“Estamos numa mudança de Época”
Entrevista com Kiko Argüello, iniciador do Caminho Neocatecumenal:
Após ter participado como auditor no
Sínodo, Kiko Argüello avalia estes dias nos quais “reflexionou-se muito” sobre
a “mudança de época” em que estamos
imersos e de que forma a Igreja deve afrontá-la. Iniciador, junto a Carmen
Hernández, do Caminho Neocatecumenal, um itinerário de formação citado como
referência por vários Padres Sinodais, Argüello alertou sobre a necessidade de
recuperar a consciência de pecado: “Acreditamos que os homens, pelo medo à
morte, estão submetidos à escravidão do demônio? Se não acreditamos nisto, para
que evangelizar?”
Que valoração faz do Sínodo?
O
Sínodo foi muito importante, pelo muito que nele se reflexionou. Os bispos
perceberam que a cristandade passou e estamos numa mudança de época e que a
Igreja deve afrontá-la. Ao completar-se 50 anos do Concílio está realizando-se
aquilo que o Papa João XXIII disse na Constituição apostólica Humanae salutis, com a qual se convocava
o Concílio: “A Igreja tem diante dela missões imensas, como nas épocas mais
trágicas da História”.
Na mina intervenção no Sínodo, citei uma frase fundamental da Escritura.
Diz a Epístola aos Hebreus 2, 14-15: “ Uma vez que os filhos têm em comum carne
e sangue, por isso também ele participou da mesma condição, a fim de destruir
pela morte o dominador da morte, isto é o diabo; e libertar os que
passaram toda a vida em estado de
servidão, pelo temor da morte”. Assim,
conforme esta antropologia revelada, o homem não pode amar – Como eu vos amei
-, pois está rodeado pelo medo à morte. A partir deste texto, que os Padres da
Igreja usaram nas catequeses para seus catecúmenos, como pode ser visto, sobretudo
em São Cirilo de Alexandria, podemos perguntar-nos: Acreditamos de fato que os
homens, pelo medo que tem à morte, estão submetidos por toda a sua vida à
escravidão do demônio? Se não acreditamos nisto, para que Evangelizar? Mas se
de fato acreditamos nisto, devemos dizer: “O amor de Cristo nos compele ao
pensar que se Ele morreu por todos, todos por tanto morreram. E morreu por
todos para que os que vivem, não vivam mais para si, senão para Aquele que
morreu e ressuscitou por eles” (2Cor 5, 14-15). O teólogo ortodoxo Oliver
Clement diz que o pecado original no homem o obriga a oferecer-se tudo para si.
São Paulo, na Epístola aos Romanos, diz que “o homem conhece o bem e deseja
fazê-lo, mas experimenta outra lei: querendo fazer o bem é o mal que se lhe
apresenta”.
|
|
|
“Também hoje, se
queremos levar adiante uma nova evangelização, é necessário dar os sinais que
posam abrir o ouvido do homem contemporâneo, que o preparem para escutar”
No decorrer do Sínodo, diversos prelados mencionaram o
Caminho Neocatecumenal como uma das realidades que melhor promove a nova
evangelização...
João
Paulo II reconheceu o Caminho como “um itinerário de formação católica válido
para a sociedade e os tempos de hoje”, e expressou como desejaria que “todos
meus irmãos no episcopado, junto a seus presbíteros, ajudem a esta obra para a
nova evangelização”. Estamos surpreendidos da forma que se está realizando, por
exemplo, com as famílias em missão. Justamente, uma das propostas do Sínodo
apresentadas ao Papa é agradecer às famílias que oferecem sua vida pela
evangelização. O Sínodo também tratou o tema das vocações, recolhendo-o num
agradecimento às novas realidades eclesiais pelas vocações que surgem nelas.
O Papa falou, na clausura do Sínodo, da missio ad gentes como uma das tarefas
primordiais para a evangelização. Como vocês levam ela adiante?
A
partir da nossa experiência de tantos anos evangelizando em meio aos afastados
e de tantos pagãos, vimos pessoas que vivem no inferno: muitos matrimônios que
se destroem, mulheres que são assassinadas, pessoas sozinhas, milhares e
milhares de suicídios, tantos jovens entregues à droga... Deus vê a Humanidade
sofrendo, condenada ao inferno do não ser, que não pode viver na verdade – que
é Cristo vivificado na doação total de si próprio -, e enviou seu Filho à terra
para que, pela sua morte e ressurreição, sejam perdoados os pecados e o homem
posa ser libertado da escravidão do demônio e receber a natureza divina que o
transforma em filho de Deus.
Em
Cristo abre-se novamente o céu e o homem pode amar como Cristo amou, pelo dom
do Espírito Santo. São Paulo diz que “Deus quis salvar o mundo pela estultice
do kerigma” ou da pregação, que é o
anúncio desta notícia. Mas a fé vem pelo ouvido, pela escuta. No entanto, nós
estamos numa sociedade secularizada, pós-cristiana, que tem o ouvido fechado.
Nos
Atos dos Apóstolos pode ser lido como Deus faz sinais, faz milagres, para abrir
o ouvido e preparar para escutar o kerigma.
Depois de ter aberto o ouvido ao kerigma,
perguntam a Pedro: “Que devemos fazer?”. São Pedro responde: “Convertei-vos e
fazei-vos batizar no nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados e
recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38). No entanto, num determinado
momento, os milagres cessam, pois aparece um milagre superior, que é a Igreja:
“Olhai como se amam!”, exclamavam os pagãos.
Diz Jesus: “Amai-vos como eu vós amei” e “Sede perfeitamente um e o
mundo acreditará”.
Também
hoje, se queremos levar adiante uma nova evangelização, é necessário dar os
sinais que posam abrir o ouvido do homem contemporâneo, que o preparem para
escutar. Mas, como uma comunidade cristã poderá chegar a esta estatura da fé,
do amor na dimensão da cruz e da perfeita unidade?
Precisa-se
um catecumenato pós-batismal que faça crescer a fé. Por esta razão existem
famílias do Caminho que partem em missão entre os ‘não batizados’ ou os
afastados da Igreja em países como Alemanha, Holanda, Suécia. Às catequeses que
oferecemos chegam muitos pagãos e ficam surpreendidos da maneira que se
relacionam estas famílias, porque aquilo que nos une aos cristãos é a relação
no Espírito Santo.
Álvaro de Juana
Alfa y Omega
Revista semanal católica de informação.
Fundação San Agustín, Arcebispado de Madri (Espanha)
quinta-feira, 1º de novembro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário