24º
Domingo do Tempo Comum
15
de setembro de 2013
“Miserando atque elegendo”
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“Este
homem acolhe os pecadores e come com eles”
(Lc
15,2)
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Leituras:
Êxodo 32, 7-11.13-14;
Salmo 50;
Primeira
Carta a Timóteo 1, 12-17;
Lucas 15, 1-32.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia,
veremos que o ato de perdoar deve sempre acompanhar a vida do ser humano. Em
nossas vidas, nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos que fossem, por
isso, precisamos vivenciar o perdão, que nos oferece a graça da condição de uma
vida nova em Cristo. No
momento em que perdoamos, e somos perdoados, damos condições a uma vida nova,
tanto em relação ao próximo quanto a nós mesmos. Esse gesto é o mínimo que Deus
espera de nós.
1. Situando-nos brevemente
Hoje chegamos ao 24º domingo do Tempo Comum. A carta apostólica
“Dies domini” diz que “nós celebramos o domingo, devido à venerável
ressurreição de nosso senhor Jesus Cristo, não só na Páscoa, mas inclusive em
cada ciclo semanal”, como escreveu o Papa Inocêncio I, no começo do século V.
São Basílio fala do “santo domingo, honrado pela ressurreição do Senhor”.
Por isso, João Paulo II, no mesmo documento, explica que, para
alcançar o pleno sentido do domingo, “é preciso fazer referência
especificamente à ressurreição de Cristo”. “É o que faz o domingo cristão, ao
repropor cada semana à consideração e à vida dos crentes o evento pascal, donde
emana a salvação do mundo”.
No próximo sábado, celebramos a festa do apóstolo e evangelista
Mateus. Que o exemplo de sua conversão e o evangelho por ele escrito nos ajudem
a melhor compreendermos a Palavra e com mais intensidade participarmos desta
celebração, nossa páscoa semanal.
2. Recordando a Palavra
O evangelho de hoje, pela narrativa de três parábolas, nos leva
a refletir sobre a pessoa que se afasta de Deus. É fácil pensar que tais
ensinamentos não dizem respeito diretamente a nós, que aqui estamos reunidos
para, em comunidade, elevar nossa ação de graças ao Pai. Afinal, se com este
objetivo nos encontramos, formamos assembleia, não estamos afastados de Deus.
Portanto, as três parábolas se referem a outras pessoas, talvez
mais pecadoras do que nós. Contudo, se afastarmos esta idéia e voltarmos o
pensamento para dentro de nós mesmos e fizermos uma breve retrospectiva de
nossa vida de fé, o que descobrimos? Isso mesmo! Lá bem no fundo, nos
vislumbramos como a moeda perdida, a ovelha desgarrada, o filho que sai da casa
do pai.
Cada um de nós, com certeza, em algum momento de sua vida já
experimentou, tristemente, o afastamento de Deus. Ele pode ter sido brevemente,
somente em rápidos momentos, nos quais não correspondemos adequadamente aos
preceitos evangélicos. Nesta situação, fomos a moeda perdida, encontrada, após
uma rápida limpeza da casa. “Limpar a casa” para nós representa, especialmente,
participar do sacramento da Reconciliação.
O afastamento de Deus pode ter sido mais longo, como na situação
em que a ovelha se desgarra do rebanho e o pastor precisa buscá-la em local
distante. Assim, o Pai também nos busca e nos coloca nos ombros para
procedermos ao retorno. O afastamento de Deus pode ter sido mais longo, como na
situação em que a ovelha se desgarra do rebanho e o pastor precisa buscá-la em
local distante.
Assim, o Pai também nos busca e nos coloca nos ombros para
procedermos ao retorno. O afastamento pode ter sido por muito tempo, qual o
filho pródigo. No entanto, mesmo decorridos meses ou anos, Deus, em sua
infinita misericórdia, nos aguarda de braços abertos.
Retomando mais particularmente cada uma das parábolas contadas
por Jesus àqueles que o criticavam por acolher os pecadores, delas ressaltam
alguns pontos específicos.
Na parábola da ovelha, ao encontrá-la, o pastor “alegre a põe
nos ombros” (Lc 15,5). Fica aqui bem especificada a liberdade do retorno. A
ovelha não é agarrada à força, não está se debatendo. É apanhada com carinho e
mansamente se deixa conduzir.
A pequena história seguinte traz duas ações marcantes da mulher,
ao iniciar a busca pela moeda: acender a luz e procurar cuidadosamente. Se
estamos perdidos, afastados do Pai, somos buscados com cuidado, não de modo
brusco ou violento. Seremos reencontrados em Deus com a ajuda da luz que é sua
própria Palavra.
Da conhecida parábola do filho pródigo emergem inúmeros
simbolismos. Ficamos hoje apenas com uma das atitudes do pai ao ver o filho que
retornava: “seu pai o avistou e foi tomado de compaixão” (Lc 15, 20).
A leitura o Livro do Êxodo é um trecho retirado de um contexto
mais amplo. O desenvolvimento do capítulo 32 deste livro, sob a ótica dos
escritos do Antigo Testamento, mostra-nos a ruptura que o povo faz.
Embora, conforme a linguagem bíblica do Antigo Testamento, Deus
estivesse encolerizado, a pedido de Moisés, o justo, desiste do “mal com que
havia ameaçado o seu povo”. Prefigura, pois, a face do Deus misericordioso,
desvelada por Jesus no Novo Testamento e tão belamente simbolizada nas
parábolas da ovelha perdida e do filho pródigo. O amor misericórdia se sobrepõe
e prevalece acima de todos os demais sentimentos.
