Qual é a unidade que agrada a Deus?
“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. (Efésios 4,1-6)
UM CHAMADO À UNIDADE DA IGREJA
Não restam dúvidas de que a Bíblia contém um chamado à unidade que é dirigido a todos os cristãos. A fé cristã é uma fé universal (“católica”), porque Jesus Cristo, na cruz, removeu todas as barreiras de separação que outrora existiram. Judeus e gentios, homens e mulheres, ricos e pobres, cultos e iletrados: todos que são alcançados pela graça de Deus agora são UM em Cristo Jesus.
Isto significa que só existe UMA Igreja, que é a Igreja de Jesus Cristo, a comunhão universal dos seus redimidos. Ainda que os cristãos se reúnam debaixo de várias denominações (e embora eu não seja simpático a esta triste realidade), reconhecemos de fato que existe algo que nos une e que é muito maior que as nossas diferenças: Jesus Cristo, nosso Senhor, o Filho de Deus encarnado, cujo sangue nos purifica de todo pecado.
A Bíblia, no texto que ora analisamos, é enfática em nos exortar a que preservemos a unidade. Para tanto, a Palavra de Deus diz que devemos exercitar algumas virtudes cristãs: a humildade, a mansidão, a longanimidade e o amor.
As Escrituras nos dizem ainda que devemos nos “esforçar diligentemente”, revelando-nos que não será sem lutas que a unidade do Corpo de Cristo será preservada. Com isto, quer dizer a Escritura que a unidade só pode ser preservada onde permanece a Cruz; e, onde a Cruz permanece, não há espaço para o ego. A unidade da Igreja só pode existir quando os homens renunciam ao seu amor-próprio e à estima elevada que têm de si mesmos, para então reconhecerem nos outros algo de muito mais valor do que aquilo que eles próprios possuem.
A falta de amor altruísta e o excesso de amor-próprio são, portanto, a verdadeira causa de tanta desunião no meio do povo de Deus. Onde se manifesta o fruto do Espírito, que é, sobretudo o amor, as obras da carne não podem subsistir. E não é sem razão que oito das dezesseis obras da carne de Gálatas 5 estão relacionadas à quebra da unidade: inimizades, orgias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas. A falta de unidade na Igreja é consequência da extrema carnalidade em que vivem os cristãos.
A perplexidade de Paulo diante da carnalidade dos cristãos em Corinto permanece em nossos dias como uma advertência severa: “Acaso, Cristo está dividido?” Para Paulo, era impossível imaginar que o seu Senhor, aquele sobre quem a profecia afirmava que “nenhum dos seus ossos será quebrado”, possuísse um Corpo retalhado. E ele não estaria menos assombrado caso servisse entre nós nos dias de hoje.
Esforço diligente. Esta é a atitude exigida dos cristãos para a preservação da unidade, atitude que precisa ser precedida de humildade, mansidão, longanimidade e amor. Sem estas quatro virtudes, o esforço será inútil. Porém, com a manifestação do fruto do Espírito, é possível a cada cristão renunciar a si mesmo em favor dos seus irmãos e da unidade da Igreja. Que o Senhor leve cada um de nós a este esforço diligente.
A BASE DA VERDADEIRA UNIDADE
Qual é, porém, a base da unidade da Igreja? Paulo a chama “a unidade do Espírito”, querendo com isto demonstrar que a base da unidade do Corpo não é o “esforço diligente” que todo cristão, de fato, deve empreender, e sim a ação do próprio Espírito Santo.
De fato, há muitos homens bem-intencionados que têm empreendido grande trabalho no sentido de produzir a unidade. Todavia, lamentavelmente todo este esforço é inútil, pois é somente o Espírito quem gera a unidade. Confissões de fé, Convenções e outros documentos possuem a sua utilidade, porém não queiram os seus autores usá-los para ajudar Deus Espírito Santo em sua obra. A unidade do povo de Deus não pode estar fundada no acordo dos homens, pois não seria mais do que construir sobre areia movediça. Se queremos a verdadeira unidade, ela precisa ser gerada pela ação do Espírito Santo, sobre o sólido fundamento da imutabilidade de Deus.
Que isto significa? Que precisamos dizer NÃO a toda e qualquer tentativa realizada por homens, que não estejam confiadas em uma ação do Espírito.
Porém a Bíblia nos diz mais sobre este assunto: a verdadeira unidade do Corpo só pode ser uma consequência da unidade do próprio Deus. Após dizer: “há um só corpo”, Paulo nos explica que esta verdade está fundada na unidade de Deus e dos Seus decretos: Um só Espírito e Uma só esperança da nossa vocação. Todos nós fomos convencidos, regenerados e selados por um mesmo Espírito. Como pode haver desunião, se é um mesmo poder de vida que pulsa dentro de todos nós?
Um só Senhor, Uma só fé e Um só batismo. Por acaso não foi um só Salvador quem morreu por nós e determinou que, pela fé nEle, todos seríamos salvos? Também não é no mesmo e único nome de Jesus que todos nós fomos batizados? Por que, pois, estaríamos divididos debaixo de tantos outros nomes? Não! Somente em Seu nome nos reunimos!
Um só Deus e Pai. Não existem vários deuses. Há somente um Deus verdadeiro, e TODOS aqueles que servem e temem a este Deus verdadeiro “jogam no mesmo time”. Nenhuma divisão dentro deste povo pode fazer sentido.
Sendo assim, concluímos que a nossa unidade não existe e não pode existir por causa de fundamentos lançados por homens. Isto não é possível nem é necessário, uma vez que Deus já lançou o fundamento da verdadeira unidade: Ele mesmo. Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
A Ele, somente a Ele, a glória pela Unidade que Ele mesmo gerou. Aleluia!
UNIDADE E SEPARAÇÃO
Tendo exposto os fundamentos sobre os quais está firmada a unidade do Corpo de Cristo, não é difícil observar que o mesmo fundamento desta unidade é a base de uma separação. A mesma Cruz que derrubou todos os muros dentro da Igreja é a Cruz que ergueu uma muralha intransponível entre os salvos e os não-salvos. É isto que Paulo nos ensina em Gálatas 6,14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.”
Esta muralha, obviamente, não quer dizer que os cristãos devam desprezar ou afastar-se dos perdidos. O Senhor nunca nos ensinou isto. Ao contrário, Ele nos tirou do mundo e nos enviou para o mundo para que déssemos frutos que permaneçam. É dever de todo cristão praticar o amor e as boas obras como consequência de sua salvação, socorrendo a todos em suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. Todos, sejam os domésticos da fé, sejam aqueles que não conhecem a Cristo.
Todavia, existe um nível de relacionamento que é absolutamente impossível entre um cristão e um incrédulo. A Palavra de Deus é extremamente severa quando nos fala sobre isto: ““Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso”. (2 Coríntios 6,14-18)
Observe as expressões utilizadas para descrever tal relacionamento: sociedade, comunhão, harmonia, união, ligação. Então, compare com as ordens que nos são dadas ao final do texto: RETIRAI-VOS, SEPARAI-VOS e NÃO TOQUEIS. Não há dúvidas que estamos diante de um tipo de relacionamento que é completamente inaceitável aos olhos de Deus. Sim, o mesmo Deus que ama e nos ordena amar também ordena a cada cristão que não esteja de modo algum ligado ao incrédulo.
A doutrina da separação é tão importante quanto o ensinamento acerca da unidade. Pois só pode haver a unidade do Espírito onde não há mistura com o Maligno. Sempre que há mistura com o Maligno, a unidade do Espírito é quebrada. Os homens podem preservar a instituição, o acordo, a confissão de fé. Mas a unidade do Espírito não subsiste quando os cristãos toleram a mistura e a profanação.
Lembremos de qual é a base da unidade genuína: Um só Espírito, Um só Senhor e Um só Deus Pai. Como podem estar debaixo dessa união aqueles que proclamam outros deuses? Como podem ser chamados de irmãos aqueles que desprezam o sangue pelo qual fomos comprados, e anunciam qualquer outro caminho para a salvação além de Jesus Cristo, nosso Senhor? Como podem estar unidos por Aquele que se chama “O Espírito da Verdade”, se desprezam completamente a Verdade (escrita e encarnada) que Deus nos revelou?
Tanto quanto é inaceitável a existência de divisões no meio do povo de Deus, é inaceitável que o Povo da Superior Aliança aceite a mistura e a profanação dentro de si. Em Samaria também havia o templo do Senhor e os templos dos ídolos, e Deus enviou o rei da Assíria para que os assolasse! E a Bíblia diz claramente: “Porque Deus os rejeitou”.
Precisamos estar do lado de Deus, irmãos! Precisamos estar contra aqueles que não amam a Verdade e acham que a união dos homens é mais importante do que a santidade de Deus. Digamos: NÃO!. Estejamos prontos para batalhar pela fé que nos foi entregue. Mesmo que isso nos isole.
“Maior é o que nos une do que o que nos separa”.
A unidade só pode ser preservada onde permanece a Cruz; e, onde a Cruz permanece, não há espaço para o ego.
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