Vem para fora!
Gostaria que para iniciarmos esta quinta meditação pudéssemos tomar o texto : João 11,1-44, leia-o pausadamente sem pressa.
Agora vamos entrar no texto e rezá-lo.
Mal cheiro... decomposição... morto há quatro dias... Esta era a situação desoladora de Lázaro. Havia muita gente tentando consolar suas irmãs Marta e Maria. Mas, na verdade, todos estavam inconsolados, pois Lázaro era muito querido e falecera ainda novo. Tudo era silêncio e tristeza.
De repente chega um grande grupo na casa e começa um alvoroço. Marta sai correndo para ver o que estava acontecendo. Do lado de fora da casa pára e vê uma multidão se aproximando. Começa a reconhecer os discípulos de Jesus, amigos e simpatizantes do mestre e, finalmente, Ele se destaca no meio deles.
Ao reconhecê-lo, Marta corre ao seu encontro e, deixando extravasar o pranto e a dor, desabafa: “Se estivesses aqui meu irmão não teria morrido”. Responde Jesus: “Teu irmão há de ressuscitar”. Ela, recordando-se de um dos principais ensinamentos dele, diz: “Eu sei que ele há de ressuscitar no último dia”. E Jesus, certamente segurando o rosto de Marta e olhando-a nos olhos com ternura e firmeza, afirma: “Eu sou a ressurreição e a vida; aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá... crês nisto?”
Marta, não compreendendo o alcance das palavras de Jesus, responde: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem a este mundo”. E vai avisar a Maria que Jesus chegou. Esta, ao saber que Jesus chegara, corre ao seu encontro e lança-se aos seus pés chorando. Também ela desabafa: “Se estivesses aqui meu irmão não teria morrido”. A comoção é tamanha, que Jesus também chora. E pede que o levem ao túmulo.
Chegando lá, ordena: “Tirem a pedra”. Ora, para a sociedade, o que Jesus acaba de ordenar é um grande absurdo. Para eles, quem ao menos passasse perto de um túmulo era considerado impuro. Quanto mais quem o “violasse”, tirando-lhe a pedra. Marta diz: “Senhor, já cheira mal, pois está aí há quatro dias!” Mas Ele responde: “Marta, eu não te falei que, se creres, verás a glória de Deus?”
Tiraram, pois, a pedra. Jesus agradeceu ao Pai e, com um forte grito, ordenou: “Lázaro, vem para fora”. Silêncio total! O que terá passado pelo coração de cada um ali presente nesse momento? Quem terá conseguido piscar os olhos nessa hora? A expectativa do que aconteceria prendia a respiração de todos. E, de repente, “saiu o que estivera morto”. Lázaro ressuscitou, e muitos creram em Jesus.
A morte espiritual
Reler esse texto, ou melhor, reviver a cena da ressurreição de Lázaro, é sempre maravilhoso! Este, certamente, foi o milagre mais espantoso que Jesus realizou em sua vida pública; foi seu último milagre antes de ir a Jerusalém, para a última páscoa e morrer crucificado.
Quem diria... um cadáver, em decomposição há quatro dias, volta a viver! É realmente impressionante! Porém, ao reler e meditar, corremos o risco de parar no tempo, há dois mil anos, pensando que aquilo só aconteceu lá. Isso é um engano! Jesus está vivo e é o mesmo ontem, hoje e sempre. Ele pode, quando quiser, ressuscitar um morto, como de fato têm testemunhado alguns missionários contemporâneos nossos.
Mas convenhamos, esse é um milagre que Jesus fez e fará para que se manifeste a sua glória e para que creiam nele. Não veremos isto acontecendo a todo momento. Afinal, a morte é parte importante no ciclo natural de nossa vida.
Existe, porém, uma morte que não faz parte do “ciclo natural da vida”. Ela é como que um aborto em nossa existência e dela, mais do que nunca, Jesus quer nos libertar. Trata-se da morte espiritual.
Na verdade, ela é pior que a morte física, pois trava o nosso coração, tornando-o cego às realidades maravilhosas que Deus reservou para nós. Ela é tão sinistra que pode nos matar, mesmo antes da morte física. E isto, sim, devemos temer.
A nossa ressurreição
Mas o que fazer?! “Tirai a pedra”.
Diante da ressurreição de um morto, afastar uma pedra era coisa muito simples. Entretanto, Jesus não o fez; ao contrário, ordenou que os presentes o fizessem. E eles obedeceram. Correram o risco de tornarem-se impuros ao tocar num túmulo, mas obedeceram. Da mesma forma Jesus nos fala hoje: “Tire a pedra! Reconheça que existe morte dentro de você. Reconheça que você precisa da minha salvação”. Nossa sociedade também tem seus tabus quanto a isso. Entrar em si mesmo, reconhecer a morte, identificar e aceitar nossas máscaras e “cartas escondidas”, é coisa que não se faz. Mas é preciso correr o risco de tornarmo-nos “impuros” e mergulharmos dentro de nós mesmos.
Aí corremos outro perigo: o de querermos purificar a nós mesmos para que então o Senhor faça a sua obra. Situação semelhante seria se aqueles que tiraram a pedra do túmulo de Lázaro quisessem eles mesmos devolver-lhe a vida. Não. Isso é para Deus. Só Ele pode – e quer – fazê-lo. Nosso trabalho é de apenas reconhecer a morte em nós, o homem velho que sempre quer voltar, e de nos apresentarmos a Jesus tal qual nós estamos: cheirando mal, enrijecidos, machucados. O filho pródigo não se limpou antes de voltar para a casa do seu pai. Ele foi como estava: sujo, feio, cheirando mal. Mas o pai o recebeu com festa e o purificou.
Também nós, apresentemo-nos a Jesus como estamos agora. Não queiramos nos purificar para ir até Ele. É Ele quem purifica, é Ele quem dá a vida. E digamos: “Senhor, aqui estou eu. Tu me conheces e sabes de tudo: da morte que existe em mim, das máscaras que uso, das cartas escondidas em minha manga... E é assim que me apresento a ti. Ressuscita-me, Senhor. Devolve-me a vida. Dá-me a tua transparência. Cura-me de tantos traumas, decepções e sofrimentos que me fazem agir assim...”. E Jesus vai segurar nosso rosto com suas mãos, vai olhar nossos olhos com ternura e firmeza e vai dizer: “Não tiveste medo de descer até este túmulo. Pois eu te digo que, se creres, verás a glória de Deus. Eu sou a ressurreição e a vida. Estou em ti. Vieste ao fundo do túmulo e aí me encontraste vivo e ressuscitado por ti, para ti. Dá-me tua morte, recebe minha vida”.
Que nos restará responder senão: “Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vieste a este mundo por amor a mim, e creio que tu podes e queres ressuscitar-me. Que assim seja!”.
E o mundo será melhor, tendo mais pessoas “necessitadas” e transparentes.
Façamos sempre este exercício. Não deixemos que a morte se apodere de nós novamente. Vamos deixar que a cada dia o Senhor nos cure mais e mais, nos ressuscite continuamente a fim de que nossa vida testemunhe que Ele é a ressurreição e a vida.
A confissão pode-nos ser também uma fonte sempre renovadora da ressurreição do Senhor, pois, para confessarmo-nos, é preciso descer ao nosso “túmulo”, reconhecer a morte, a podridão que existe em nós e passarmos pela humilhação de contarmos a alguém (ao sacerdote, que representa Jesus). Contudo, ali também está a palavra de Jesus que diz: “Lázaro, vem para fora”, quando o padre diz: “Eu te absolvo de todos os teus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Portanto, não deixemos a ressurreição passar indiferente em nossa vida, como se fosse um acontecimento da vida de Jesus que não nos diz respeito. Apoderemo-nos dela pelo poder do Espírito Santo e deixemos que o Senhor nos revele suas riquezas que estão, desde toda a eternidade, reservadas para nós, para cada um de nós, pessoalmente. Pois a ressurreição que Deus faz em nossa vida, por meio e com Jesus Vivo e Ressuscitado, é uma ressurreição eterna, jamais terá fim!
Não percamos esta oportunidade, mas nos lancemos na luta da morte do pecado, e vivamos assim a ressurreição de Lázaro, a nossa ressurreição!
Um dos santos caminhos da Ressurreição é a Confissão e o perdão das faltas.
Temos escutado muito atentamente o que o Senhor nos diz: ««Mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as vossas faltas».
Estas palavras ressoam em toda parte do mundo, onde quer que vivamos. Porém, o que realmente constatamos em nosso dia a dia, em nossa vida cotidiana?
Há o divórcio, inimizades entre os irmãos do mesmo sangue, da mesma etnia, da mesma confissão de fé.
Eu pergunto: será que professamos realmente a mesma fé?
Que fé?
Fé em Deus?
Ou fé no diabo, que é o pai da mentira, do engano, do ódio que tudo destrói?
Como temos abraçado a falsidade, a mentira , o não ser verdadeiro em nossa vida e na vida da Comunidade.
Temos burlado as leis e os mandamentos, contraindo para nós escravidões.
Quando no terceiro domingo meditamos os mandamentos, a lei de Deus dada ao povo de Israel escutamos: “ Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, dessa casa da escravidão”. (Ex 20,1)
É claro o sentido das leis , das normas e dos mandamentos , assim como em nossa Comunidade também temos as Constituições a normas, elas nos são dadas não impostas para vivermos livres, e quando as burlamos contraímos maldições e escravidões na alma no espírito , vivemos nos nossos próprios grilhões. Mas nosso baluarte Santa Teresa de Jesus nos diz: “Minhas filhas e minhas senhoras, peço-lhes pelo amor de Deus que guardem com o maior cuidado a Regra e as Constituições; se as guardarem com a pontualidade e a obediência que devem, não será necessário outro milagre para canonizá-las.”
Gostaria que neste sentido pensassem e desçam com o Espírito Santo no mais profundo de cada um e vejam porque estão escravos a sentimentos, a tristeza, a apegos, porque andam pesados, acabrunhados, não livres.
Não será porque burlamos as leis?
Não será porque se tem uma norma como para início de namoro não falar com o pretendente, antes de qualquer coisa com os formadores.
Meu Deus como estamos acorrentados em grilhões que nos impomos a nós e a comunidade e pondo em risco todo um plano de Deus para nossa vida e para a comunidade. !!!
Não será porque burlamos as leis e contraímos lepras interiores?
Porque morremos interiormente?
Precisamos sair para fora e sermos desatados de nossas próprias algemas.
Porque nós contraímos a morte e o sepulcro a alma .
Neste tempo que nos é dado viver, vemos um aumento da agressividade, da falta de respeito para com os semelhantes e, rebelião , desobediências conseqüentemente, falta de perdão a si e a outros.
Por que é assim?
Existe apenas uma resposta a esta pergunta: «Falta de verdade, de sinceridade, de transparência, de honestidade de amor».
Precisamos não de vocações santas , mas de vocações honestas.
Mas essa falta de desonestidade, de corrupção e maldade no mundo e falta de amor próprio e para com os outros começa a partir da própria pessoa, que não se valoriza, não se estima, não se ama.
Isto não significa tornar-se narcísico, egocêntrico, pois também isso leva à carência de amor e à incapacidade de perdoar aos outros.
O que acontece com este tipo de pessoa? Perdeu a dignidade de ser humano, de filho (a) de Deus.
Deixa-se dominar por paixões negativas e pensa sempre consigo mesma: que o seu projeto pessoal é o melhor que aquele que Deus propõem. Eu uma natureza decaída enfrentando a sapientíssima vontade de Deus que burrice.
Eu é que não vou me humilhar!»
E, como muito bem nos ensina nossa Santa Mãe Igreja, o remédio contra o pecado capital da soberba, do orgulho, é a humildade, que é a expressão de amor.
Assim pois, são dois pólos totalmente opostos, um negativo, destrutivo, (a soberba, o orgulho), e o outro positivo, construtivo (a humildade).
Estes dois estão nitidamente refletidos, o primeiro em Satanás, o que foi a causa de sua perdição; o segundo no próprio Cristo, que se humilhou até a morte e morte de cruz, e o fez por amor, pela nossa salvação.
