A doutrina da cruz é o Evangelho de Paulo, a mensagem que ele prega a
judeus e pagãos. É um testemunho simples por natureza, destituído de
qualquer retórica e que não procura convencer por razões intelectuais.
Toda força provém da doutrina em si - a própria Cruz de Cristo, ou seja,
a morte de Cristo na Cruz e o Cristo crucificado. Ele mesmo é o poder e
a sabedoria de Deus; não somente o enviado de Deus, Filho de Deus e
Deus, ele próprio, mas também o Crucificado. Porque a morte na Cruz é
meio de Redenção, Deus dá o poder redentor aquele que, segundo critério
humano, parece fraco e louco, que não deseja ser nada por si próprio,
mas tudo pela força de Deus e que "aniquilou-se a si mesmo...
Tornando-se obediente até a morte, e morte de Cruz" (Fl 2,7-8).
Entende-se por força redentora o poder de ressuscitar aqueles que, pelo
pecado, morreram para a vida em Deus. A força redentora foi conferida ao
Verbo de coração aberto, sem exigir milagres ou argumentos intelectuais
de sabedoria humana. Em tais almas, o Verbo, na Cruz, torna-se força
vitalizante e formadora que denominamos "Ciência da Cruz", na qual São Paulo tornou-se mestre: "De
fato, pela Lei eu morri para a Lei, afim de viver para Deus. Fui
crucificado junto com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que
vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela Fé no Filho de
Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim" (Gl 2,19-20).
Nos dias em que tudo ao seu redor fez-se noite e só a alma continuava a
viver na claridade da luz, São Paulo, o zeloso observante da Lei,
compreendeu que a Lei somente serve de guia e indicador para Cristo.
Esta, quando muito, poderia nos preparar para receber a vida; não,
porém, comunicá-la. Cristo assumiu o jugo da Lei, cumprindo-a fielmente e
morrendo por ela e para ela. Assim isentou da Lei todos os que querem
receber a vida. Mas essa vida há de ser alcançada em troca do sacrifício
da própria vida, porque todos os batizados em Jesus Cristo foram
batizados em sua morte! (Rm 6,3ss).
Os que mergulham na vida de Cristo hão de se tornar membros do seu
corpo, a fim de com ele sofrer e morrer e, também com ele, ressurgir
para a vida eterna em Deus. Esta vida nos será dada em plenitude somente
no dia de sua glória. Mas participamos desde já - "na carne" - desta
vida, enquanto cremos: ou seja, crer que Cristo morreu por nós
para dar-nos a vida. É esta a fé que nos une a ele como membros a
cabeça, e que nos abre para receber sua vida. Assim é, portanto, a fé no
Crucificado - a fé viva, com entrega de amor - para nós o acesso a vida
e o início da Glória futura.
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