Carta de Taizé 2012
CONFIANÇA ENTRE OS HOMENS ( I )
Abrir
caminhos de confiança responde a uma urgência: apesar de as
comunicações serem cada vez mais fáceis, as nossas sociedades humanas
permanecem compartimentadas e fragmentadas.
Há
muros não apenas entre povos e continentes, mas também muito perto de
nós e até dentro do coração humano.
Pensemos nos preconceitos entre
povos diferentes. Pensemos nos imigrantes, tão perto e todavia
frequentemente tão distantes. Entre religiões permanece uma ignorância
recíproca e os próprios cristãos estão separados em múltiplas
confissões.
A paz mundial começa nos nossos corações.
Para
darmos início a uma expressão de solidariedade, vamos ao encontro dos
outros, mesmo que por vezes estejamos de mãos vazias, escutemos,
tentemos compreender aqueles que não pensam como nós… e uma situação
bloqueada pode assim transformar-se.
Procuremos
permanecer atentos aos mais fracos, àqueles que não encontram trabalho…
A nossa atenção aos mais pobres pode expressar-se através de um
compromisso social. A um nível mais profundo, esta atenção significa uma
abertura em relação a todos: os nossos próximos são também, em certo
sentido, pobres que precisam de nós.[I]
Perante
a pobreza e a injustiça, algumas pessoas revoltam-se ou sentem mesmo a
tentação da violência cega. A violência não pode ser uma forma de mudar
as sociedades.[II] Contudo, precisamos de escutar os jovens que expressam a sua indignação para tentar compreender as suas motivações essenciais.[III]
O impulso para uma nova solidariedade alimenta-se de convicções enraizadas: a necessidade da partilha é uma delas.[IV] É um imperativo que pode unir os crentes de diferentes religiões e também os crentes e os não crentes.
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[I] A
pobreza não diz respeito apenas à vida material. Também pode ser a
privação de amizades, a falta de um sentido para a vida, a ausência de
acesso a riquezas como a poesia, a música, a arte e a tudo o que nos
abre à beleza da criação.
[II] Em
1989, na Alemanha de Leste, nas vésperas da queda do muro de Berlim, os
organizadores das manifestações nas ruas estavam atentos a que cada
pessoa tivesse consigo uma vela acesa: uma mão segurava a vela e a outra
protegia-a do vento, não ficando nenhuma mão livre para um gesto
violento.
[III] Alguns
jovens espanhóis empenhados em Madrid no movimento dos indignados
escreveram-me: «Não sabemos o que poderá acontecer se a situação não
melhorar. Há muitas pessoas no desemprego, que perderam a sua habitação e
os seus direitos fundamentais, há muita confusão e exasperação por
causa de um sistema jurídico, económico e social injusto, uma falsa
democracia que não garante os direitos que estão inscritos na nossa
Constituição: o direito a um alojamento digno, à integridade física e
psíquica… Perguntou-nos o que poderia fazer por nós a Comunidade de
Taizé. A nossa resposta é: pode fazer aquilo que já faz, ensinar-nos a
guardar a paz interior. Contamos com a vossa oração e com o afecto que
nos têm mostrado. Também podem informar os jovens que partilham as
mesmas preocupações que nós.»
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