Como seus amores são belos,minha irmã, noiva minha. Seus amores são melhores do que o vinho, e mais fino que os outros aromas é o odor dos teus perfumes. Por isso Eu quero consumir meus dias, no seu amor! ══════ ღೋ♡✿♡ღೋ═══════

Ani Ledodi Vedodi Li


Mais do que qualquer outro motivo, esta é a razão pela qual quero fazer deste blog um caminho para amarmos mais a Deus, por isso seu nome: “Ani Ledodi Vedodi Li”

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Deus o Abençõe !

E que possas crescer com nossas postagens.

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus!

A Igreja não tem pressa, porque ela possui a Eternidade. E se todas as outras instituições morrem nesta Terra, a Santa Igreja continua no Céu.

Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas.

E eu sei quanto resisto a escolher-te.

"Quando sacralizamos alguém essa pessoa permanece viva para sempre!"

Sacralize cada instante de tua vida amando o Amado e no Amado os amados de Deus !


Pe.Emílio Carlos

sábado, 13 de agosto de 2011



20º Domingo do Tempo Comum - Ano A

A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum reflete sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino.

Na primeira leitura, Jahwéh garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel: destina-se a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus.

O Evangelho apresenta a realização da profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus, depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananéia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e mulheres, sem exceção.

A segunda leitura sugere que a misericórdia de Deus se derrama sobre todos os seus filhos, mesmo sobre aqueles que, como Israel, rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções dos homens; mas não desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas de acolher essa salvação que Ele quer oferecer.

LEITURA I – Is 56,1.6-7

A primeira leitura deste domingo faz parte de um bloco de textos a que se convencionou chamar “Trito-Isaías” (cfr. Is 56-66). Para alguns, são textos de um profeta anônimo, pós-exílico, que exerceu o seu ministério em Jerusalém, entre os retornados da Babilônia, nos anos 537-520 a.C.; para a maioria, trata-se de textos que provêm de uma pluralidade de autores, e que foram redigidos ao longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente entre os séc. VI e V a.C.). Estamos, em qualquer caso, na época pós-exílico.

Não é uma época fácil. Os retornados estão desiludidos, pois a tarefa da reconstrução apresenta-se demorada e difícil. O país está arruinado, as cidades destruídas e desabitadas, os campos incultos e abandonados. Os ricos bem depressa começam a oprimir os pobres e a esmagar os humildes. Do ponto de vista religioso, o ambiente caracteriza-se pela incompreensão dos planos de Deus, pelo cepticismo e desconfiança, por um culto meramente exterior e pelo retorno às práticas idolátricas. Nesta fase, desempenham um papel fundamental o sacerdote Josué e o governador Zorobabel, responsáveis pelos trabalhos de reconstrução do Templo.

Como é que os regressados a Jerusalém se relacionam, nesta fase, com os outros povos? A resposta não é clara, até porque não conhecemos bem este período da história do Povo de Deus. Alguns textos desta época mostram uma certa abertura à universalidade, sugerindo que o exílio, ao permitir o contacto com outras realidades culturais e religiosas, levou o Povo de Deus a uma certa tolerância para com as outras nações… No entanto, outros textos da época manifestam um fechamento cada vez mais acentuado (além da experiência dramática do exílio, a oposição dos povos vizinhos na altura em que os retornados tentam reconstruir Jerusalém aumenta a desconfiança em relação aos estrangeiros), que culminará na política xenófoba de Esdras e Neemias, na segunda metade do séc. V a.C. (os casamentos mistos entre judeus e estrangeiros são anulados e proibidos – cf. Esd 9,1-10,44; Nee 13,23-31).

Não podemos situar exatamente, em termos cronológicos, o texto que nos é proposto. Provavelmente, ele aparece nos primeiros decênios após o exílio, quando a comunidade discute se os eunucos e os estrangeiros devem ou não integrar a comunidade do Povo de Deus (cf. Is 56,3). De qualquer forma, o texto leva-nos coloca-nos, sem dúvida, nesse ambiente – rico de desafios, mas cheio de contradições – da época pós-exílica.

