"Como podemos querer respeitar o planeta se não somos capazes nem mesmo de respeitar aos nossos filhos?"
A agência
de notícias ZENIT publicou recentemente (precisamente nos dias 21 e 22
de junho) uma excelente entrevista sobre a questão da implantação do
aborto num país.
O entrevistado foi um especialista em bioética, o Padre Hélio
Luciano — entre outros importantes títulos, é mestre em bioética pela
Universidade de Navarra (Espanha).
Por exemplo, ele trata de nações, como o Brasil, que legislam a favor dos embriões de animais, mas nas quais “os seres humanos estão totalmente indefesos. Hoje é mais seguro nascer feto de baleia do que feto humano”.
Mostra também, entre outras interessantes questões, que não deve ser
mera coincidência que nações como a Grécia, Portugal, Espanha e Itália —
com as menores taxas de nascimento e maiores índices de aborto — são
aquelas que mais padecem devido às atuais crises econômicas. Ele dá um
bom exemplo histórico:
“Toda a civilização
que desrespeitou os valores básicos do ser humano, entrou em decadência
e desapareceu. O exemplo mais claro foi a degradação do Império Romano —
quando deixou de velar pelos valores básicos, tornando-se meramente
‘populista’, ampliou seu domínio físico, mas perdeu sua força moral.
Não foi a invasão dos chamados ‘povos bárbaros’ o que acabou com Roma —
este foi só o golpe final que fez cair o que por dentro já estava
moralmente destruído”.
APROVAR O ABORTO SERIA UM RETROCESSO PARA O BRASIL - (PARTE I)
Por Thácio Siqueira
BRASILIA, quinta-feira, 21 de junho de 2012 (
ZENIT.org)
— De forma muitas vezes velada o Aborto tem sido introduzido em
diversos países com raízes cristãs. Introduzido como prática legal e até
mesmo financiado pelos governos e por grandes fundações internacionais.
No dia 18 de abril desse ano o Pe. Helio nos concedeu uma
entrevista sobre as causas da aprovação do aborto de anencéfalos pelo
STF no Brasil.
Dessa vez, para continuar ajudando os católicos do Brasil a
refletirem sobre o tema, o Pe. Helio Luciano, mestre em bioética pela
Universidade de Navarra, mestre em Teologia Moral pela Pontificia
Universidade Santa Cruz em Roma e membro da comissão de bioética da
CNBB, concedeu a ZENIT mais uma entrevista para esclarecer alguns pontos
em relação ao aborto e ao perigo da aprovação do aborto numa nação.
Hoje publicamos a primeira parte dessa entrevista.
ZENIT: Por que o aborto não deve ser legalizado no Brasil e
em nenhum país? Os defensores da causa abortista alegam que a aprovação
do aborto numa nação é sinal de progresso e desenvolvimento. Realmente é
assim? A visão da Igreja católica não é uma visão redutiva da
realidade?
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PE. HELIO: O Direito nasceu – historicamente –
para defender o mais fraco. Por exemplo; se um indivíduo tivesse várias
posses materiais poderia vir a pressionar – através da ameaça ou outros
meios coercitivos – um pobre a vender a sua terra.
O Direito, na raiz da civilização, surge para defender a esse pobre
que não poderia defender-se por si mesmo. Além disso, o Direito possui
uma raiz natural, ou seja, deve respeitar a natureza e a verdade das
realidades que regula – no exemplo citado anteriormente, podemos ver que
a base natural é o direito que todos possuem à propriedade privada e o
direito básico de uma pessoa ter o mínimo para sua sobrevivência.
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Aprovar o aborto, ou
despenalizá-lo, seria um retrocesso jurídico da nossa sociedade e,
consequentemente, um retrocesso da nossa civilização – negaríamos a
mesma raiz do Direito, ou seja, a sua base natural e a defesa do mais
fraco.
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Cientificamente, hordiernamente, ninguém pode duvidar que um
embrião humano seja um ser humano – com um DNA humano único e
irrepetível. É uma clara evidência científica – se pegamos uma célula
deste embrião podemos afirmar claramente que é um indivíduo da espécieHomo sapiens sapiens.
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O que se coloca em jogo, então, não é a possibilidade de eliminar
algo que não seria uma vida humana, mas sim o conflito entre duas
liberdades – a do embrião e àquela da mãe.
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É verdade que pode haver este conflito – e que, muitas vezes,
existe de fato – mas, como víamos antes, a quem o Direito está chamado a
defender? A vida de um ser inocente e indefeso ou a liberdade de uma
mulher que não quer conceber este indivíduo (gerado por ela)? Quem é o
mais débil, o mais fraco? Qual o bem maior – a vida de um ser, base de
todos os demais direitos ou a liberdade de outro? Certamente o Direito –
tal como foi concebido, com base em uma raiz natural – deveria defender
aqui o direito básico à vida.
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Que as nações chamadas de “Primeiro Mundo” tenham cometido este
retrocesso civilizatório e jurídico não converte o aborto em sinal de
progresso. É mais, seria um claro sinal de retrocesso.
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Há países na Europa cujo número de crianças abortadas supera o número de crianças nascidas.
Falando só desde o ponto de vista econômico, não é esta uma das causas
da crise europeia? Falta população que gere consumo interno, gerando
produção e gerando emprego.
