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Um grande véu foi erguido (I)
A Santíssima Virgem pronunciava todas estas palavras - segredos, regras -, mas eu somente pude adivinhar ou penetrar o resto do que ela dizia em palavras: um grande véu foi erguido, os acontecimentos se revelavam diante de meus olhos e da minha imaginação, na medida em que Ela pronunciava todas estas palavras e um grande espaço se desenrolava diante de mim; eu via acontecimentos, mudanças, transformações da Terra e Deus, imutável, na Sua Glória, olhava para a Virgem que descia à Terra para se dirigir a dois humildes pastores (...)
Existiam pessoas que desejavam que a Virgem não tivesse falado tanto. É pena que estas tenham ciúmes de uma pobre pastora que desejava, do fundo do coração, que todos vissem e ouvissem tudo o que ela vira e ouvira durante, aproximadamente meia-hora, porque todos teriam se convertido...
E estas pessoas que dizem que a Virgem Santa não fala tanto, teriam compreendido perfeitamente, e muito mais do que nos ensinam os livros - se livros que ensinam existem - que as palavras do Céu não são simplesmente palavras: quer dizer; que a pessoa que escuta não se restringe às palavras; mas cada palavra se desenvolve e a ação futura nasce naquele momento, e nós podemos ver mil e mil vezes, muito mais do que as orelhas possam ouvir.
Nós nos erguemos a uma altura que não é o Céu, e talvez, nem mudemos de lugar; mas nós vemos e ouvimos tudo, compreendemos sem nada dizer e nos esquecemos completamente de nós mesmos. E, sem que o queiramos, adentramos o espírito dos quadros que estão expostos: se o quadro apresenta uma cena triste, ficamos tristes; se a cena é alegre, ficamos alegres, sentimos a alegria que dele dimana. Vemos os complôs que são elaborados; vemos os reis da Terra, cada um com muitos Anjos da Guarda: nós os vemos agitarem-se, fazer e acontecer, fazer e desfazer; vemos o ciúme de uns, a ambição dos outros etc. etc.: e tudo isso numa única palavra que escapa dos lábios d´Aquela que faz estremecer o inferno: a Virgem Maria.
Sim, se estas pessoas tivessem visto alguém do Paraíso, uma única vez, nunca mais diriam que o espírito que se comunicou com elas não lhes dissera muitas coisas; diriam, sim, que é impossível reproduzir tudo o que lhes fora comunicado.
Sou uma grande ignorante; mas se fosse letrada e mais culta, não conseguiria escrever nada dos fatos do Alto, porque as expressões dos maiores sábios não conseguem chegar à sombra da verdade das expressões com as quais nos servimos lá no Céu, para nos comunicarmos. A linguagem do Alto é um movimento da alma, dos anseios da alma, dos elãs da alma; e os olhos vivos da alma se compreendem. Então, eu creio que, aqui, neste mundo, nós gostaríamos de explicar isto, mas não conseguiríamos. Principalmente, uma pessoa como eu, vil poeira, eu que não me considero sequer nascida para poder falar sobre essas coisas. Amemos o Bom Deus com todo o nosso coração: eis a nossa sabedoria e riqueza. Ó! é preciso ser louco de amor por Aquele que foi o primeiro a mostrar que é Louco de amor por nós... (...)
Acho muito difícil poder exprimir algo que não pode ser comparado a nada. Se, por exemplo, eu quisesse explicar de que forma eu via a Virgem Santíssima, ouvia as suas palavras, via acontecer o que ela contava com as suas palavras, via o mundo inteiro, e o olhar, o aspecto do Eterno; era como uma cena em ação. Eu via o sangue daqueles que foram condenados à morte e o sangue dos mártires; mas o amor desta doce Virgem se estendia sobre mim, tomando o lugar de todo o resto, cobrindo-me de emoção e lágrimas; eu não mais pensava, e nem conseguia refletir; inconscientemente, mostrava-me, então, sábia; falava, mas não com palavras; e quando a doce Virgem caminhava, não precisava dizer-me para acompanhá-la; eu já não sabia quem era, e não sabia que possuía pés para caminhar; eu estava atraída por ela; colada àquela beleza fulgurante: Maria!... Se eu quisesse explicar tudo isso jamais conseguiria reportar a verdade...
Carta de Mélanie ao Padre Félicien Bliard, no dia 26 de dezembro de 1870
contada no livro Descoberta do Segredo de La Salette
dos Padres René Laurentin e Corteville - Edições Fayard, 2002 - p. 216
A†Ω
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