«O templo de Deus é santo e esse templo sois vós» (1Co
3,17)
S. João 2,13-22.
Estava
próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.
Encontrou no
templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus
postos.
Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do
templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e
derrubou-lhes as mesas;
e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai
isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.»
Os seus discípulos
lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora.
Então os
judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer
isto?»
Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três
dias Eu o levantarei!»
Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos
levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?»
Ele,
porém, falava do templo que é o seu corpo.
Por isso, quando Jesus
ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha
dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido.
Comentário :
«O templo de Deus é santo e esse templo sois vós» (1Co
3,17)
Ouvimos muitas vezes dizer que Moisés, depois de ter conduzido Israel para
fora do Egipto, construiu no deserto um tabernáculo, uma tenda de santuário,
graças às doações dos filhos de Jacob. [...] É preciso ver, como diz o
apóstolo Paulo, que tudo isso era um símbolo (1Co 10,6). [...] Sois vós, meus
irmãos, que sois agora o tabernáculo de Deus, o templo de Deus, como explica o
apóstolo: «O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós.»
Templo onde Deus
reinará eternamente, vós sois a Sua tenda, pois Ele acompanha-vos no caminho;
Ele tem sede em vós, tem fome em vós. Essa tenda continua a ser transportada
[...] pelo deserto desta vida, até chegarmos à Terra Prometida. Então a tenda
tornar-se-á Templo e o verdadeiro Salomão dedicá-lo-á «durante sete dias mais
sete dias» (1R 8,65), isto é, durante o duplo repouso [...] da imortalidade
para o corpo e da beatitude para a alma.
Mas, de momento, se somos verdadeiros filhos espirituais de Israel, se saímos
espiritualmente do Egito, façamos todos oferendas para a construção do
tabernáculo [...]: «Cada um recebe de Deus o seu próprio carisma, um de uma
maneira, outro de outra» (1Co 7,7). [...]
Que tudo seja, portanto, comum a
todos. [...] Que ninguém considere o carisma que recebeu de Deus como seu bem
pessoal; que ninguém tenha ciúmes dum carisma que o seu irmão tenha recebido.
Mas cada um considere aquilo que lhe pertence como sendo de todos os irmãos, e
não hesite em considerar como seu o que é de seu irmão. Segundo o Seu desígnio
misericordioso, Deus age para connosco de modo que todos tenhamos necessidade
dos outros: o que um não tem, pode encontrá-lo no irmão. [...] «Os muitos que
somos formamos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros que
pertencem uns aos outros» (Rm 12,5).
Santo Aelredo de Rielvaux (1110-1167), monge cisterciense
Sermão 8 para a a festa de São Bento
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