O
Mistério de Deus
O Mistério de Deus se soletra pela tríade Verdade, Bem e
Beleza, quer dizer que esta última integra o patrimônio íntimo que dá
substância à própria Fé.
Sem
a Beleza a experiência cristã permanece incompleta, por que Deus é Beleza,
esplendor, glória. Nós sabemos bem os riscos de um cristianismo puramente
histórico, articulado simplesmente entre convicções e práticas.
O
cristianismo é também um sobressalto de infinito, paixão pelo absoluto, uma
epifania que nos transcende, uma inexplicável emoção que nos derruba nos
caminhos de Damasco que são os de todas as vidas.
O
Mistério não é o desconhecido. É o conhecido que nos fascina e nos atrai para
conhecê-lo mais e mais.
Ao
tentar conhecê-lo, percebemos que nossa sede e fome de conhecimento nunca se
sacia. No mesmo momento em que O
conhecemos, Ele se nos escapa na direção do desconhecido. Perseguimo-lo sem
cessar e mesmo assim Ele fica sempre Mistério em todo o conhecimento,
causando-nos atração invencível, temor profundo e reverência irresistível. O
Mistério simplesmente é.
É
Mistério para nós na medida em que nunca acabamos de conhecê–Lo nem pela razão nem pelo amor.
Cada
encontro deixa uma ausência que leva a outro encontro. Cada conhecimento abre outra
janela para um novo conhecimento. O Mistério de Deus não é o limite do
conhecimento mas o ilimitado do conhecimento. É o amor que não conhece repouso.
O
Mistério não cabe em nenhum esquema nem vem aprisionado nas malhas de alguma
religião. Ele está sempre por ser conhecido.
O
Mistério é uma Presença ausente. Mas também, uma Ausência presente.
Manifesta-se na nossa absoluta insatisfação que incansavelmente e em vão busca
satisfação.
Neste
transitar entre Presença e Ausência se realiza o ser humano, trágico e feliz,
inteiro mas inacabado.
Deus
é Mistério em si mesmo e para si mesmo. Deus é Mistério em si mesmo porque sua
natureza é Mistério. Vale dizer: Deus enquanto Mistério se autoconhece e no
entanto nunca tem fim seu autoconhecimento. O conhecimento de sua natureza de
Mistério é cada vez inteiro e pleno e, ao mesmo tempo, sempre aberto para nova
plenitude, ficando sempre Mistério, eterno e infinito para si mesmo. Se assim
não fosse, não seria o que é: Mistério. Portanto, Ele é um absoluto Dinamismo
sem limites.
Deus
é Mistério para si mesmo quer dizer: por mais que Ele se autoconheça nunca
esgota este seu conhecimento. Está aberto a um futuro que é realmente futuro.
Portanto,
algo que ainda não é dado, mas que pode se dar como novo para Ele mesmo. Com a
encarnação Deus começou a ser aquilo que antes não era. Portanto, em Deus há um
devir, um tornar-se.
Mas
o Mistério, por um dinamismo intrínseco, permamentemente se revela e se
autocomunica. Sai de si e conhece e ama o novo que emerge dele. O que vai se
emergir não é reprodução do mesmo. Mas sempre distinto e novo, também para Ele.
À diferença do enigma que, conhecido, se desfaz, o Mistério quanto mais
conhecido mais aparece como desconhecido, quer dizer, como Mistério que convida para mais conhecimento e
para maior amor.
Dizer
Deus-Mistério é expressar um dinamismo sem resto, uma vida sem entropia, uma
irrupção sem perda, um devir sem interrupção, um eterno vir-a-ser sempre sendo
e uma beleza sempre nova e diferente que jamais fenece. Mistério é Mistério,
agora e sempre, desde toda a eternidade e por toda a eternidade.
Diante
do Mistério se afogam as palavras, desfalecem as imagens e morrem as
referências.
O
que nos cabe é o silêncio, a reverência, a adoração e a contemplação. Estas são
as atitudes adequadas ao Mistério.
Assumindo
tal compreensão, se derrubam todos os muros. Já não haverá mais o Átrio dos
Gentios e também não existirá mais templo.
Ele é simplesmente o Mistério que liga e re-liga tudo, cada pessoa e o
inteiro universo. O Mistério nos penetra e nEle estamos mergulhados.
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