A essa comunidade desiludida e decepcionada, o profeta anuncia que está para chegar um tempo novo. O que caracterizará essa nova era é a presença na comunidade do Povo de Deus da salvação e da justiça.

A comunidade precisa, no entanto, de se preparar para receber o dom de Deus. Como? Guardando o direito e praticando a justiça (“mishpat” e “zedaqa” – as decisões justas dos tribunais, que fundamentam uma recta ordem social).

Até aqui, a “promessa” não apresenta nada de verdadeiramente novo. A “justiça” foi pregada e anunciada, vezes sem conta (com estas mesmas palavras ou com outras semelhantes), por todos os profetas de Israel…

A verdadeira novidade aparece a seguir… A salvação que Deus vai oferecer não se destina apenas a Israel, mas também aos estrangeiros. Trata-se de uma espantosa revolução no universo religioso do Povo de Deus.

Para os autores do livro do Deuteronômio, os estrangeiros deveriam ser vencidos e votados à destruição; Israel não podia jamais fazer qualquer pacto, nem aceitar qualquer aliança matrimonial com eles. Os altares dos povos estrangeiros deveriam ser destruídos, os seus monumentos quebrados, os seus postes sagrados cortados, os seus ídolos queimados no fogo. Se Israel não procedesse dessa forma e tolerasse os estrangeiros, a cólera de Jahwéh inflamar-se-ia contra o seu Povo e exterminá-lo-ia rapidamente (cf. Dt 7,2-5).

Agora, é o próprio Deus que quer oferecer a sua salvação a todos os povos, inclusive aos estrangeiros. O que é necessário aos estrangeiros para entrarem na comunidade do Povo de Deus (“os estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos” – vers. 6)? Duas coisas: “guardarem o sábado, sem o profanarem” e serem “fiéis à Aliança”. Serão, então, membros de pleno direito da comunidade do Povo de Deus. Participarão plenamente na vida litúrgica do Povo de Deus e o próprio Jahwéh os conduzirá ao Templo, onde poderão oferecer holocaustos e sacrifícios, como os israelitas. O Templo não será, então, um condomínio fechado a que só Israel tem acesso, mas será a “casa de oração para todos os povos” (esta perspectiva deve ter conhecido uma tal dificuldade para se firmar em Israel que, mesmo na época neo-testamentária, os estrangeiros que visitavam Jerusalém não podiam passar da esplanada exterior do Templo – o “átrio dos gentios” – e em nenhum caso podiam penetrar no “átrio dos israelitas”).

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode partir dos seguintes dados:

• Também nós vivemos num mundo de contradições. Por um lado, o intercâmbio de ideias, de experiências, de notícias, o contacto fácil, rápido e direto com qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo, contribuem para nos abrir horizontes, para nos ensinar o respeito pela diferença, para nos fazer descobrir a riqueza de cada povo e de cada cultura… Por outro lado, o egoísmo, a auto-suficiência, o medo dos conflitos sociais, o sentimento de que um determinado estilo de vida pode estar ameaçado, provocam o racismo e a xenofobia e levam-nos a fechar as portas àqueles que querem cruzar as nossas fronteiras à procura de melhores condições de vida… Não é, evidentemente, uma questão simples e que possa ser objeto de demagogia… No entanto, o nosso Deus convida-nos a abrir o nosso coração à universalidade, à diferença. Os outros homens e mulheres – estrangeiros, diferentes, com outra cor de pele, com outra língua, com outros valores ou com outra religião – são irmãos nossos, que devemos acolher e amar.

