O apego aos bens
escraviza, torna a vida um inferno, uma separação total das pessoas e de Deus.
As
leituras deste domingo continua nos falando sobre o uso dos bens.
Temas como a avareza,
a cobiça e o apego aos bens são muito próprios no Evangelho de Lucas. O profeta
Amós, profeta da justiça social, alerta que, na sociedade, há um grupo que
esbanja e, certamente, outro que passa necessidades.
A
parábola contata por Jesus relata a inversão dos valores na eternidade: os
ricos nada terão e o Reino será dos pobres. Há um grande abismo entre o egoísta
e o pobre: ninguém pode se aproximar de quem só pensa em si mesmo, por isso,
ele se isola, fica solitário no mundo escolhido por ele mesmo. O inferno é um
mundo de isolamento: há um abismo, diz-nos Jesus.
O
evangelho deste domingo não deve ser uma condenação dos ricos e nem a salvação
incondicional do pobre. O que salvou Lázaro não foi somente a falta de bens,
mas a sua humildade. Também o que condenou o rico não foi a posse dos os seus
bens em si mesmos, mas o mau uso deles: o esbanjamento, o acúmulo e o egoísmo.
A
pobreza é um valor evangélico. A conversão é um processo de empobrecimento. É
interessante observar que o Evangelho faz uma relação entre pobreza e escatologia
(=estudo das realidades últimas). Há teólogos que definem o purgatório como um
processo de última conversão que coincide com o último empobrecimento. Quando
deixamos de confiar em nós mesmos, quando deixarmos todos os nossos apegos
(materiais e afetivos), quando nossa vida estiver totalmente livre nas mãos de
Deus, então estaremos totalmente empobrecidos para entrar no Céu. A Vida
Eterna, portanto, será um estado de vida de total entrega a Deus, uma total
confiança que será abraçada com o total despojamento. A vida é uma oportunidade
para o despojamento gradativo de nós mesmos. Por outro lado, o apego aos bens
escraviza, torna a vida um inferno, uma separação total das pessoas e de Deus.
Para
quem se satisfaz com relatos sobre os sinais do além e o diálogo com os mortos, o Evangelho deixa claro que não
é possível que isso aconteça. O rico quer que o milagre converta seus
familiares. Abraão (como um interlocutor de Deus) nos esclarece que se os ricos
não vêem o milagre da vida a cada dia, se não são tocados pela Palavra de Deus
(Moisés e os profetas), já estão condenados. Há sempre o risco da necessidade
de coisas extraordinárias para que aconteça a conversão. Não são os prodígios e
nem as visões, mas sim o milagre de cada dia que nos conduz a uma abertura para
a vida, para o amor.
Como
estamos gastando a vida? Onde está a nossa riqueza e o que significa para nós a
pobreza? Do bem viver, do se preocupar com o que vale a pena é que depende a nossa
realização e a vida eterna. Cada minuto de nossa vida deve ser bem gasto, deve
ser bem aproveitado. A cada instante podemos viver os verdadeiros valores ou
deixar os dias passarem sem que a vida tenha seu êxito.
No mundo tão materialista e egoísta, o valor da
generosidade perde espaço. O Evangelho nos convida a termos atitude generosa
com a vida, com os bens; ensina-nos a partilhar. Santo Ambrósio nos alerta: “Dar
aos pobres devolver o que não nos pertence”. Uma parábola do Taoismo nos diz
que quando a pessoa vai para o inferno, descobre que lá existe um grande
banquete, nada de fogo e enxofre de que falam algumas tradições. As pessoas
estão sentadas ao redor de grandes mesas redondas, com pilhas e pilhas de todos
os tipos possíveis e imagináveis de pratos deliciosos. Só há um problema: os
garfos, colheres e facas são do mesmo tamanho que as mesas, e as pessoas estão
se esforçando em vão para comer com esses talheres imensos. Quando alguém chega
ao Céu, encontra o mesmo banquete, mas com uma diferença: as pessoas sentadas
de lados opostos da mesa dão comida umas para as outras. O Céu depende de nossa
atitude generosa.
Pe. Roberto Nentwig
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