Então, meus queridos filhos e filhas espirituais, a realidade está aqui diante de nossos olhos. Cabe-nos saber decidir o que queremos, não só para a nossa vida temporal, mas também para a vida eterna. Para o verdadeiro cristão não existem outras alternativas, mas apenas uma: «O amor, o perdão e a verdade».
Sim a Verdade nós liberta!
Do contrário, seria tão somente um «cristão de rótulo», com atitudes e obras das trevas de mãos com Satã e operários de seu Reino.
Nosso Senhor Jesus Cristo também nos fala do jejum que já era praticado pelo povo da Lei, isto é, pelos Hebreus, e que os ajudava muito no crescimento espiritual. Mas o Senhor não quer que fiquemos apenas no jejum de alimentos. Quer que o ultrapassemos, avançando em direção ao jejum espiritual. Podemos dizer que existe uma diferença entre um e outro. Sim, é verdade que o primeiro ajuda, mas, ao mesmo tempo, deve nos conduzir para o segundo e mais importante. E, o que significa o jejum espiritual? Significa a renúncia de si mesmo, repito, não estou dizendo que temos de nos anularmos como pessoas, mas que precisamos nos livrar de tudo o que é negativo, nocivo, tóxico para a nossa alma e, conseqüentemente, para o nosso corpo e, por extensão, ao nosso próximo.
A nossa alma é, figurativamente falando, como o vidro pára-brisas de um carro: se vamos dirigir, temos de limpá-lo antes para obter uma visão clara do que temos adiante, evitando assim os obstáculos que surgem ao longo do caminho, e, mais importante ainda, para que não atropelemos ninguém.
Se não fosse assim, estaríamos a cometer o pecado da negligência e, até mesmo, assassinato.
Da mesma maneira, o jejum espiritual nos ajuda a limpar o «pára-brisas» de nossa alma e a deixar brilhar a luz que habita em nós, iluminando também aos outros que nos cercam.
O jejum, portanto, nos ajuda a perdoar, a aprender a amar, não só com amor humano, mas com o amor que recebemos de Deus e que projetamos ao nosso próximo, traduzido em nossas obras de caridade, de ensinamento, de sacrifício, de entrega total a causa que abraçamos , ao carisma e a obra de Deus!
É, por isso, uma necessidade primordial, vital, para estarmos permanentemente em comunhão com a nossa Igreja, lá onde bebemos a água pura e cristalina de sua doutrina, de sua Tradição e de seus santos Mistérios, comunhão com Cristo que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6) por quem temos abertas as portas do Paraíso, a verdade, a Sinceridade, a honestidade, a Conversão do coração.
Desta maneira estaremos acumulando tesouros no céu, lá onde os ladrões não roubam, e compartilharemos nossas riquezas alcançadas aqui na terra com os nossos irmãos que também tenham se esforçado durante sua vida terrena para amar e perdoar, para viver o Evangelho vivo e vivido na carne, seguindo os divinos ensinamentos de nosso grande Mestre, Senhor e Deus, Jesus Cristo. Amém.
______________________________________________________________
Medite nos textos Lc 18, 9-14.
João 11,1-44.
Partilhe o que mais lhe chamou atenção e lhe interpelou!
Responda para si :
-Porque morremos interiormente?
-Porque matamos um Carisma e uma Vocação?
- Será que professamos realmente a mesma fé?
Que fé? Fé em Deus?
Ou fé no diabo, que é o pai da mentira, do engano, do ódio que tudo destrói?
-Estamos contribuindo para a expansão de que Reino ? de Deus ou do Satã?
Medite nestas palavras:
-O orgulho está no centro da desunião, enquanto a humildade está no centro da reconciliação !
- “Guardem com o maior cuidado a Regra e as Constituições; se as guardarem com a pontualidade e a obediência que devem, não será necessário outro milagre para canonizá-las.”
- Quando entramos para uma Comunidade sempre dizíamos : Quero ser santo e agora onde esta este santo desejo? Perdeu-se frente as conveniências.
Santa Páscoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário