15º DOMINGO DO TEMPO
COMUM – ANO B
15 DE JULHO DE 2012
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“Amor e
fidelidade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 84,11)
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Leituras:
Amós 7, 12-15;
Salmo 84 (85);
Carta de São Paulo aos Efésios 1, 3-14;
Marcos 6,
7-13.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta celebração Deus nos chama, assim como no passado chamou os
apóstolos e nos diz: “vai profetizar”, vai anunciar, com palavras e atitudes,
caminhos de vida verdadeira e plena para todos. Caminhos de vida eterna, aqueles
que nos conduzem à plenitude de vida que Cristo nos trouxe.
1. Situando-nos
brevemente
Convocados e reunidos pela bondade do Senhor, aqui
estamos com o coração em festa para celebrar a nossa Páscoa semanal. Alegres e
abertos aos apelos para a missão, fazemos memória de Jesus, o missionário do
Pai.
Um dia, Ele chamou e enviou apóstolos para junto do
povo, necessitado de saúde, de paz, de conforto e de um sentido para a vida.
Hoje, nos confia a continuidade dessa missão. Sentimos e vivemos a sua Páscoa
na vida das pessoas que se entregam à causa dos pequenos e dos pobres.
Na celebração litúrgica, o Senhor nos fortalece e nos
ajuda a recuperar a alegria e o entusiasmo de nossa consagração a serviço do
Reino. Nos desígnios do Pai, fomos feitos filhos seus e herdeiros desse Reino. Os
filhos e os herdeiros têm o direito e a responsabilidade de serem os
continuadores e amigos do projeto divino.
2. Recordando a
Palavra
No Evangelho de Marcos, como
caminho de iniciação cristã, descobrimos, passo a passo, quem é Jesus e como
ser seu amigo, parceiro e discípulo. Como apóstolos, somos convocados,
batizados e iluminados, para sermos enviados. O convite de Deus sempre implica
num envio. Somos cristãos não para enfeitar a Igreja, nem para granjear
honrarias, mas para a missão e o compromisso.
Depois de rejeitado em Nazaré, sua
terra (Evangelho do domingo passado), Jesus chama os discípulos e começa a
enviá-los em missão, dois a dois, com o poder de expulsar os espíritos maus e
de curar os doentes. Mas impõe algumas condições:
1. Ir dois a
dois, isto é, de mãos dadas, abraçados com a vida sonhada por Deus para todos,
em harmonia e bom entendimento. O segredo é a ajuda mútua entre as pessoas que
evangelizam. Havia o costume judaico de não viajar sozinho e, aqui, simboliza
também a dimensão comunitária da missão.
2. Levar um
cajado e ter sandálias nos pés significa estar disposto para uma longa
caminhada. Cajado é símbolo do caminheiro do deserto, apoio nas estradas
tortuosas e perigosas e identidade do servidor. “Sandálias nos pés” significa
desprendimento e atitude de colocar-se a serviço sem reservas.
3. Levar só o
necessário, evitar aparências, ser pobre para ser livre e apresentar-se pobre e
sem poder. O supérfluo pesa e atrapalha a missão. O passo do peregrino do
Evangelho se caracteriza pela leveza e rapidez.
4. Contentar-se
com a hospitalidade do caminho. Hospitalidade não está no conforto de uma
residência, mas na Igreja e na paz experimentadas, frutos da Palavra
partilhada. Na verdade, simboliza o exercício da missão com gratuidade, sem
esperar recompensas e muito menos pagamentos. Com desapego às coisas que passam
e inteiro despojamento de si mesmo. Para tanto, ter cuidado com a “poeira” dos
que não aceitam o Evangelho. Não impor seus ideais e ideologias, mas comunicar
os ensinamentos do Senhor com liberdade e sem medo das possíveis recusas. Nunca
impor o Evangelho, pois é mais coerente com o jeito de Deus respeitar a
liberdade e a opção religiosas das pessoas.
“Convertam-se e creiam no
Evangelho”! Nisso está o ensinamento básico, tanto na boca de Jesus como na
missão dos apóstolos. O desafio é desempenhar a missão no modo de Jesus na
pedagogia dele, que veio curar e consolar. Não são discursos, mas sinais
concretos: expulsar demônios, curar e libertar. Numa palavra: destruir tudo o
que oprime, escraviza, rebaixa e exclui as pessoas. Abrir-se para todas as
possibilidades de vida feliz e abundante para todos.
Os discípulos expulsaram “espíritos
imundos e muitos demônios” e curaram vários enfermos. Espíritos imundos são
todas as forças do mal, as forças que provocam doenças, que suscitam maus
sentimentos e que originam opressões, violências e injustiças. Dessa forma, os
Doze foram adquirindo autonomia e confiança em si mesmo, e tomaram mais
consciência de que eram capazes de realizar as mesmas coisas que Jesus
realizava. O enviado não escolhe a própria direção; age em nome de quem o
enviou.
A leitura do Primeiro Testamento
está em um contexto de crescente desigualdade entre ricos e pobres. Ricos cada
vez mais ricos à custa dos pobres, sempre mais pobres. Há uma manipulação do
rei à religião e ao culto. Amós, simples vaqueiro e cultivador de sicômoros, é
escolhido por Deus para falar como profeta numa terra que não era sua. Ele era
do sul e foi enviado a profetizar no norte. Sua palavra contesta o rei e a
própria religião oficial, que encobre os desmandos dos poderosos. Foi logo
rejeitado, expulso e intimado a voltar para sua região de origem, Judá.