São Paulo começa a carta a Timóteo com um agradecimento “àquele
que me deu forças, Cristo Jesus”. A seguir, ele afirma ter encontrado o coração
misericordioso de Deus. Através da “misericórdia”, ele foi tornado exemplo para
que todos nós, que aderimos ao projeto de salvação de Jesus, ao segui-lo,
possamos entrar na vida eterna.
Envolvidos pelo sentido das três leituras que nos inserem na
misericórdia do Pai, a ele clamamos com o Salmo 51 (50), 3.4: “Ó Deus, tem
piedade de mim, conforme a tua grande misericórdia; no teu grande amor cancela
o meu pecado. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me de meu pecado”.
3. Atualizando a Palavra
O Papa Francisco tem mostrado predileção por dois aspectos
essenciais na vivência cristã: a humildade dos homens e a misericórdia de Deus.
Sobre seu brasão papal, símbolo da função que ora exerce, está a mensagem: “Miserando atque elegendo” (com
misericórdia o chamou).
Na primeira oração do “Angelus”, por ele presidida na Praça de
São Pedro, assim se expressou: O rosto de
Deus é o de um pai misericordioso, que sempre tem paciência. Já pensaste na
paciência de Deus, na paciência que ele tem com cada um de nós? É a sua
misericórdia. Sempre tem paciência, tanta paciência conosco: nos compreende,
está à nossa espera; não se cansa de nos perdoar, se soubermos voltar para Ele
com o coração contrito. “Grande é a
misericórdia do Senhor”, diz o Salmo.
O Papa continuou: “Deus
nunca se cansa de nos perdoar. O problema é que nos cansamos de pedir perdão”.
Ao final de sua mensagem repercutiu, no coração de todos os cristãos, a
exclamação papal: “Como é bela a misericórdia!”.
Na mensagem pascal Urbi et Orbi, no Domingo da Ressurreição, o
Papa Francisco retornou ao tema da misericórdia. Inicialmente, proclamou a
Páscoa do Senhor: “Que grande alegria é para mim poder dar-vos este anúncio:
Cristo ressuscitou!”. Então desejou: Sobretudo
queria que [esta alegria] chegasse a todos os corações, porque é lá que Deus
quer semear esta Boa-Nova: Jesus ressuscitou, há uma esperança que despertou
para ti, já não estás sob o domínio do pecado, do mal! Venceu o amor, venceu a
misericórdia! A misericórdia sempre vence!
Na sequência de seu pronunciamento, explicou: Amados irmãos e irmãs, Cristo morreu e
ressuscitou de uma vez para sempre e para todos, mas a força da Ressurreição,
esta passagem da escravidão do mal à liberdade do bem, deve realizar-se em
todos os tempos, nos espaços concretos da nossa existência, na nossa vida de
cada dia. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Sobretudo
o deserto que existe dentro dele, quando falta o amor de Deus e ao próximo,
quando falta a consciência de ser guardião de tudo o que o Criador nos deu e
continua a dar. Porém a misericórdia de Deus pode fazer florir mesmo a terra
mais árida, pode devolver a vida aos ossos ressequidos (cf. Ez 37, 1-14).
O Papa Francisco concluiu esta mensagem com um convite a todos
nós: Eis, portanto, o convite que dirijo
a todos: acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar pela
misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que a força do seu
amor transforme também a nossa vida, tornando- nos instrumentos desta
misericórdia, canais através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a
criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.
A tão sábias e inspiradas palavras, respondemos em coro: “que
assim seja!”
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Com o Papa Francisco, podemos exclamar: “Como é bela a misericórdia!”.
Ela perpassa toda a celebração eucarística. Mais forte sentimos isso quando a
liturgia da Palavra põe em relevo este atributo divino.
Logo no início da missa, revelamos nossa fé na misericórdia do
Pai, ao pedirmos à Virgem Maria, aos anjos e santos e aos irmãos: “rogueis por
mim a Deus nosso Senhor”. Na liturgia deste domingo, tal pedido se completa na
oração do dia, quando o presidente da celebração, falando pela comunidade,
pede: “ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e,
para sentirmos em nós a ação de vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo
coração.” Fundamental esta frase: “volvei para nós o vosso olhar”, pois
queremos ter nosso olhar no olhar de Deus, para que sua misericórdia penetre
até o mais profundo de nosso ser.
Na oração sobre os dons que vão se tornar Corpo e Sangue de
Cristo, lembramos a dimensão comunitária de nossa fé. Cada um coloque sobre o
altar a oferenda de sua própria vida, no entanto, não em favor de si mesmo, mas
“para que aproveite à salvação de todos”.
A misericórdia de Deus, que coloca nos ombros a ovelha perdida,
que acolhe o filho pródigo, que abraça a cada um de nós, é derramado pelo bem
de toda a Igreja, da humanidade inteira. Por isso inicialmente a prece
eucarística afirmando: “na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e
salvação, dar-vos graças, sempre e em todo lugar, Senhor, Pai santo”.
Para, com nossa liberdade, estarmos abertos à misericórdia que
Deus não cansa de nos oferecer, fazemos a ele ainda um pedido, na oração após a
comunhão: “Ó Deus, que a ação da vossa Eucaristia penetre todo o nosso ser para
que sejamos movidos não por nossos impulsos, mas pela graça de vosso
sacramento”.
Com tal súplica, fazemos eco ao salmista que roga ao Pai: “criai
em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor,
não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito”.
Hoje podemos concluir nossa ação de graças – Eucaristia –
retomando as palavras do Papa Francisco: “Como é bela a misericórdia!”.
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