3ª Semana da Quaresma
Quaresma é tempo de Humildade e Confiança na penitência e conversão.
Estamos na 3ª Semana do Tempo da Quaresma.
Poderemos pensar que é apenas mais uma Quaresma; que nada traz de novidade ou, pior ainda, nada acontecerá de diferente!
Quaresma é sinônimo de vida, de encontro, de intimidade, de relação, de verdade, de "morte" que gera eternidade no já e no agora do nosso caminhar.
Assim, esta Quaresma pode ser - tem de ser - necessariamente, algo de único e de derradeiro, algo de essencial e insubstituível. Esta Quaresma é uma oportunidade para que cada um de nós reaprenda a grandeza do coração que comporta em si mesmo, na medida em que este é desafiado a uma abertura, ao escancarar deste "santuário" que nos habita e que, demasiadas vezes, ignoramos e menosprezamos!
A Quaresma de 2012 é este "tempo favorável" para acreditarmos que podemos ser morada e templo do próprio Deus; é esta possibilidade de reiniciarmos um caminho, do qual nos desviamos com facilidade, onde nos encontramos e deixamos encontrar por Deus na vida daqueles de quem nos fazemos próximos.
Palavras como "conversão", "penitência", "jejum", "abstinência", etc., e que habitualmente associamos ao Tempo da Quaresma, fazem sentido e tornam-se importante apenas na medida em que ousarmos a aventura do coração, ou seja, na medida em que nos decidirmos à "lógica" do amor.
Amor sincero, amor autêntico, amor serviço, amor abraço, amor misericórdia, amor compaixão, amor generosidade, amor partilha, amor ao jeito de Cruz.
A Quaresma verdadeira e com sabor a Evangelho não será nunca um colecionar atos piedosos, místicos, ritualistas, para "aplacar" a dor de Jesus Cristo; ao contrário, é vida de fé e de cotidiano transformada em amor e doação ao "estilo" d'Aquele que Se oferece, por amor, no cimo duma Cruz e ressuscita para nos mostrar que só esse é o caminho da vida em abundância.
Haveremos de jejuar e de fazer abstinência, sim, de tudo quanto magoa o nosso próximo. Abster-se de egoísmos e murmurações, de mentiras e egoísmos, de duplicidade de vida e de hipocrisias espiritualistas que nada contêm de cristão, de religioso, de evangélico.
Sim, podemos fazer "via-sacra" nas nossas igrejas desde que não desviemos o olhar das vias-sacras de tantos homens e mulheres que hoje choram e desesperam no "Getsemani" do nosso tempo e que os nossos comportamentos e as nossas vidas não sejam um "crucificar" o nosso irmão pela nossa indiferença, apatia ou comodismo!
Quaresma é, portanto, esse caminho de festa e de luz que havemos de abraçar porque nos decidimos à construção de um coração renovado e, por isso mesmo, de uma nova civilização e de uma renovada Igreja.
Quaresma é, então, esse período de graça onde podemos assemelhar-nos, mais e mais, ao Mandamento Novo, pois que assumimos como vocação própria de cada um o encarnar da figura do bom samaritano do nosso tempo, da nossa comunidade...
As cinzas que impusemos sobre as nossas cabeças representem e signifiquem esse desejo interior de aniquilar a "pedra" fria em que muitas vezes deixamos transformar o coração. E, corajosos e confiantes no poder de Deus, avancemos rumo à Páscoa de Jesus, sempre uma ressurreição das "mortes" que afligem o homem nosso irmão.
Sem pieguismos sentimentalistas, façamos desta Quaresma um tempo de coração, um tempo de amor, um tempo de vida verdadeira.
Tomá-lo a sério é querer celebrar a Páscoa, com toda a densidade da nossa relação com Cristo morto e ressuscitado. É um tempo que nos convida a viver na humildade e na confiança.
A humildade é a aceitação da verdade, não apenas teoricamente afirmada, mas a verdade da nossa vida, no seu presente e na sua esperança de futuro. E consideremo-nos bem-aventurados se, ao enfrentarmos a verdade da nossa vida, sentirmos, não apenas temor, mas confiança. O temor seria justificado pelos nossos pecados; a confiança brota da certeza de sermos salvos por Jesus Cristo, Ele “que não conhecera o pecado, identificou-O Deus com o pecado por amor de nós, para que, em Cristo, nos tornássemos justiça de Deus” (2 Cor. 5,21).
2. A primeira manifestação da humildade é reconhecermos a verdade dos nossos pecados. O Santo Padre, na sua Mensagem para a Quaresma, refere um traço da mentalidade contemporânea, a que os cristãos não são alheios: a perda do sentido do pecado e a diluição das fronteiras entre o que é bem e o que é mal. A primeira manifestação da humildade na verdade, é reconhecermos que somos pecadores, a realidade e o realismo do pecado na nossa vida.
Na construção desta atitude de verdade, devemos humildemente reconhecer o que é o pecado. A Palavra de Deus e a sabedoria da Igreja apontam-nos dois caminhos para olharmos, com coragem e humildade, a realidade do pecado em nós: violar os mandamentos de Deus, que exprimem, em termos de Aliança, preceitos fundamentais da lei natural: adorarás o Senhor Teu Deus; amarás o teu próximo; honrarás os teus pais; não matarás; não serás vítima da ganância e do amor desenfreado pelo dinheiro; viverás a tua sexualidade com generosidade sem renunciar à pureza do coração. A lei natural foi assumida pelos mandamentos da Aliança. Estes não são artigos de um código jurídico, mas exprimem a vontade amorosa de Deus. Eles são uma expressão, compreensível por nós, do amor que Deus nos tem e nos ensina o caminho da vida. Só é verdade que amamos a Deus quando cumprimos os seus mandamentos. Que neste primeiro dia da Quaresma ecoe no nosso coração o apelo do Apóstolo Paulo aos Coríntios: “Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor. 5,20). Que lugar damos a Deus na nossa vida? Vivemos como Ele quer? Só assim lhe daremos glória.
3. Um outro caminho para enfrentarmos a verdade do pecado na nossa vida, é a importância que damos àquilo que Deus pede a cada um de nós. A vida da fé é uma aliança de amor e, por isso, pode ser vivida na confiança. E nessa aliança de amor pessoal, entre cada um de nós e Deus, através do Seu Filho Jesus Cristo, Deus vai indicando a cada um o seu desejo de vida: uma radicalidade de amor adorante, uma missão para continuar a obra de Jesus Cristo para edificar o Reino de Deus, concretizações que se enquadram num itinerário de vida pessoal e nos põem em comunhão com o projeto amoroso de Deus. Ao jovem rico, depois de este ter declarado que desde pequeno cumpria os mandamentos, o Senhor lança-lhe um desafio novo: se queres ser perfeito, segue-Me (cf. Mt. 19,21).
O pecado, nestas circunstâncias, toca na sua essência que é o ser uma infidelidade ao amor. Não fazer tudo para discernir e perceber a vontade de Deus a nosso respeito ou não querer segui-lo, na obediência da fé, é uma infidelidade de amor, o quebrar da Aliança que, em Jesus Cristo, Ele selou conosco de forma definitiva.
4. Na humildade e na confiança, a Quaresma é tempo de penitência e de conversão. Esta é sempre um ato de humildade e de confiança. Exige que ponhamos o coração onde Deus tem o Seu a nosso respeito e que não nos percamos na materialidade das coisas do mundo. A mensagem do Profeta Joel ganha sentido e atualidade com a força redentora da Páscoa de Jesus: “Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração e não os vossos vestidos. Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso” (Jl 2,12-13).
A nossa humildade na confiança exprime-se também em praticarmos o bem só para Deus ver e não para os homens nos louvarem. Esse louvor humano seria a nossa triste recompensa. A esmola, o jejum, a oração, devem passar-se entre nós e Deus. Ele que vê o que mais ninguém vê, dar-nos-á a recompensa (cf. Mt. 6, 1-6.16-18).
5. Mas a fonte da nossa confiança, que se exprime na esperança, está na fecundidade da Páscoa de Jesus, da Sua morte por nós e da Sua ressurreição para nós. Se caminharmos com fé e humildade, podemos confiar que o Senhor nos salva e nos conduzirá à plenitude da vida. Que as palavras do Apóstolo Paulo sejam a luz que nos guia nesta caminhada até à Páscoa: “Nós vos exortamos a que não recebais em vão a sua graça, porque Ele diz: no tempo favorável, Eu te ouvi, no dia da salvação, vim em teu auxílio. Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação” (2 Cor. 6,1-2).
Para rezar:
- Que lugar damos a Deus na nossa vida? Vivemos como Ele quer?
- Na vida quotidiana, o que me ajuda a fazer uma opção pela humildade e pela confiança?
- De que forma esta opção altera o modo como vejo e vivo a minha vida e os acontecimentos para ser mais testemunha de Cristo?
- Então, como é que Jesus restaura a esperança dos seus discípulos para a conquista de vida nova?
- Costumo dizer «Chega!»? Que limites é que imponho à minha prontidão em lançar-me em Confiança? Por quê?
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