«Jovem, Eu te ordeno:
Levanta-te!»
No Evangelho encontramos três
mortos ressuscitados pelo Senhor de forma visível, e milhares de forma
invisível. […] A filha do chefe da sinagoga (Mc 5,22ss), o filho da viúva de
Naim e Lázaro (Jo 11) […] são símbolo dos três tipos de pecadores ainda hoje
ressuscitados pelo Senhor. A menina ainda se encontrava em casa de seu pai […],
o filho da viúva já não estava em casa de sua mãe, mas também ainda não estava
no túmulo, […] e Lázaro já estava sepultado. […]
Assim, há pessoas com o pecado
dentro do coração mas que ainda não o cometeram. […] Tendo consentido no
pecado, ele habita-lhes a alma como morto, mas não saiu ainda para fora. Ora,
acontece amiúde […] aos homens esta experiência interior: depois de terem
escutado a palavra de Deus, parece-lhes que o Senhor lhes diz: «Levanta-te!» E,
condenando o consentimento que dantes haviam dado ao mal, retomam fôlego para
viver na salvação e na justiça. […] Outros, após aquele consentimento, partem
para os atos, transportando assim o morto que traziam escondido no fundo do
coração para o expor diante de todos. Deveremos desesperar deles? Não disse o
Salvador ao jovem de Naim: «Eu te ordeno: Levanta-te!»? Não o devolveu a sua
mãe? O mesmo acontece a quem atuou desse modo: tocado e comovido pela Palavra
da Verdade, ressuscita à voz de Cristo e volta à vida. É certo que deu mais um
passo na via do pecado, mas não pereceu para sempre.
Já aqueles que se embrenham nos
maus hábitos, ao ponto de perderem a noção do próprio mal que cometem, procuram
defender os seus maus atos e encolerizam-se quando alguém lhos censura. […] A
esses, esmagados pelo peso do hábito de pecar, albergam as mortalhas e os
túmulos […] e cada pedra colocada sobre o seu sepulcro mais não é do que a
força tirânica desse mau uso que lhes oprime a alma e não lhes permite, nem
levantar-se, nem respirar. […]
Por isso, irmãos caríssimos,
façamos de tal modo que quem vive viva, e quem está morto volte à vida […] e
faça penitência. […] Os que vivem conservem a vida, e os que estão mortos
apressem-se a ressuscitar.
Santo Agostinho (354-430), bispo
de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Sermão 98
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