Uma contradição?
O homem foi criado
para ser feliz e buscar a felicidade: ele a deseja, suspira por ela, mas
dificilmente a encontra. Toda manhã eu me consagro a Jesus Abandonado, e é
só através dele que eu encontro a paz, a luz, ou, numa palavra, a
felicidade. Poderia dizer algo a respeito desse fato, que parece uma
contradição?
Parece uma contradição, mas não é.
Sabemos que em cada dor devemos ver o semblante de Jesus Abandonado. Isso
porque se somos, por exemplo, incompreendidos, vemos nele “o
incompreendido”; se caímos numa “armadilha” podemos ver naquilo que lhe
aconteceu uma “armadilha”; se nos sentimos fracassados, vemos nele alguém
que também se sentiu “fracassado”...
Jesus Abandonado está presente em cada dor; por isso, é preciso abraça-lo
dizendo-lhe do fundo do coração: “Es tu, e eu te quero; a ti eu me
doei”.
Depois, no momento seguinte, deve-se passar a amar o próximo ou qualquer
outra vontade de Deus.
E então você perceberá que aquela dor desaparece. Às vezes, você se
surpreende ao sentir que a dor realmente se foi, não existe mais, e se
sente em paz e livre para caminhar, viver e amar.
O fato é que, numa espiritualidade cristã como a nossa – que tem como
referencia a paixão de Jesus –, o crucifixo, Jesus Abandonado, está
intimamente ligado ao Espírito Santo. E quando, como Jesus, também nós
dizemos que é chegada a nossa hora de sofrer, que por isso a queremos
porque é um aspecto de Jesus Abandonado, e a aceitamos como Jesus aceitou
a dor, também nós experimentamos o Espírito Santo. O que sentimos de belo,
de livre, de amor, em nosso coração, é efeito do Espírito Santo.
Não se trata, pois, de uma contradição encontrar em Jesus Abandonado a paz
e a alegria. É, ao contrário, uma coisa lógica, segundo a paixão de Jesus,
segundo o mistério da salvação.
in memorian Chiara
Lubich
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