QUIETUDE E SILÊNCIO
“…
São Bento utiliza duas palavras que nós traduzimos por silêncio: quies e
silentium.
A quies é o silêncio físico, a ausência de barulho – não
bater com as portas, não arrastar as cadeiras.
É o silêncio que
é suposto os bons pais ensinarem aos filhos: discrição e modéstia
materiais em que se respeita a presença do outro. A quies torna o mundo habitável e civilizado. Faz
infelizmente muitas vezes falta na cultura urbana moderna em que o
barulho invade até os elevadores e onde é raro, tanto no tempo como no
espaço, podermo-nos encontrar fora do alcance de barulho de origem
humana. Até já se vendem capacetes dispendiosos, especialmente
concebidos, não para escutar música, mas para nos isolar de barulhos
exteriores.
O silentium, pelo contrário, não designa uma
ausência de barulho mas um estado de espírito e uma atitude consciente
da presença dos outros e de Deus. É atenção.
Quando uma pessoa
se dirige a um padre ou conselheiro para lhe falar de um problema ou de
um desgosto, o padre sabe que acima de tudo o que lhe deve dar é
atenção.
Pode dar-se o caso do seu problema não ter solução e,
na maior parte das vezes, as palavras que se espera que tenham alguma
utilidade passam ao lado da dor. Escutar com atenção, dar-se a
si mesmo, totalmente, no ato de prestar atenção , não se trata de
julgar, colocar-se no lugar do outro ou condenar, mas amar. De fato, deste ponto de vista, nada se assemelha mais a Deus do que o silêncio, porque Deus é amor.
D.Laurence Freeman
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