Atenção pais! Video game vicia e pode levar quem o joga a depressão e até a morte
A
revista Catolicismo deste mês (edição Nº 739) publica uma entrevista
muito proveitosa para os pais de família.
A entrevistada é a Sra.
Elizabeth Woolley — norte-americana fundadora do Online Gamers Anonymous
(Jogadores Anônimos Online). Ela alerta os pais sobre o perigoso mundo
da internet e dos videogames, que poderá viciar seus filhos.
Tendo como objetivo auxiliar as famílias a controlar e
salvaguardar os pequenos dos malefícios dos jogos de computador, aqui
transcrevo a entrevista com a Sra. Woolley.
Aos pais, um apelo ao dever
Catolicismo — A senhora poderia explicar por que fundou Online Gamers Anonymous?
Sra. Wooley —
Em 2002, meu filho Shawn viciou-se em um jogo chamado Everquest. Em
três meses ele largou o emprego, foi despejado de sua casa e ficava a
noite inteira acordado jogando no computador.
Apesar de nossos ingentes esforços para auxiliá-lo a restabelecer a normalidade em sua vida, ele cometeu suicídio um ano e meio mais tarde. Pouco tempo depois de seu suicídio, concedi uma entrevista ao “Milwaukee Journal Sentinel”, e foi então que me dei conta de quantas famílias estão sendo destruídas e sofrem como a minha.
Em 2002 eu decidi fundar o site Online Gamers Anonymous para ajudar essas pessoas a terem um lugar para se encontrar e saberem que não estão sozinhas. Faço questão de informar que esses jogos podem assumir o controle de suas vidas da mesma forma como o álcool e as drogas.
Alguns jogadores me disseram que a pessoa pode tornar-se viciada em
menos de 24 horas. Assim, ao passar dos jogos sociais para os jogos que
provocam o vício, ela não consegue voltar atrás. Esses jogos podem
tornar-se a droga preferida, devendo ser considerados como tal.
O nosso website www.olganon.org divulga pesquisas sobre o modo como
esses jogos afetam as crianças, prejudicando o seu normal crescimento e
seu desempenho social, e procura alertar os pais a esse respeito.
Organizamos diversas reuniões semanais nas quais os viciados contam a
sua história e apoiam-se mutuamente no esforço de abandonar o vício,
além de debaterem muitos assuntos relacionados com o problema deles.
Catolicismo — A senhora daria algum conselho aos pais que têm videogames em casa?
Sra. Wooley — O elemento crucial é garantir uma vida
equilibrada aos filhos. Eles não podem ser criados com base em uma só
atividade, pois do contrário vão ter problemas. Mesmo quando a criança protesta, a missão dos pais é dizer “não”, e guiá-los para outras atividades.
Ser pai ou mãe não é fácil, mas posso garantir que a vida podia ser
perfeitamente normal antes da existência de videogames. Como pais,
precisamos encontrar ou criar outras atividades para os nossos filhos
que não sejam somente a de fazê-los sentar-se diante de uma tela de
computador.
Isso significa engajá-los em esporte, em encontros sociais e atividades educacionais. Mas é necessário oferecer-lhes opções. Se a criança disser que não quer abandonar o jogo, é preciso estabelecer limites ou então ela acabará tendo problemas.
Catolicismo — Que tipo de pessoa tem inclinação para tornar-se viciada e quais são as consequências?
Sra. Wooley — Qualquer pessoa pode
se viciar. Certas universidades confessam que o videogame é responsável
por uma grande porcentagem de desistências. Muitas delas mantêm agora
psicólogos para tratar do problema do vício no jogo entre os alunos.
Estão também investigando se os estudantes estão envolvidos em
videogames antes de lhes conceder bolsas de estudo.
Elas sabem que podem estar perdendo uma bolsa se o candidato for um
viciado. Eu conheço diversos pais que perderam as economias aplicadas no
estudo dos filhos por causa disso. Muitos jovens que estão
sendo arrastados para esse vício são de fato gênios. Eles são bastante
inteligentes e cheios de motivação. A prova é que muitos desses jogos
exigem horas de esforço tedioso, concentração e paciência.
É triste ver todo esse potencial intelectual sendo jogado no lixo.
