O amor de Deus, razão de ser de nossa vida
A vida de cada um de nós é um mistério de amor divino, pois do amor de Deus recebemos o que somos e, pela imitação de Cristo e sob a ação do Espírito Santo, encaminhamo-nos para a plenitude do amor de Deus todos os que fomos consagrados pelo batismo e, na Igreja, fizemos profissão de castidade, pobreza e obediência.
Como fiéis em Cristo, dizemos: “Vede com que grande amor o Pai nos amou, para sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato!” (1Jo 3,1). Totalmente dedicados a Deus pela profissão, em seu amor de predileção reconhecemos a fonte da graça que aqui nos justifica e da bem-aventurança que no céu esperamos alcançar.
O amor de Deus, que nos inspira e nos chama, é a razão de ser de nossa vida. Ele nos amou primeiro (cf. 1Jo 4,10), e nós procuramos amá-lo de todo o coração.
A contemplação, caminho para a união com Deus
Quando falamos de contemplação, falamos do mistério ao qual nos achegamos com gozo e temor, com espanto e tremor, seduzidos pelo amor eterno de Deus. Pela graça da contemplação, o próprio Deus nos aproxima daquilo que não podemos compreender, do que não podemos pronunciar, pois nos aproxima do abismo de amor da Trindade Santa, da comunhão no amor com seu Filho Jesus Cristo, do milagre de amor realizado pela graça.
Pela graça da contemplação nos unimos a Deus com o espírito e o coração (cf. Perfectae Caritatis 5).
A contemplação não é fonte de conhecimentos para o orgulho de quem muito sabe, mas fonte de comunhão para a humildade de quem tudo recebe.
E assim, a contemplação é também fonte de louvor e de alegria, pois ambas brotam do reconhecimento da obra de Deus em seus pobres, em nós: “Minha alma engrandece o Senhor; e rejubila meu espírito em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,46-48).
Vossa missão na Igreja
Os padres do Concílio Vaticano II viram os contemplativos e a vós assim: “Os membros dos Institutos totalmente ordenados à contemplação dedicam todo o seu tempo exclusivamente a Deus na solidão e no silêncio, na oração assídua e na penitência ardorosa” (Perfectae Caristatis 7).
Os padres do Concílio viram a Deus como horizonte único de vossa vida e viram a vós como um sacramento do primeiro e principal mandamento da lei que devemos observar: “O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente, com todas as forças” (Dt 6, 4-5; cf. Mt 22,37). “O coração”, “a alma”, “a mente”, “as forças”, tudo parece estar recolhido e resumido naquilo que o documento conciliar chama “seu tempo”, vosso tempo, quer dizer, vossa formosa vida.
Os padres do Concílio viram também os lugares de vossa entrega e os chamaram de solidão e silêncio, oração assídua e penitência ardorosa.
Viram-vos na solidão e no silêncio, que, mais do que notas características da vida num mosteiro, são ornamento da alma, são interioridade reservada ao único Senhor, que é amor que tudo enche e palavra que tudo diz. E porque vos viram no segredo de vossa morada interior, viram-vos em oração assídua, pois ali, no esconderijo do coração, estais sempre a sós com Deus.
Solidão, silêncio e oração, lugares para a entrega dos contemplativos, devem ser preservados pela ação vigilante e perseverante da penitência, penitência alegre porque torna possível a felicidade do encontro com o Senhor.
Os padres do Concílio viram assim vossa missão no Corpo místico de Cristo: “(Os institutos contemplativos) oferecem a Deus um exímio sacrifício de louvor, honram o Povo de Deus com a abundância dos frutos de santidade, movem-no pelo exemplo, fazendo-o crescer por uma arcana fecundidade apostólica” (Perfectae Caritatis 7).
Na realidade, o olhar da Igreja, que antes se fixou na entrega de cada um dos contemplativos, agora se fixa no conjunto destes filhos e filhas para ela tão queridos, e vê subir ao céu, a partir de cada Instituto, um magnífico sacrifício de louvor, no qual ressoam harmoniosamente hinos, salmos e cânticos, leituras e responsórios, bênçãos e súplicas, clamores e silêncios.
A contemplação é o apostolado da concepção!
Com os frutos de santidade que amadurecem abundantes na árvore da vida contemplativa, honrais o Povo de Deus, o moveis com o exemplo de vossa vida e o fazeis crescer por uma arcana fecundidade do grão de trigo que morre e dá muito fruto.
Vosso carisma particular
O carisma é como o Espírito, como “o vento, que sopra para onde bem entende; tu ouves o ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai” (Jo 3,8). Não podemos descrever um carisma, mas podemos aproximar-nos dele, porque sentimos seu atrito na alma e ouvimos sua voz no coração.
Vossa consagração a Deus, que é total pela vocação recebida e busca ser total pela resposta dada, tem uma expressão misteriosa, mas real e verdadeira, que é o desponsório místico com Cristo – “os contempativos consagram-se totalmente a Deus, desposando a Jesus Cristo, nosso Redentor” –, e tem uma expressão igualmente real e verdadeira, porém, mais à vista de todos, que se concretiza na profissão dos conselhos evangélicos, vividos em comunhão fraterna.
Às vezes, alguém pensa em roubar tempo ao tempo para trazer para a própria vida o mistério da eternidade, para amar a Deus na terra com um coração dilatado pela felicidade do céu, para bendizer a Deus na terra com palavras próprias do céu, para oferecer-se a Deus na terra com uma entrega que só será possível no céu.
E assim, vós fizestes de vossa vida, de vosso tempo, de vossa peregrinação na terra, uma oblação pessoal, que vos consagra ao serviço do Altíssimo .
Na verdade, sois “ornamento da Igreja e fontes de graças celestes” (Perfectae Caritatis 7).Vosso irmão menor,
Padre Emílio Carlos+
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