• A Igreja é a comunidade do Povo de Deus. Todos os seus membros são filhos do mesmo Deus e irmãos em Jesus, embora pertençam a raças diferentes, a culturas diferentes e a extratos sociais diferentes. No entanto: todos são lá acolhidos da mesma forma? O rico e o pobre são sempre tratados da mesma forma nas recepções das nossas igrejas? Aqueles que têm comportamentos considerados social ou religiosamente incorretos são sempre tratados com amor e acolhidos com respeito nas nossas comunidades cristãs, ou são tratados como cristãos de segunda?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 66 (67)

Refrão: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,

resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.

Na terra se conhecerão os vossos caminhos

e entre os povos a vossa salvação.

Alegrem-se e exultem as nações,

porque julgais os povos com justiça

e governais as nações sobre a terra.

Os povos Vos louvem, ó Deus,

todos os povos Vos louvem.

Deus nos dê a sua bênção

e chegue o seu temor aos confins da terra.


LEITURA II – Rom 11,13-15.29-32


Continuamos, com Paulo, a refletir a questão posta pela segunda leitura do passado domingo… Israel, apesar de ser o Povo de eleito de Deus e o Povo da Promessa, recusou a salvação que Cristo veio oferecer. Que lhe acontecerá, então? Ficará, devido a essa recusa, à margem da salvação?

Vimos como esse problema afetava Paulo e como o fazia sofrer. Na introdução a esta questão (cf. Rom 9,1-5), Paulo confessava a sua dor e tristeza ao ver o seu povo obstinado na recusa da vida nova de Deus. Paulo admitia, até, aceitar ser separado – ele próprio – de Cristo, se isso servisse para que o Povo judeu aceitasse a salvação que Deus não desiste de lhe oferecer.

A desilusão e a tristeza de Paulo significarão a convicção de que não há mais saída, que Israel vai manter-se fechado aos dons de Deus e que está, definitivamente, à margem da salvação? Deus terá rejeitado o seu Povo?

De modo nenhum. Paulo vai, aliás, constatar que a questão não está encerrada. Em primeiro lugar, porque uma parte (uma parte pequena, um “resto”) de Israel aderiu a Jesus (cf. Rom 11,1-6) e entrou na comunidade do Reino (o próprio Paulo faz parte desse grupo); em segundo lugar, porque o endurecimento de Israel face à oferta de salvação feita por Deus já estava prevista na Escritura e insere-se, certamente, nos planos de Deus (cf. Rom 11,7-10).

De resto, a recusa de Israel fez com que o Evangelho fosse proposto aos gentios (cf. Rom 11,11-12). Há males que vêm por bem; Deus escreve direito por linhas tortas…

Entretanto, Paulo continua o seu ministério entre os gentios, com a esperança de que os israelitas sintam ciúmes e acolham os dons de Deus (vers. 13-14).

De resto, Paulo está convencido de que, um dia, todo o Israel será salvo. Assim será, não só porque está anunciado na Escritura (cf. Rom 11,26-27), mas sobretudo porque Deus permanece fiel às suas promessas.

Da sua parte, os gentios não têm nada que se sentir superiores aos israelitas. Israel foi chamado por Deus desde os seus inícios e o chamamento de Deus é irrevogável (vers. 29). Os gentios, que antes estavam longe de Deus, agora tiveram acesso à sua graça; e os judeus, que agora se afastaram dos dons de Deus, hão-de também alcançar a graça. Parece enquadrar-se tudo no projecto salvífico de um Deus que permitiu que todos sejam rebeldes, a fim de sobre todos deixar cair a sua misericórdia. E Israel, o Povo eleito, chamado por Deus desde os seus inícios, não pode deixar de ser objeto especial da misericórdia de Deus.

ATUALIZAÇÃO

Considerar, na reflexão, as seguintes propostas:

• Em primeiro lugar, o nosso texto convida-nos a ter sempre presente que a misericórdia de Deus não abandona nenhum dos seus filhos, mesmo aqueles que numa determinada fase da caminhada rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções livres dos homens; mas não desiste de propor oportunidades infindáveis de salvação, que só esperam o “sim” do homem.