Além das considerações que se podem fazer sobre o modo pelo qual o
videogame prejudica as vidas e a educação, temos que levar em conta o
quanto se poderia ganhar caso esses jovens capazes estivessem resolvendo
os reais problemas da sociedade.
Os videogames se tornaram em vez disso um poderoso fator de
estupidificação da sociedade. Às vezes, pessoas já crescidas e com
emprego sério podem ficar viciadas. Eu conheço várias delas que possuíam
trabalho e casa, mas perderam tudo por causa dos videogames.
Houve um caso extremo de um senhor na Flórida que perdeu seu emprego e
teve que ir viver na rua. Ele acabou arranjando trabalho num
restaurante a fim de conseguir dinheiro suficiente para ir ao gaming
café, onde fica jogando o resto do dia. Quando o gaming café fecha, ele
vai dormir na rua e no dia seguinte repete
a mesma coisa.
Muitos pais deixam a família para terem mais tempo de jogar. Eles
perdem completamente a preocupação pelos filhos, porque tudo quanto eles
julgam poder fazer é jogar. Mulheres adultas são mais inclinadas a
engajar-se em jogos sociais como Farmville, SIMS e Second Life, porque
gostam de fazer coisas conjuntas. Isso frequentemente causa problemas,
pois as mulheres casadas acabam deixando os maridos e a família,
abandonando os próprios filhos, para estarem com uma pessoa do jogo.
Há muitos exemplos disso. Um caso extremo foi o do casal coreano que
deixou o filho real morrer de má nutrição porque passavam todo o tempo
disponível cuidando do “filho virtual”.
Catolicismo — A maioria dos videogames dá às crianças uma
sensação de que elas são algo ou que estão realizando alguma coisa. Isso
é errado?
Sra. Wooley — Um dos perigos maiores é precisamente o
de ser muito fácil obter uma sensação de valor e realização através do
jogo. Se a pessoa não consegue um resultado ou não gosta do que fez,
pode recomeçar até conseguir o resultado certo.
Bem, a vida real não é assim. A vida real não é tão fácil e com
frequência não se tem uma segunda oportunidade. Com isso, por contraste,
a criança fica desanimada com a vida real e termina abandonando-a
inteiramente.
Ela diz a si mesma: “Isto é muito difícil”, e foge de volta para os
jogos. Tal atitude representa um perigo enorme para a vida social da
criança. Em vez de satisfazer seus desejos de coisas como valor e
realização através de intercâmbio social, ela os obtém por meio dos
jogos. Desta forma ela não tem a experiência necessária da vida real,
especialmente do sofrimento normal da vida, e não aprende a lidar com
bons e maus momentos.
Vida real não é fácil para
ninguém, e permitir que uma criança use jogos como droga para fugir da
vida real não vai ensiná-la a lidar com ela.
Eu pude comprovar isso em meu filho. No jogo ele podia facilmente
fazer o que queria e sentir-se realizando algo. Ao mesmo tempo, ele não
estava usando seu tempo para cuidar de sua vida real, de modo que não
havia nada para sustentá-lo.
A um certo ponto ele passou a não se importar mais com o futuro e de
como progredir na vida real. Se a maior parte de seu tempo é usada nos
jogos, não haverá tempo suficiente para aprimorar a educação,
habilidades e amizades na vida real. Todos aqueles que de fato queiram realizar algo na vida precisam abandonar os jogos e se dedicar à vida real.
Catolicismo — Qual é a sua mensagem aos pais que usam videogames para ajudar a entreter seus filhos?
Sra. Wooley —Eu tenho visto muitas atitudes
irresponsáveis de pais que desejam usar os videogames como babás. Isso
infelizmente acontece porque muitos pais são com frequência eles
próprios jogadores.
Primeiramente, não é bom pai aquele que dá à criança um jogo
de computador para que ela não o amole. Ocupe-se de seu filho na vida
real!
Conheci um pai que ensinou seu filho de três anos a jogar com ele
World of Warcraft, achando que se conseguisse tornar a criança viciada
naquele jogo, poderia vir a ter um melhor relacionamento com ela.
Faço questão de dizer aos pais que jogar tais jogos com os
filhos não pode ser chamado de relacionamento, uma vez que durante os
mesmos não há quase nenhuma troca de palavras; o modo de a criança se relacionar com qualquer coisa durante o jogo é unicamente através dos controles.
