2º DOMINGO DA PÁSCOA
14 de abril de 2012
Hoje, Jesus ressuscitado se faz presente entre nós.
“A fé cristã é, antes de tudo, adesão pessoal à pessoa de Jesus Cristo e ao seu Evangelho, acolhida do dom gratuito que vem de Deus” (CNBB DGAE. DOC 94, n.130A)
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Leituras: Atos 4, 32-35;
Salmos 117 (118), 2-4.16ab-18.22-24 (R/1);
Primeira Carta de João 5, 1-6;
João 20, 19-31.
COR LITÚRGICA: BRANCA OU DOURADA
Aleluia irmãos e irmãs! Neste segundo encontro da Páscoa, refletiremos sobre a fé no Cristo ressuscitado, no Cristo misericordioso, que nos dá o perdão e a paz, como fez com seus discípulos. Que possamos viver essa fé plenamente para sermos misericordiosos, a exemplo do Ressuscitado.
1. Situando-nos brevemente
Estamos no 2º Domingo do Tempo Pascal. Tempo no qual celebramos a ressurreição do Senhor, como único e grande dia, que se estende desde o domingo da Páscoa ao domingo de Pentecostes. “Os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (Normas Universais do Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral n.22).
Hoje, domingo da Divina Misericórdia, instituído pelo Beato João Paulo II, damos graças ao Senhor por seu eterno amor por nós, sempre disposto a nos perdoar, sempre que nosso coração arrependido volta-se para ele. Como Tomé, exclamamos maravilhados: “Meu Senhor e meu Deus”.
Reunidos em assembleia, motivados pela fé no Ressuscitado, celebremos, neste dia, sua manifestação na comunidade de seus discípulos. Acolhamos o dom da paz e do Espírito que nos constitui em artífices de relações novas, reconciliadas e fundadas na justiça e na misericórdia.
2. Recordando a Palavra
Jesus ressuscitado vai ao encontro e manifesta-se à comunidade reunida de portas fechadas e lhe deseja a paz: “A paz esteja convosco”!
Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O Ressuscitado é o crucificado! E repete: “a paz esteja convosco!” A comunidade acolhedora do Ressuscitado tem a missão de construir a paz, impulsionada pelo Espírito Santo. Missão que se traduz na construção de novas relações reconciliadas pelo perdão.
Tomé está ausente e não crê no testemunho da comunidade. Durante uma semana ele sustenta sua opinião e para crer no Ressuscitado, exige provas. Novamente, durante a reunião da comunidade, o Senhor ressuscitado se manifesta, saudando: “A paz esteja convosco”!
Sem repreendê-lo, Jesus convida Tomé a averiguar os sinais de sua paixão. Ante a evidência de ser o “Senhor crucificado e ressuscitado”, Tomé exclama: “Meu Senhor e meu Deus!” Esta exclamação revela atitude ideal da fé. Jesus completa com a mensagem final: “acreditaste porque me viste. Bem-aventurados os que não viram e creram!”. Felizes são todos aqueles que, sem terem visto, sem exigir provas materiais, acreditam que Jesus está nomeio de nós e é o mesmo que morreu crucificado (Evangelho).
O livro dos Atos dos Apóstolos ressalta que a experiência de amor da comunidade de fé no Senhor ressuscitado manifesta-se no espírito de comunhão fraterna e na partilha dos bens. A comunidade, alicerçada no amor fraterno e na partilha dos bens, constitui-se em testemunho credível da presença do Ressuscitado entre os seus discípulos, ao longo dos tempos (1ª Leitura).
Pelo banho batismal nos tornamos “filhos de Deus” e irmãos uns dos outros. Por conseqüência, não se pode amar a Deus, sem amar aqueles de quem ele é Pai. O sinal que atesta a caridade fraterna é a observância dos mandamentos de Deus. Quem cumpre a vontade de Deus, o Espírito Santo o levará ao conhecimento de toda a verdade sobre Jesus, o Filho de Deus, crucificado e ressuscitado (2ª Leitura).
3. Atualizando a Palavra
O primeiro encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos é marcado pela saudação feita por Ele: “A paz esteja convosco”. Por duas vezes o Ressuscitado deseja a paz a seus amigos. Em seguida, os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Buscar e construir a paz é a missão dos seguidores do Ressuscitado, pois o Reino de Deus, anunciado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidade animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz.
Reino de justiça, paz e alegria como frutos do Espírito Santo. O Apóstolo, amigo de Jesus, ressalta que a paz, para ser autêntica, deve ser trazida pelo Cristo. Uma paz diferente da paz construída pelos tratados políticos. Paz (Shalon) significa integridade da pessoa diante de Deus e dos irmãos. Significa também uma vida plena, feliz e abundante.
Paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da paz” (Rm 15,33). Paz significa muito mais do que ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo o necessário para viver, convivendo felizes.
A comunidade, que abre suas portas, acolhe o Senhor e o segue é enviada pelo Espírito do Ressuscitado a testemunhar o amor do Pai, isto é, a prolongar, no curso dos tempos, a oferta da vida que, em Jesus, Deus fez à humanidade. O reino da vida que Cristo veio trazer é incompatível com as situações desumanas em que vivem mergulhados milhões de seres humanos. “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e a anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade” (DAp, n.134)
Tomé não estava presente e não aceitou o testemunho do encontro com o Ressuscitado. Para crer, exigiu provas. Ele não desejava ver milagres, algo espetacular. Ele não acreditava num Jesus glorioso, vencedor da cruz. O discípulo personifica a dificuldade de muitos em acreditar na ressurreição. Oito dias depois, eis o Ressuscitado saudando a comunidade reunida e com ela, o discípulo Tomé. Jesus sem repreender, aceita a provocação do discípulo e o convida a tocar nos sinais de sua paixão. Isto é, Jesus confirma a convicção de Tomé, que era também a convicção de fé da comunidade, a saber: “o ressuscitado glorioso é o crucificado torturado”.
A exclamação “meu Senhor e meu Deus!” reflete a atitude ideal da fé. De incrédulo, Tomé se transforma em exemplo de quem deseja viver a fé em profundidade. Fé que liberta e introduz na comunhão.
O cristão isolado (ausente da comunidade) é vitima do egoísmo e exige provas para crer. É na vida da comunidade que encontramos as provas de Jesus que está vivo. Ser cristão, hoje, requer e significa pertencer a uma comunidade concreta, na qual se pode viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão.
Por esta razão, a marca registrada deste segundo domingo de Páscoa é a fé, vivida em comunidade. É em comunidade que se realiza o encontro com o Ressuscitado e a experiência de uma nova vida.
A comunidade eclesial é, portanto, o lugar primordial onde, na fé, se acolhe e se reconhece a presença e a atuação do Ressuscitado, onde se manifesta e se irradia seu amor. A figura de Tomé personifica aqueles que não valorizam o testemunho comunitário e são insensíveis aos sinais da presença do novo.
Pensam apenas em si mesmos e exigem demonstrações particulares. O Ressuscitado, por sua vez, nos assegura: “Felizes serão os que acreditarem sem ter visto”. Felizes são aqueles que aderem à pessoa de Jesus e, no cotidiano da vida, se empenham na esperança de um novo modo de viver.
A Igreja, como comunidade unida em um só coração, vivendo o amor, a partilha e a fidelidade à Palavra de Deus, é testemunha credível da ressurreição de Jesus, o Filho de Deus.
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
“Era o primeiro dia da semana”. O domingo é o dia da reunião da comunidade. Neste dia, o cristão reencontra a forma eucarística própria da sua existência, segundo a qual é chamado a viver constantemente: viver segundo o domingo, significa viver conscientemente a libertação e a realizá-la como oferta de si mesmo, para que a sua vitoria se manifeste plenamente a todos, através de uma conduta intimamente renovada (cf. Sacramentum Caritatis, nº72).
A comunidade de fé edifica-se pela participação daqueles que crêem na presença e aderem ao novo inaugurado pelo Ressuscitado. A ação litúrgica é o lugar privilegiado do encontro dos discípulos com Jesus Cristo. O Ressuscitado nos atrai para si e nos faz entrar no dinamismo das relações com Deus e com o próximo (cf. DAp, n. 250). É ele que, pelo Espírito, nos reúne e, como outrora à comunidade dos discípulos, nos deseja: “A paz esteja sempre convosco”. Reanima nossa fé e nos confirma na missão.
Assim como a comunidade dos discípulos ouviu o Senhor ressuscitado, na Liturgia da Palavra, pela proclamação das leituras bíblicas, é Jesus quem nos fala novamente. Como Tomé, somos convidados a manifestar nossa fé, rezando o Credo.
A comunidade assídua na escuta da Palavra e na Oração, consciente das maravilhas realizadas pelo Pai, em especial a Ressurreição de seu Filho, eleva hinos de ação de graças, pois “o Senhor, é bom, eterna é a sua misericórdia”!
A Eucaristia é o sacramento da paz. Ela atualiza a graça que o Senhor ressuscitado exprimiu com as palavras “a paz esteja convosco”. A Eucaristia oferece aos fieis a graça para viverem o espírito das bem-aventuranças e, de modo especial, a proclamação de Jesus Cristo: “Felizes os que promovem a paz” (Mt 5,9). Com o sacrifício da cruz, Jesus vence o pecado, a morte e toda espécie de divisão e ódio. Ressuscitado, concede a sua paz aos que promovem relações reconciliadas e reconciliadoras.
Hoje, Jesus ressuscitado se faz presente entre nós, quando nos reunimos para a oração; para a celebração da comunhão e da unidade cristã; para a partilha de vida; para gestos e ações de solidariedade com os menos favorecidos e em busca de soluções em favor de saúde e vida dignas.
Como Tomé e sua comunidade reunida num só coração, testemunhemos nossa fé na ressurreição do Senhor, pela unidade, vivendo o amor, a partilha e a fidelidade à Palavra de Deus.
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