O traidor identificado
O anúncio da traição foi desconcertante para o grupo de discípulos. Independentemente de qualquer cultura, a traição é sempre um ato abominável. De modo especial, entre pessoas cujas vidas foram postas em comum, e nas quais se deposita toda confiança. Isto explica a surpresa dos discípulos quando Jesus anunciou que um deles haveria de traí-lo. E essa surpresa foi maior, quando o traidor foi identificado com Judas, filho de Simão Iscariotes.
O evangelista João dirá várias vezes que se tratava de um ladrão. Logo, alguém de caráter duvidoso, de quem se pode esperar tudo. A traição seria apenas mais uma manifestação da personalidade malsã deste discípulo. Os evangelhos, em geral, referem-se a Judas como alguém que vendeu sua própria consciência ao aceitar entregar o Mestre por um punhado de dinheiro.
Entretanto, é possível suspeitar de outras razões desta atitude tresloucada. Será que Judas entendeu, de fato, o projeto de Jesus? Terá sido capaz de abrir mão de seus esquemas messiânicos para aceitar Jesus tal qual se apresentava? Estava disposto a seguir um Messias pobre, manso, amigo dos excluídos e marginalizados, anunciador de um Reino incompatível com a violência e a injustiça? Judas esperava tirar partido do Reino a ser instaurado por Jesus. Vendo frustrado o seu intento, não teria tido escrúpulo de traí-lo?
Uma coisa é certa: Judas estava longe de sintonizar com Jesus. Algo parecido acontecia com Pedro, que haveria de negá-lo. Só que este recuou e se converteu à misericórdia do Senhor. [Evangelho nosso de cada dia, Pe. Jaldemir Vitório, ©Paulinas, 1997]
Para sua reflexão: Um discípulo não está puro. Ele nega sua parte com Jesus, recusa-se a crer no EU SOU. Ele também passa, mas para o poder de satanás. Judas Iscariotes, companheiro de mesa do Senhor, abandona agora a luz do mundo. A partida de Judas dá início aos acontecimentos da paixão. Jesus será glorificado. Deus será glorificado, pois a presença de Deus como amor infinito está prestes a se manifestar em Jesus. Ele partirá e essa ausência (ou presença?) é o problema fundamental de toda a passagem. Ao partir, deixa seu mandamento essencial: “Amai-vos uns aos outros”. É um novo mandamento porque esse amor mútuo deve ter como modelo algo novo – o amor que Jesus demonstra pelos discípulos.
Aqueles que pretendem ter parte com Jesus glorificado, devem
ter primeiro parte com Jesus crucificado. (Bv. Filippo Smaldone)
"Nenhum homem merece uma confiança ilimitada - na melhor das hipóteses,
a sua traição espera uma tentação suficiente." (H. L. Mencken)
Nenhum comentário:
Postar um comentário