Os Pobres serão nossos advogados no dia do Juízo?
Que
poderemos alegar ante nosso Deus no dia em que nos receba na morada
eterna? Quem nos defenderá ante seu justo julgamento, quem advogará por
nós?
A valente denúncia de Amós
É
uma constante na história da humanidade. Há gente que engana aos demais
em proveito próprio. Cobram além da conta. Não conhecem nem de longe a
gratuidade: tudo é objeto de venda. Põem preços abusivos. Utilizam
balanças com armadilhas. Pisoteiam os pobres. Há gente sem escrúpulos
que com obsessão de acumular dinheiro para satisfazer sua avareza ou
seus caprichos, assaltam a quem encontram, ainda que seja de uma forma
limpa. Que razão tinha e segue tendo o profeta Amós! Aquele profeta que
se atreveu a denunciar fatos semelhantes na sociedade israelita do
século VIII. A razão de tudo isso é o seguinte: que há um deus sem nome
que atrai muito, muito: é o deus dinheiro! Jesus chamou-o "Mamón".
A corrupção econômica
Quem
adora ao deus Mamón só pensa em saciar sua cobiça: nesta sociedade em
que estamos tudo tem que ser pago! Cobram até o ar que respiramos! Aí
está o taxista que pede uma quantidade exorbitante por um serviço a um
estrangeiro, o restaurante que engana a seus ocasionais clientes com
alimentos de baixa qualidade, a instituição pública que gasta mal o
dinheiro obtido com os impostos dos cidadãos, os turvos negócios
imobiliários, a utilização de informação privilegiada para privar outros
de igualdade de oportunidades... sempre levando em conta unicamente o
interesse próprio. Enquanto pagam-se quantidades gigantescas pelos
serviços de um futebolista, no entanto, o serviço intelectual ou
espiritual à sociedade fica comparativamente muito desvalorizado. Às
vezes não há escrúpulos em realizar gastos milionários para o marketing,
a vaidade e ostentação e o dinheiro dado aos pobres se controla até nos
centavos.
Em
que país não há queixas de corrupção, de malversação de fundos, de
roubos e enganos? Em que país se está satisfeito com a administração?
Administração injusta globalizada
Jesus,
em sua parábola apresenta-nos a figura de um administrador injusto. A
sombra desse homem é muito influente. A administração injusta está
globalizada na macro-escala e na micro-escala. Tentamos lutar contra a
corrupção, mas a corrupção esta aí, oculta ou com a cara descoberta,
sempre que o deus Mamón encontre aqui na terra adoradores.
As
palavras de Jesus não põem em guarda sobre como é difícil é viver como
filhos da luz numa situação global de má administração. Nossa missão não
é fácil porque "os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da
luz". Quem se alimenta de enganos e fraudes, quem vive na desonestidade
permanente, sabe encontrar saídas astutas para qualquer situação
complicada; saberá a quem recorrer e corromperá a quem seja necessário,
para não ser condenado e fará que se condenem inocentes sem o menor
escrúpulo. Estas pessoas corruptas sabem também como se aproveitar da
boa disposição de quem atua, animado pela bondade e retidão de sua boa
consciência.
Essa
é a linguagem da parábola que descreve uma situação concreta de
desonestidade por parte de um administrador de quem se condena a atuação
e se exalta a sagacidade na hora de evitar problemas, ganhando assim a
estima de seus clientes, ainda que às custas de seu amo. Os "astutos"
sabem sempre como se arranjar para sair de qualquer problema, porque
sabem captar rapidamente a simpatia de outros para conseguir vantagens,
enquanto os honestos e os pacíficos atuam com uma singeleza e
desenvoltura que se confunde com a ingenuidade. E em certos momentos,
assim é. Jesus nos quer "singelos como pombas, mas astutos como
serpentes"; Jesus nos quer bons, mas não estúpidos ante as injustiças.
Saibamos quais são nossos direitos, reivindicados também pela moral.
Qual religião? Deus ou o Dinheiro?
Adorar
ao deus dinheiro é a idolatria de nosso tempo. Esta religião tem sua
moral perversa, sua liturgia da exibição e do glamour, sua propaganda.
Esta religião encontra às vezes cúmplices na religião do Deus
verdadeiro. Também a figura de Judas é influente. Para isso se faz
necessária uma teologia que o justifique, uma aparência que o solape.
O
dinheiro não é idolatrado quando se acolhe como um instrumento que tem
por finalidade o bem do próximo e a atenção aos mais pobres e
indigentes, que serão sempre nossos amigos, agora e na vida eterna. O
Juiz nos dirá naquele dia: "Tive fome e deste-me de comer".
Se aqui atendemos aos mais pobres e lutamos por seus direitos e
denunciamos toda injustiça e roubo, em seu favor, os teremos como
advogados no dia do Julgamento.
Faz
alguns anos trocamos de moeda: da peseta para o euro. Agora encontramos
pesetas e nem lhes fazemos caso. Não nos servem! Este exemplo basta-nos
para sublinhar que na realidade o único valor do dinheiro consiste em
sua utilidade; e que este pode ser racionalmente orientado para o bem do
próximo e não somente para nosso bem-estar.
Quem
adora a Mamón se verá um dia com as mãos vazias e terá de confrontar-se
com a acusação de milhares e milhões de seres humanos pobres que
denunciarão sua conduta. Quem adora ao Deus-Amor fará de seus bens e
seus dinheiros, instrumentos de amor, de solidariedade. Não enganará
ninguém. No dia do Julgamento verá como uma multidão imensa advogara por
ele ou ela.
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