• Em segundo lugar, o nosso texto sugere que “Deus escreve direito por linhas tortas”. Do mal, Ele é sempre capaz de retirar o bem (se os judeus – com a sua mentalidade fechada aos estrangeiros e com a sua mentalidade de que a salvação era uma proposta exclusiva, só a eles destinada – tivessem aderido em massa ao Evangelho, dificilmente teriam aceite que a proposta de salvação se tornasse universal). Aquilo que, muitas vezes, nos parece ilógico e sem sentido, talvez faça parte dos projetos de Deus – projetos que nem sempre conseguimos entender e enquadrar nos nossos esquemas mentais. Temos de aprender a confiar em Deus e na forma como Ele dirige a história, mesmo quando não conseguimos entender os seus projetos.

• Em terceiro lugar, o nosso texto convida-nos – implicitamente – a não nos arvorarmos em juízes dos nossos irmãos. Por um lado, porque o comportamento tolerante de Deus nos convida a uma tolerância semelhante; por outro, porque aquilo que nos parece estranho e reprovável pode fazer parte, em última análise, dos projetos de Deus.

ALELUIA – cf. Mt 4,2

Aleluia. Aleluia.

Jesus proclamava o evangelho do reino

e curava todas as doenças entre o povo.


EVANGELHO – Mt 15,21-28


Continuamos na secção da “instrução sobre o Reino” (cf. Mt 13,1-17,27). Depois de apresentar a pregação sobre o Reino em parábolas (cf. Mt 13,1-52), Mateus descreve a resposta dos interlocutores de Jesus à proposta que lhes foi transmitida (cf. Mt 14,1-17,27).

De uma forma geral, a comunidade judaica responde negativamente ao desafio apresentado por Jesus. Quer os nazarenos (cf. Mt 13,53-58), quer Herodes (cf. Mt 14,1-12), quer os escribas, quer os fariseus, quer os saduceus (cf. Mt 15,1-9; 16,1-4.5-12) recusam embarcar na aventura do Reino. Começa a tornar-se, cada vez mais claro, que a comunidade judaica não está disposta a acolher a proposta de Jesus.

O episódio que nos é proposto é, precisamente, antecedido de um confronto entre Jesus, por um lado, os fariseus e doutores da Lei, por outro, por causa das tradições judaicas (cf. Mt 15,1-9). Em ruptura com os fariseus e os doutores da Lei, Jesus “retirou-Se dali e foi para os lados de Tiro e de Sídon”. A recusa de Israel em acolher a proposta do Reino vai fazer com que a pregação de Jesus se dirija para fora das fronteiras de Israel. A comunidade dos discípulos – esse grupo que escutou atentamente a proposta do Reino e a acolheu – acompanha Jesus.

O episódio narrado no Evangelho deste domingo situa-nos na “região de Tiro e Sídon”. Diante de Jesus apresenta-se uma mulher “cananeia”. O apelativo “cananeia” designa, no Antigo Testamento, uma mulher pagã (neste caso, trata-se de uma mulher fenícia, provavelmente residente na região de Tiro e Sídon).

A Fenícia não era, aos olhos dos judeus, uma região “recomendável”. De lá tinham vindo, frequentemente, exércitos inimigos; de lá tinham vindo, muitas vezes, influências religiosas nefastas, que afastavam os israelitas da fé em Jahwéh e os levavam a correr atrás dos deuses cananeus. A famosa Jezabel, mulher do rei Acab, que potenciou o culto a Baal e Asserá (meados do séc. IX a.C., na época do profeta Elias) e que tão má memória deixou entre os fiéis a Jahwéh era filha de um rei de Sídon. Não admira, portanto, que os fariseus e doutores da Lei, defensores intransigentes da Lei e da pureza da fé, considerassem os habitantes dessa zona como “cães” (designação que, para os judeus, tinha um sentido altamente pejorativo).