Amós, profeta e escritor, profetiza
mais ou menos em 760 a.C., no tempo de Jeroboão, rei de Israel no norte
(783-743 a.C) que criou santuários em Betel e Dã. Nos santuários, colocou
bezerros de ouro, Betel passou a ser “santuário do rei”. A denúncia e a
inconformidade do profeta provêm de Deus para defender a vida do povo.
Deus garante que o povo lhe pertence.
Ninguém poderá, mesmo em nome da religião, manipular, explorar e oprimir seu
povo. Tal convicção encoraja e fortalece o profeta diante das grandes dificuldades
que a missão lhe impõe.
Essa consciência política e
religiosa de Amós o fará não temer os poderosos, nem fugir do compromisso
profético diante da herança de Deus esmagada: o seu povo, o povo da aliança,
vocacionado à liberdade, à terra e a dignidade da vida.
O Salmo 84 (85) é uma súplica
coletiva. A sua compilação é posterior à volta do exílio da Babilônia. Ocupa-se
com o povo reunido clamando por restauração e salvação. “A salvação está
próxima e a glória de Deus vai habitar outra vez a terra. O universo inteiro
vai participar de uma grande coreografia. É a dança da vida que está por
começar. Já se formam os pares: Amor e Fidelidade, Justiça e Paz, Fidelidade e
Justiça” (José Bortolini, Conhecer e
Rezar os Salmos. Paulus. São Paulo, 2001 p.353).
O Salmo atesta que Deus está ligado
à terra, símbolo da vida. Entre Ele e a terra há um diálogo aberto e uma troca
de bens. Javé dá a chuva, e a terra dá alimento ao povo, e o povo, por sua vez,
festeja com Deus, oferecendo os primeiros frutos produzidos pela terra. Hoje,
cantamos o salmo à luz do mistério de Cristo.
Ouviremos partes da carta aos
Efésios nos próximos sete domingos. Hoje em (1,3-14), encontramos um hino de
benção e louvor, síntese de toda a carta. Bento XVI reafirma que é uma anáfora
litúrgica, exaltando o desígnio de Deus, realizado nas pessoas por meio de
Cristo.
A “benção” é uma característica da
oração judaica. O israelita medita o dia todo nas intervenções de Deus em favor
do seu povo. Recorda com muita alegria os benefícios por Ele concedidos e lhe
rende graças, pronunciando uma “benção”.
Deus, antes da criação do mundo,
pensou em nós. E, movido por seu imenso amor, não se limitou em nos dar a vida.
Idealizou um plano de salvação para toda a humanidade. Decidiu que todos os
homens formassem uma só pessoa com Cristo, que recebessem a sua vida divina e
fossem introduzidos na sua intimidade. Deste modo, poderão ser eternamente
felizes com Ele. A humanidade não está destinada à ruína e à destruição, mas à
felicidade sem fim.
A bênção de Deus é considerada como
eleição, libertação, recapitulação, herança prometida, dom do Espírito, presença
da Páscoa de Cristo, nossa vida e ressurreição.
3. Atualizando a
Palavra
A Palavra de Deus indica que o seguimento acontece no
cotidiano: no trabalho comunitário, realizado em mutirão, no desprendimento e
na disponibilidade. O anúncio alegre da Boa Nova deve envolver toda a pessoa,
não como simples funcionário, mas como profeta, em meio a tantos conflitos e
situações de injustiça e exploração do povo simples.
Fomos chamados para uma missão que não escolhemos, mas
fomos escolhidos antes da criação do mundo para sermos enviados como servidores
do povo. Escolha é graça e, por outro lado, traz exigências, como a recusa de
privilégio social e econômico; um desprendimento pessoal.
A vivência religiosa tem conseqüência social, política e
econômica. Esta foi a postura de Jesus. O Evangelho que propõe leva-nos a fazer
política, segundo o interesse do amor, da fraternidade e da justiça.
Fomos marcados por Cristo e com o Espírito Santo, para
uma ação transformadora. O compromisso é fazer com que a situação de injustiça
se converta numa sociedade de irmãos. Jesus sempre chamou à conversão que
implica na modificação integral de nossa maneira de viver e agir.
4. Ligando a Palavra e
a Eucaristia
A mesa da Palavra conduz a assembléia à mesa
eucarística, local da partilha do pão e da missão; introduz-nos mais na
intimidade com o nosso Deus. Jesus, com clareza, recomenda o afastamento dos
“espíritos imundos”, a fim de atendermos à vocação à santidade e à sintonia com
o Reino de Deus.
E, por isso, na oração sobre as oferendas, suplicamos ao
Pai que as acolha e que faça “crescer em santidade os fiéis que participam” do
sacrifício celebrado. Essa oração completa o pedido inicial, contido na oração
do dia: “Pai, dai a todos os que professam a fé, rejeitar o que não convém ao
cristão e abraçar tudo o que é digno deste nome”.
Alimentados pela Palavra e pelo Corpo e Sangue do
Senhor, somos convidados à mesa da caridade, ao encontro com nossos irmãos e
irmãs, e a sermos, junto a eles, testemunhas de tudo que celebramos. Para isso,
recebemos a bênção e somos enviados: ”Ide profetizar”.
A assembleia eucarística é lugar privilegiado da
salvação, cuja, força vem da Palavra acolhida em nosso coração e do Espírito
que nos faz, com Cristo, uma oferenda agradável a Deus. E o profetismo também
se manifesta na perseverança e na radicalidade com que vivemos o nosso
testemunho cotidiano.
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