Em segundo lugar, recomendo aos pais que não permitam a nenhuma
criança de menos de 16 anos jogar esses jogos ligados à Internet, e
ponto final. Além de nunca se saber contra quem eles estão jogando, os
pedófilos estão sempre imaginando meios de se conectarem com crianças
através desses jogos.
Os pais imaginam que é seguro por ser dentro de casa, mas não é. Dar aos filhos o jogo de Internet é como colocá-los num bar público sozinhos.
Há também o seguinte: muitas vezes os pais me dizem que não têm outra
saída senão dar à criança o que ela quer, acabando não se dando conta
do conteúdo do jogo. Esses jogos podem ter material sexual explícito,
palavras imorais, uso de drogas, violência imoderada e destruição. Se
isso estivesse num filme, apenas a violência já colocaria o filme na
categoria “R” (proibido para menores de 17 anos).
Apesar de a maior parte das famílias cristãs com as quais
falo serem incapazes de dar a seus filhos um filme classificado como
“R”, elas os deixam jogar jogos violentos. Isso lhes é muito
prejudicial.
Catolicismo — E se os filmes não forem violentos e online?
Sra. Wooley — O simples fato de não serem violentos
nem on-line não significa que não sejam perigosos. Seria o mesmo que
dizer que está bem dar às crianças drogas não violentas.
Nunca é demais lembrar que videogames devem ser considerados como
possíveis drogas, não se podendo permitir a ninguém de se tornar viciado
nelas. É certo que, quando um jogador cruza a linha entre o poder
decidir quando jogar e o ser forçado a jogar, sua mente foi já
reprogramada pelo vício.
Ele não está jogando porque quer, mas porque precisa. Nesse ponto,
ele começa a odiar o jogo, mas não pode mais parar. Sua vida se
despedaça e ele entra no círculo vicioso de sentir-se culpado e ter
“euforias” nos jogos. Depois cai novamente na sensação de culpa e volta
ao jogo, onde tudo recomeça.
Ao “datilografar” constantemente o teclado nos jogos, ele se
torna desumanizado, dando menor importância aos próprios sentidos, não
saindo de casa para fazer exercício ou tomar sol e comer algo decente:
ele se torna uma concha humana.
Eu ainda julgo que se deveria pesquisar mais a respeito disso, mas já
há suficiente informação de como os jogos afetam especialmente os
jovens, atrofiando o seu crescimento mental e sua capacidade de se
relacionar socialmente.
Isso foi um dos aspectos que me chocaram a respeito de meu filho. Ele
parou de falar com as pessoas, inclusive comigo, sua mãe. Antes de
começar a jogar os videogames, ele era como todos nós: tinha um futuro,
planos, amigos e um emprego.
Após tornar-se viciado, foi como se uma luz na sua cabeça tivesse
sido desligada: desinteressou-se totalmente de como deveria passar a
vida real, não se importando mais sobre o que poderia acontecer-lhe no
futuro, perdeu completamente suas metas e princípios.
Parou de pensar na realidade e tornou-se deprimido. Sua personalidade
mudou radicalmente e ele se tornou anti-social. Essa é a razão pela
qual eu sempre digo que tais jogos podem reprogramar o cérebro da
pessoa, transformando-a em outro indivíduo. Os amigos de meu filho
ficaram abismados de quanto ele efetivamente mudou.
Catolicismo — A senhora poderia dar um exemplo de pais que acabaram intervindo tarde demais?
Sra. Wooley — Um dos garotos que conheci era um
jovem canadense de 15 anos chamado Brandon. Ele começou a jogar um jogo
chamado Call of Duty e seus pais, apesar de saberem que aquilo lhe
estava causando problemas, não encontravam um meio de fazê-lo parar.
Brandon considerava-se uma pessoa muito poderosa no jogo, e não queria
largá-lo devido a essa sensação de importância que estava adquirindo e
por ser alvo de atenção.
Em 2008, seus pais finalmente decidiram pôr um freio na história e
lhe tiraram o jogo. Brandon acabou fugindo de casa. Algumas semanas mais
tarde, alguns caçadores descobriram seu cadáver a 10 quilômetros de
onde residia. Parece que ele teria saltado de uma árvore.
Extraído de: Blog da Família
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