A primeira vista, parece incrível, mas é uma grande verdade que muitos
homens - agora como então - procuram defender-se do amor de Deus como de
um inimigo. Talvez aceitem teoricamente que só no amor puro, que vem de
Deus e leva a Deus, se encontram as promessas da plena felicidade. Mas
não "acreditam" nisso. Na vida real, procuram a felicidade apenas no
prazer egoísta e na auto-exaltação. É uma incoerência, mas é uma
realidade. Enganam-se de forma mais ou menos consciente e, por receio de
se complicarem com a grandeza dos ideais de Cristo, encerram-se numa
cegueira voluntária. Assim, querendo proteger-se contra os sacrifícios
que o ideal cristão comporta, atiram-se a estrada do egoísmo - que
parece bem mais garantida e perdem o caminho do amor, o único capaz de
orientar os seus passos para a alegria e para a paz (cf. Lc 1,79). Muito
bem disse deles Cristo: O que te pode trazer a paz [...] está oculto aos teus olhos (cf. Lc 19,42).
É uma pena que esses pobres homens e mulheres fiquem eletrizados pelo
seu próprio "eu", do qual Deus acaba por ser um "rival." O norte
magnético, que neles polariza tudo, é constituído pelo que alguém
resumia nos "três esses": sossego, satisfação, sucesso. Aí
estaria o único segredo da felicidade, a chave da alegria! Nesse clima
interior de egoísmo glorificado, quando se lhes cruza Cristo pelo
caminho da vida, quando deles se aproxima e lhes fala de ideais divinos,
de sacrifício alegre, de humildade amorosa, de serviço aos outros...,
sentem um arrepio percorrrer-lhes a espinha. Apavorados com a
perspectiva de perder a vida fácil, bradam: Não! E é por isso que Cristo
chora: Não quiseste, não quiseste abrir-te confiadamente Aquele que te podia trazer a paz. Como
consequencia desse fechamento, virão inevitavelmente os frutos
dolorosos do egoísmo, que cedo ou tarde acabam por aparecer e ressecam a
alma:
"Eis que a tua casa ficará vazia."
Nenhum comentário:
Postar um comentário