O apelo da mulher fenícia vai no sentido de que ela possa, também, ter acesso a essa salvação que Jesus veio propor. Jesus passará por cima dos preconceitos religiosos dos judeus e oferecerá a salvação a esta pagã? Uma mulher fenícia (estrangeira, inimiga, oriunda de uma região com má fama e, ainda por cima, “mulher”) merecerá a graça da salvação?

Consideremos, em primeiro lugar, a figura da mulher fenícia… As suas três intervenções mostram, por um lado, a sua ânsia de salvação; e, por outro, a fé firme e convicta que a anima (as designações “filho de David” – que equivale a “Messias” – e “Senhor” – “Kyrios” – com que ela se dirige a Jesus, lidas em contexto cristão, equivalem a uma confissão de fé). É uma figura que nos impressiona pela fé, pela humildade e também pelo sofrimento que transparece no seu apelo.

Surpreende-nos depois, numa primeira leitura, a forma dura como Jesus trata esta mulher que pede ajuda. Ele começa por passar em silêncio, aparentemente insensível aos apelos da mulher (vers. 23). Depois, perante a insistência dos discípulos, responde: “não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (vers. 24). Finalmente, diante do dramático último apelo da mulher (“socorre-me, Senhor”), responde: “não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cães” (vers. 26).

Como entender esta atitude rude e insensível do mestre galileu, sempre preocupado em traduzir em gestos concretos o amor e a misericórdia de Deus pelos homens? A reação de Jesus será fruto da convicção de que, de acordo com o plano de Deus, a salvação devia derramar-se, em primeiro lugar, pelos judeus, antes de alcançar os gentios?

A atitude de Jesus faz sentido, se a virmos como uma estratégia pedagógica, destinada a mostrar o sem sentido dos preconceitos judaicos contra os pagãos. Jesus conduziu o jogo de forma a demonstrar como eram ridículas as atitudes de discriminação dos pagãos, propostas pela catequese oficial judaica. Endurecendo progressivamente a sua atitude face ao apelo que lhe foi feito pela “cananeia”, Jesus dá à mulher a possibilidade de demonstrar a firmeza e a convicção da sua fé e prova aos judeus que os pagãos são bem dignos – talvez mais dignos do que esses “santos” membros do Povo de Deus – de se sentar à mesa do Reino. Esta mulher, na sua humildade, nem sequer reivindica equiparar-se a esse Povo eleito, convidado por Deus para o banquete do Reino… Ela está disposta a ficar apenas com “as migalhas” que caem da mesa (vers. 27); mas pede insistentemente que lhe permitam ter acesso a essa salvação que Jesus traz. Ao contrário, os fariseus e doutores da Lei, fechados na sua auto-suficiência e nos seus preconceitos, rejeitam continuamente essa salvação que Jesus não cessa de lhes oferecer.

No final de toda esta caminhada de afirmação da “bondade” e do “merecimento” desses pagãos que a teologia oficial de Israel desprezava, Jesus conclui: “Mulher, grande é a tua fé. Faça-se como desejas”. A afirmação de Jesus significa: “na verdade tu estás disposta a acolher-Me como o enviado do Pai e a aceitar o pão do Reino, o pão com que Deus mata a fome de vida de todos os seus filhos. Recebe essa salvação que se destina a todos aqueles que têm o coração aberto aos dons de Deus”.

É possível que Mateus esteja, nesta catequese, a responder a uma situação concreta da sua comunidade… Nos finais do século primeiro (o Evangelho segundo Mateus aparece durante a década de oitenta), alguns judeo-cristãos ainda tinham dificuldade em aceitar a entrada dos pagãos na Igreja de Jesus. Mateus recorda-lhes, então, que para Jesus o que é decisivo não é a raça, a história, a eleição, mas a adesão firme e convicta à proposta de salvação que, em Jesus, Deus faz aos homens.

