2º Domingo do Advento/Ano C
Preparação para a vinda do Senhor
Somos chamados a crescer até estarmos na altura de receber Deus; mas,
nesse crescimento, a força que nos anima é o próprio fato de Deus se
voltar para nós. O que faz um aluno crescer é a atenção que o professor
lhe dedica. O que faz uma criança andar é a mão estendida de sua mãe.
Por isso, nosso crescimento para a perfeição se alimenta da contemplação
do Deus que vem até nós. Na liturgia de hoje, esta perspectiva é
considerada, por assim dizer, a médio prazo (no próximo domingo será a
curto prazo). Lc situa no decurso da história humana o despontar do
Reino de Deus, na atividade do Precursor, João Batista (evangelho).
Ainda não se enxerga o “Sol da Justiça”, mas seus raios já abrasam o
horizonte. A perspectiva é ainda distante, mas segura: “Toda a
humanidade enxergará a salvação que vem de Deus” (Lc 3,6; cf. 1ª
leitura). Para isso, João Batista prega um batismo que significa
conversão, lembrando a renovação pelas águas do dilúvio, do Mar
Vermelho, do Jordão atravessado por Josué.
João Batista usa a imagem do aplanar o terreno, abrir uma estrada
para que o Reino de Deus possa chegar sem obstáculos. É a imagem com a
qual o Segundo Isaías anunciou a volta dos exilados, liderados por Deus
mesmo (Is 40,3-4; 42,16-17 etc.) e que, mais tarde, o livro de Baruc
utilizou para incentivar a “conversão permanente” do povo à confiança em
Deus (Br 5,7; 1ª leitura). Deus realiza sua obra, convoca seus filhos
de todos os lados (Br 3,4), deixa sua luz brilhar sobre o mundo inteiro
(3,3). A volta do Exílio foi prova disso (cf. salmo responsorial). Mas
agora, anuncia João, vem a plenitude. Agora é preciso “aplanar”
radicalmente o caminho no coração da gente.
A oração do dia fala no mesmo sentido: tirar de nosso coração todas
as preocupações que possam impedir Deus de chegar até nós. Alguém pode
entender isso num sentido individual. Mas não só isso. Vale também para a
sociedade. Devemos tirar os obstáculos do homem e das estruturas que o
condicionam. Renovação interior de cada um e renovação de nossa
sociedade são as condições que a chegada do Reino, a médio prazo, nos
impõe.
Portanto, o Reino não age sem nós. Não somos nós que o fazemos, mas
oferecemo-lhe condições de se implantar, como um governo oferece
condições a indústrias de fora para se implantar. Só que, no caso do
Reino, podemos contar com os lucros do investimento … Estes lucros são
“o fruto da justiça” de que Paulo fala (Fl 1,11; 2ª leitura). O Reino de
Deus não vem somente pedir contas de nós; leva-nos a produzir, para
nosso bem, o que Deus ama (pois ele nos ama).
O Reino já começou sua produção entre nós, desde a primeira vinda de
Jesus. Porém, fica ainda para se completar. O que João pregou naquela
oportunidade continua válido enquanto a obra não for completada.
Somente, estamos numa situação melhor do que os ouvintes de João. Nós já
podemos contemplar os frutos da justiça brotados de um verdadeiro
cristianismo. Seja isso mais uma razão para dar ouvido à sua mensagem.
Na medida em que transformarmos nossa existência histórica em fruto do
Reino, entenderemos melhor a perspectiva que transcende nossa história, a
plenitude cuja esperança celebramos em cada Advento (oração final).
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