Jesus, na Última Ceia, abriu inteiramente os tesouros da bondade de Deus, dando-se como alimento. Disse: “Tomai e comei, isto é meu Corpo que é para vós; Fazei isto em memória de mim ... Este cálice é a nova Aliança em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim” (1Cor 11,24-25). Com estas palavras, Jesus estava indicando o que deveriam fazer e o que significava aquilo que estava fazendo. Deveriam fazer o que Ele fez com o sentido que dava. Para compreender esta memória temos que buscar na ceia pascal hebraica a ordem que Deus deu a Moisés no Egito ao instituir a Páscoa: “Este dia será para vós um memorial” (Ex. 12,14). Quando perguntarem o que significa esse gesto, respondereis: “Este é o sacrifício da páscoa do Senhor, que passou ao lado das casas dos israelitas no Egito, quando feriu os egípcios, e salvou nossas casas” (Ex 12,27). Jesus celebrou a ceia pascal e nela fez sua Páscoa. O que fazemos não é lembrança da Última Ceia, recordação do que Jesus fez. O Missal Romano na festa de Corpus Christi nos dá a oração; “Deus, que neste admirável sacramento da Eucaristia nos deixastes o memorial de vossa Páscoa”. Não se trata de uma comemoração. O conceito não é do conhecimento do povo nem nós nos interessamos em aprofundá-lo. Dizemos que fazemos memória. A memória de Deus não é um simples recordar-se, mas é antes de tudo, um comportamento de Deus que intervém na realidade histórica... e assim penetra a ação. Lembramos o passado. E, como foi Deus quem realizou, permanece para sempre. Deste modo, estamos presentes ao mesmo acontecimento, não como um fato histórico, mas como uma realidade que permanece. O que Deus fez permanece e é colocado à disposição dos que o celebram. É o memorial de uma ação salvífica. O fato acontecido revela sua presença. A ceia pascal é uma memória do presente, do passado e do futuro. Torna sempre viva e fecunda a salvação pascal. É o hoje de Deus que quer salvar e por isso se faz sempre presente.
Lembrai-vos, ó Senhor!
Os atos litúrgicos que celebramos têm também, como finalidade, pedir que Deus se recorde e realize as mesmas maravilhas que operou no tempo antigo. Tantas vezes os profetas e os salmos rezavam: “Lembrai-vos da aliança que fizestes com nossos pais”. Lembramos as maravilhas e pedimos que Deus se lembre de fazê-las de novo. Estamos como acionando a memória de Deus. Nós proclamamos a presença do Deus que salva e comunica seu Espírito para que formemos com Cristo um único corpo. O Espírito realiza a comunhão e a presença da salvação.
Memórias vivas.
Nós proclamamos, com nossa presença e palavras, o Mistério Pascal de Cristo, isto é, sua Vida, Morte, Ressurreição. Assim nos unimos a sua Vida a seu Mistério, sua ação por nós. Nesta participação nós somos transformados em um memorial vivo. Mostramos com nossa vida, corpo e ação, que Jesus continua o salvador de todo homem e mulher. Cada sacramento tem uma dimensão deste mistério. Toda vez que o celebramos, Deus se torna presente como salvação. Quando o renovamos pelos ritos celebrativos, aprofundamos nossa abertura a Deus e vivemos mais intensamente sua graça redentora. Podemos proclamar que Jesus morreu e ressuscitou por nós. Quanto mais formos memória de Cristo, mais o perceberemos presente em nossas celebrações.
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