O texto mostra que a proposta de Jesus é para todos. A comunidade de Jesus é, verdadeiramente, uma comunidade universal. Aquilo que é decisivo, no acesso à salvação, é a fé – isto é, a capacidade de aderir a Jesus e à sua proposta de vida.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode partir dos seguintes elementos:

• A primeira questão que o nosso texto põe prende-se com a definição daquilo que é essencial na experiência cristã. Quem é que é cristão? Quem é que pode fazer parte da comunidade de Jesus? A resposta está implícita na história da mulher cananéia: torna-se membro da comunidade de Jesus quem aceita a sua oferta de salvação, quem acolhe o Reino, adere a Jesus e ao Evangelho. O que é determinante, para integrar a comunidade do Reino, não é a raça, a cor da pele, o local de nascimento, a tradição familiar, a formação acadêmica, a capacidade intelectual, a visibilidade social, o cumprimento de ritos, a recepção de sacramentos, a amizade com o pároco, os serviços prestados à “fábrica da igreja”, mas a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação). Para mim, o que é que é ser cristão? O que está no centro da minha experiência cristã é a pessoa de Jesus e a sua proposta de salvação? Em que é que se fundamenta a minha fé?

• O exemplo da mulher cananéia leva-nos a pensar, por contraste, nesses “fariseus e doutores da Lei” que rejeitam a oferta de salvação que Deus lhes faz, em Jesus. Estão cheios de certezas, de convicções firmes, de preconceitos; mas não têm o coração aberto aos desafios que Deus lhes faz… Conhecem bem a Palavra de Deus, têm ideias definidas acerca do que Deus quer ou não quer, são orgulhosos e auto-suficientes porque se consideram um povo santo, eleito de Deus, mas não têm esse coração humilde e simples para acolher a novidade de Deus… Atenção: o verdadeiro crente é aquele que se apresenta diante de Deus numa atitude de humildade e simplicidade, acolhendo com um coração agradecido os dons de Deus e a graça da salvação. O verdadeiro crente não se barrica em certezas imutáveis ou em chavões doutrinais, mas procura descobrir, cada dia, com humildade e simplicidade, a verdade eterna de Deus e as suas propostas para o mundo e para os homens.

• Teoricamente, ninguém põe em causa que a Igreja nascida de Jesus seja uma comunidade aberta a todos os homens e mulheres, de todas as raças, culturas, classes sociais, quadrantes políticos… Na prática, será que todos encontram na Igreja um espaço de comunhão, de amor, de fraternidade? Os homens e as mulheres, os casados e os divorciados, os pobres e os ricos, os instruídos e os analfabetos, os conhecidos e os desconhecidos, os bons e os maus, os novos e os velhos, todos são acolhidos na comunidade cristã sem discriminação e todos são convidados a pôr a render, para benefício dos irmãos, os talentos que Deus lhes deu? Independentemente do que os documentos da Igreja dizem, do que o Papa ou os bispos dizem, o que é que eu faço para que a minha comunidade cristã seja um espaço de fraternidade, onde todos se sentem acolhidos e amados?

• Como a primeira leitura, também o Evangelho sugere uma reflexão sobre a forma como acolhemos o estrangeiro, o irmão diferente, o “outro” que, por razões políticas, econômicas, sociais, laborais, culturais, turísticas, vem ao nosso encontro. Se Deus não discrimina ninguém, mas aceita acolher à sua mesa todos os homens e mulheres, sem distinção, porque não havemos de proceder da mesma forma? Particular cuidado e atenção devem merecer-nos os imigrantes que não falam a nossa língua, que não têm casa, que não têm trabalho, que sentem a ausência da família e dos amigos, que são perseguidos pelas redes que exploram o trabalho escravo… O convite que Deus nos faz é que vejamos em cada pessoa um irmão, independentemente das diferenças de cor da pele, de nacionalidade, de língua ou de valores.

A

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