegarmos à maturidade do coração, quando nos tornamos menos “senhores do nosso nariz” e, como Pedro, aprendemos a deixar-nos conduzir!
Até que doa, se for preciso, até à morte! Porque já nem esta assusta os Discípulos e Apóstolos de um Ressuscitado. Afinal, VAMOS À MORTE, QUE A VIDA É CERTA…
Orar
Bom Deus, dá-me sempre um Amor Crescente.
Ajuda-me a amar-Te mais e melhor, e a aproximar as minhas Respostas às Propostas de Vida que me fazes.
Obrigado por desceres ao “pouquinho” do meu amor, para o assumires e consagrares.
Obrigado por seres simples, e nunca me desprezares.
Ajuda-me a Seguir mais verdadeiramente Jesus Cristo, para que tudo o que sou se torne mais à sua imagem e semelhança, e aprenda a confiar mais a minha Vida nas Tuas mãos amorosas.
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