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Vida Contemplativa
Fundamentos teológicos da vida contemplativa e apontamentos para conhecê-la mais a fundo? Segue abaixo, um trecho de uma monografia sobre a Vida Contemplativa apresentada na conclusão do curso de Teologia de uma irmã de vida contemplativa passionista.
Na vida contemplativa a caridade oferece a Deus o sacrifício mais agradável, porque põe sobre o altar a oblação do bem mais precioso que o homem e a mulher podem dar: seu espírito, sua alma, seu eu mais íntimo. Francisco Pascual
A vida contemplativa é uma das formas de vida de comunhão com Deus e discipulado missionário. Sendo essa uma maneira específica que está inserida dentro da vida consagrada e merece uma especial atenção, desejamos aqui aprofundar seus fundamentos teológicos.
Ela é um caminho, dentre os vários, que conduz a Deus e que realiza exemplarmente o mistério da união exclusiva com Deus da Igreja. Trata-se de uma entrega total ao Senhor, em que o ser humano busca despojar-se de tudo – para, livre – ascender ao seu Deus.
A pessoa que abraça esse estilo de vida sente, aquela sede de comunhão com Deus de uma tal forma que faz dessa busca, desse desejo o seu ideal. Para isso, ela busca se desvencilhar de tudo aquilo que possa impedi-la de alcançar tal objetivo, além de se cercar de todos os meios que de certa forma a própria Igreja oferece, e dá as bases para esse estilo de vida, para atingir o ideal tão desejado. Esse caminho, para muitos, parece rude, austero e obscuro, mas por meio dele, como se pode verificar na vida de tantos santos e santas contemplativos, chega-se à meta esperada. Utilizando-se desses meios como um trampolim para tal subida, ocorre dessa maneira a tão desejada configuração com o seu Senhor. Pode-se falar que aquele que é chamado a esse estilo de vida se rende à irresistível atração que o arrasta até Deus e sua resposta, frente a esse apelo, não pode ser outra senão a de uma entrega total. (cf. ET 8) Ao discorrer sobre os meios pelos quais a vida contemplativa, na sua forma canônica, oferece para aqueles que a abraçam para chegar a uma plena comunhão com Deus, é importante ressaltar que todos eles, tais como a separação do mundo, a solidão, o silêncio, a oração e a penitência, devem convergir para a realidade essencial e constitutiva desse modo “peculiar de ser Igreja”(cf. Vsp 6) – a contemplação interior. Tudo na vida contemplativa deve ser orientado para essa união exclusiva com Deus, ocupando-se, portanto, só de Deus. (PC 7) Pio XII chama bastante atenção com relação a esse aspecto quando diz:
Se vosso ser inteiro não estiver fixado em Deus, se vosso espírito não voltar incessantemente para ele como a um pólo de atração irresistível, seria mister dizer de vossa vida contemplativa o que São Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios, dizia (...) ‘Se não tiver a caridade, sou apenas como um bronze que soa (...) Se não tiver a caridade, isto de nada me serve’ (ICor 13,1-3).
Esse estilo de vida, como o próprio Magistério aponta, pode se ver explicitamente prefigurado em Moisés que diante da batalha com Amalec em Rafidim está em cima do Monte e mantém seus braços erguidos, contribuindo para a vitória de Israel, enquanto Josué está na planície lutando (cf. Ex 17,8-14).
Podem-se fazer também diversas analogias com referência a essa total oferta de si mesmo das pessoas que abraçam a vida contemplativa. Essas se assemelham ao negociante tratado no Evangelho de Mateus, que encontrando a pérola preciosa, vende tudo o que possui para comprá-la (cf. Mt 13,44). Ou ainda se assemelha àquela mulher que quebra sobre os pés de Jesus, um frasco de perfume de nardo de grande valor (cf. Mc 14,3). Essa radicalidade do negociante que vende tudo o que possui, ou da mulher que quebra o seu bem mais precioso nos pés de Jesus, é figura e ideal da vida contemplativa. Do apóstolo Paulo podemos tomar aquela célebre frase: “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Elisabete da Trindade, carmelita, tinha como lema de sua consagração: “Deus em mim e eu Nele”. Essa é a essência da vida contemplativa, aponta Pio XII, permanecer em Deus pela caridade, a fim de que Deus permaneça em nós. A adesão íntima a Deus se dá no transcorrer do dia-a-dia do contemplativo que discorre numa harmoniosa alternância entre trabalho e oração, o famoso “ora et labora” encontrado na regra de São Bento.
As pessoas que abraçam esse estilo de vida imitam a Cristo em oração no cimo do Monte e testemunham o domínio de Deus sobre a história – sendo Ele o Princípio e o Fim (cf. Ap 22,13) – além de anteciparem a glória futura. (VC 8)
A missão da vida contemplativa implica não só essa busca do semblante de Deus, como também deve revelar esse semblante a toda humanidade por meio de sua própria vida escondida com Cristo em Deus. “A vida consagrada [e esta também na sua forma contemplativa] deve ser essencialmente uma relação do amor de Deus, um sinal concreto de Aliança, um irresistível convite à comunhão dos homens entre si e com o Pai”. (Cardeal PIRÔNIO, Alegres na Esperança, São Paulo, p. 64.)
Enfim, em uma alocução às monjas camaldulenses, Paulo VI sintetiza a tarefa daquelas pessoas que assumem esse estilo de discipulado:
“Como contemplativas, estais dedicadas a uma tarefa:
deixar que vossas almas sejam absorvidas por Deus”.
A†Ω
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