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A “cultura de morte” jamais
gerou progresso. Gera egoísmo, falta de doação, falta de caridade. Que
sociedade é essa “civilizada” que considera os filhos não como um bem,
mas como um mero problema a ser eliminado? Que sociedade civilizada é
essa que mata aos seus próprios filhos, cidadãos e membros desta mesma
sociedade?
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Para evitar este retrocesso em todos os sentidos – humanista,
moral, ético, jurídico, social – é que o aborto não deveria ser aprovado
no Brasil e em nenhum lugar do mundo.
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Por fim, a Igreja sempre foi e continua sendo mestra de humanidade.
Certamente não está sendo redutiva neste ponto, mas está pedindo à
humanidade que venha a ser humana de fato. Está pedindo que respeitemos o
mais básico dos direitos – aquele da vida de um ser inocente. O
reducionismo não é da Igreja, mas sim deste grupo de pessoas que se
sentem iluminadas, que – com um alto grau de miopia – enxergam o
retrocesso como progresso, enxergam o assassinato como liberdade.
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ZENIT— A resposta da Igreja Católica a favor da vida do
nascituro é uma resposta somente baseada na Sagrada Escritura, como
pensam alguns?
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PE. HELIO: Deus revelou muitas verdades aos
homens, e muitas delas através da Sagrada Escritura. Dentre essas
verdades reveladas, podemos dizer que existem dois tipos: as verdades
totalmente sobrenaturais, que o homem jamais seria capaz de alcançar com
suas próprias forças, como, por exemplo, a verdade de que Deus é Uno e
Trino, ou a entrega de Cristo na Eucaristia. Esse tipo de verdade,
logicamente, exige a fé.
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Por outro lado Deus também revelou algumas verdades de ordem
natural, ou seja, verdades que o homem seria capaz de alcançar com suas
próprias forças. Neste sentido, podemos dizer que somos ajudados a
alcançar e entender essas verdades básicas. Porém, se alguém não tem fé
ou não conhece a Sagrada Escritura, também é capaz de alcançar tais
verdades.
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Uma dessas verdades naturais – que qualquer pessoa com o uso de
razão é capaz de alcançar – é a proibição de matar a um inocente.
Culturas não católicas e não cristãs são capazes de entender essa
obrigação humana. Países como o Japão, por exemplo – sem influxo cristão
– possui legislação que defende a vida do inocente.
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Portanto a questão da defesa da vida do embrião ou do feto não é um
tema religioso. É uma questão de humanidade. Neste sentido, poderá de
fato um dia haver leis contrárias à defesa da vida, mas jamais serão
verdadeiras leis, porque serão contrárias ao próprio modo de ser do
homem.
ZENIT— Outro dos argumentos usados em favor do aborto é o
crescimento demográfico, que, segundo alguns, é algo que ameaça a vida
do planeta. É válido esse argumento?
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PE. HELIO: As teorias malthusianas parecem ter
entrado de tal modo na cultura mundial, que se dá por suposto algo que,
comprovadamente, é falso. Nestas teorias – que tiveram tanto êxito nos
séculos XIX e XX – se dizia que o crescimento populacional se daria em
progressão geométrica, enquanto os recursos humanos cresceriam em
progressão aritmética. Deste modo, em poucas décadas, haveria uma
completa escassez de recursos no planeta.
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A mesma teoria malthusiana agora volta a estar de moda. Desta vez
ela vem disfarçada com uma nova roupa, a do “ecologismo”, e com traços
apocalípticos – como se o homem fosse o único mal da terra e esta
estivesse a ponto de ser destruída.
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Chegamos à geração “Avatar” – que exalta a ecologia ao mesmo tempo em que mata seus próprios filhos.
É verdade que não podemos desrespeitar o mundo que nos foi dado, é
verdade também que temos um dever de justiça de deixar o mundo para as
gerações futuras, mas é fundamental entender que o mundo está em função
do homem – para ser utilizado racionalmente e com respeito.
.
A grande escassez de recursos anunciada por Malthus jamais se
cumpriu. Os avanços na agricultura – desde a invenção do trator até as
altas tecnologias utilizadas para as sementes – aumentaram a produção
agrícola de modo vertiginoso e muito maior que qualquer previsão. As
terras cultivadas hoje – segundo dados do Banco Mundial e da ONU –
chegam somente a 24% do total de terras que ainda podem ser cultivadas
no mundo.
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Além disso, as novas tecnologias constantemente permitem que terras
consideradas inférteis sejam passíveis de cultivo – como, por exemplo,
muitos hectares de terras antes consideradas desérticas em Israel.
Com base em tudo que foi visto, é lógico que considerar o crescimento
demográfico como uma ameaça à vida do planeta é uma teoria ultrapassada
e absolutamente sem nenhuma evidência científica. O controle de
natalidade – muitas vezes desrespeitando a própria liberdade da mulher
através de esterilizações forçadas – antes de ser uma solução para o
respeito ao meio ambiente, é uma das causas da crise.
O aborto, como forma de controlar o crescimento demográfico, traz uma
“cultura de morte” incompatível com o próprio modo de ser da
humanidade. Como podemos querer respeitar o planeta se não somos capazes nem mesmo de respeitar aos nossos filhos?
continua…
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