Meditação para Dezembro
No final das suas viagens missionárias, São Paulo deseja encontrar-se uma última vez com os líderes da Igreja de Éfeso, local onde passou vários anos e que se tornara uma espécie de base de operações, a partir da qual procurava proclamar a Palavra de Deus a toda a provincial da Ásia (ver Atos 19,10).De Mileto, Paulo mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso. Quando chegaram junto dele, disse-lhes: «Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio das provações, que as ciladas dos judeus me acarretaram. Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas, afirmando a judeus e gregos a necessidade de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus. E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. Mas, a meus olhos, a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus. Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei, proclamando o Reino. Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus. Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue. Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si. Estai, pois, vigilantes e recordai-vos de que, durante três anos, de noite e de dia, não cessei de exortar, com lágrimas, cada um de vós. E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados. Jamais cobicei prata, nem ouro, nem o vestuário de alguém. E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: ’A felicidade está mais em dar do que em receber.’»Depois destas palavras, ajoelhou-se com todos eles e orou. Todos romperam em pranto e, lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo, consternados, sobretudo, com as palavras que lhes dissera: que não veriam mais o seu rosto. Em seguida, acompanharam-no ao barco. (Atos 20,17-38)
Agora, o apóstolo pretende deixar a região para partir a Roma e a outros locais que ainda não tinha conseguido visitar. Mas, primeiro, deseja ir a Jerusalém para a festa do Pentecostes.
É por essa razão por que, em detrimento de parar em Éfeso, onde conhece demasiadas pessoas, permanece em Mileto e chama os responsáveis da Igreja de Éfeso. À sua chegada, dirige-lhes um discurso muito pessoal, ao qual a audiência reage com grande emoção.
Paulo recorda aos Efésios o tempo que passou na sua companhia e de tudo o que ultrapassou para os chamar a «converter-se a Deus» e a «acreditar em Jesus».
Nesse momento, sente-se impelido pelo Espírito Santo para «testemunhar a Boa Nova», apesar da oposição e sofrimento que o aguardam. Está convencido de que não irá rever as Igrejas que fundou na Ásia. Todavia, o que lhe importa é ter feito tudo o que era possível para implantar a Palavra de Deus.
Exorta os responsáveis da Igreja a manterem presente o seu exemplo e confia-os e às suas igrejas «a Deus e à palavra da sua graça» (v.32). De seguida, ora na sua companhia e despede-se.
No momento da despedida do seu fundador, a Igreja de Éfeso é confiada a uma Palava que deixa para trás como um legado. Esta Palavra, mais do que um tesouro a manter, é uma força dinâmica e ativa.
Este texto, preenchido com várias alusões ao futuro de Paulo, é já indicio do seu martírio, não obstante o fato deste não ter referência no livro dos Atos, de forma a focar-se na chegada da Palavra «aos confins da Terra». No momento em que o fundador desaparece, é a Palavra de Deus que, apesar de oposições e obstáculos, realiza o seu percurso pela terra habitada e permanece como fundação da Igreja.
Na hora da partida de Paulo, os responsáveis da comunidade dos cristãos de Éfeso podem encontrar nos meandros da tristeza uma alegria na descoberta sempre nova desta Palavra que não cessará de construir a comunhão.
Que palavra(s) escutei são relevantes para a minha vida?
Que lugar tem a Palavra de Deus na minha vida quotidiana?
O que suporta a vida da minha comunidade local (paróquia, grupo de jovens…)? Que aspectos deste discurso de São Paulo se lhe aplicam particularmente?
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