Solenidade da Ascensão - Ano B
Tempo Pascal
Sétimo Domingo
A Solenidade da Ascensão de Jesus que hoje
celebramos sugere que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está
a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o
testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o
projeto libertador de Deus para os homens e para o mundo.
No Evangelho, Jesus ressuscitado aparece aos
discípulos, ajuda-os a vencer a desilusão e o comodismo e envia-os em missão,
como testemunhas do projeto de salvação de Deus. De junto do Pai, Jesus continuará
a acompanhar os discípulos e, através deles, a oferecer aos homens a vida nova
e definitiva.
Na primeira leitura, repete-se a mensagem
essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projeto do
Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus - a mesma vida que espera
todos os que percorrem o mesmo "caminho" que Jesus percorreu. Quanto
aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade
alienante; mas têm de ir para o meio dos homens continuar o projeto de Jesus.
A segunda leitura convida os discípulos a
terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão
com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa "esperança" de mãos dadas
com os irmãos - membros do mesmo "corpo" - e em comunhão com Cristo,
a "cabeça" desse "corpo". Cristo reside no seu
"corpo" que é a Igreja; e é nela que se torna hoje presente no meio
dos homens.
LEITURA
1- At 1,1-11
O livro dos "Atos dos apóstolos" dirige-se
a comunidades que vivem num certo contexto de crise. Estamos na década de 80,
cerca de cinquenta anos após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa
pela vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o "Reino" e há
uma certa desilusão. As questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia
favorece uma vida cristã pouco comprometida e as comunidades instalam-se na
mediocridade; falta o entusiasmo e o empenho o quadro geral é o de um certo
sentimento de frustração, porque o mundo continua igual e a esperada
intervenção vitoriosa de Deus continua adiada. Quando vai concretizar-¬se, de
forma plena e inequívoca, o projeto salvador de Deus?
É neste ambiente que podemos inserir o texto
que hoje nos é proposto como primeira leitura. Nele, o catequista Lucas avisa
que o projeto de salvação e de libertação que Jesus veio apresentar passou
(após a ida de Jesus para junto do Pai) para as mãos da Igreja, animada pelo
Espírito. A construção do "Reino" é uma tarefa que não está
terminada, mas que é preciso concretizar na história, e exige o empenho
contínuo de todos os crentes. Os cristãos são convidados a redescobrir o seu
papel, no sentido de testemunhar o projeto de Deus, na fidelidade ao
"caminho" que Jesus percorreu.
O nosso texto começa com um prólogo (vers.
1-2) que relaciona os "Atos" com o 3° Evangelho - quer na referência
ao mesmo Teófilo a quem o Evangelho era dedicado, quer na alusão a Jesus, aos
seus ensinamentos e à sua ação no mundo (tema central do 3° Evangelho). Neste prólogo
são também apresentados os protagonistas do livro - o Espírito Santo e os
apóstolos, vinculados com Jesus.
Depois da apresentação inicial, vem o tema da
despedida de Jesus (vers. 3-8). O autor começa por fazer referência aos
"quarenta dias" que mediaram entre a ressurreição e a ascensão,
durante os quais Jesus falou aos discípulos "a respeito do Reino de
Deus" (o que parece estar em contradição com o Evangelho, onde a
ressurreição e a ascensão são apresentados no próprio dia de Páscoa - cf. Lc
24). O
número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número que define o
tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do
mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao
ensinamento do Ressuscitado.
As palavras de despedida de Jesus (vers. 4-8)
sublinham dois aspectos: a vinda do Espírito e o testemunho que os discípulos
vão ser chamados a dar "até aos confins do mundo". Temos resumida
aqui a experiência missionária da comunidade de Lucas: o Espírito irá
derramar-se sobre a comunidade crente e dará a força para testemunhar Jesus em
todo o mundo, desde Jerusalém a Roma. Na realidade, trata-se do programa que
Lucas vai apresentar ao longo do livro, posto na boca de Jesus ressuscitado. O
autor quer mostrar com a sua obra que o testemunho e a pregação da Igreja estão
entroncados no próprio Jesus e são impulsionados pelo Espírito.
o último tema é o da ascensão (vers. 9-11).
Evidentemente, esta passagem necessita de ser interpretada para que, através da
roupagem dos símbolos, a mensagem apareça com toda a claridade.
Temos, em primeiro lugar, a elevação de Jesus
ao céu (vers. 9a). Não estamos a falar de uma pessoa que, literalmente, descola
da terra e começa a elevar-se; estamos a falar de um sentido teológico (não é o
"repórter", mas sim o "teólogo" a falar): a ascensão é uma
forma de expressar simbolicamente que a exaltação de Jesus é total e atinge
dimensões supra-terrenas; é a forma literária de descrever o culminar de uma
vida vivida para Deus, que agora reentra na glória da comunhão com o Pai.
Temos, depois, a nuvem (vers. 9b) que subtrai
Jesus aos olhos dos discípulos. Pairando a meio caminho entre o céu e a terra,
a nuvem é, no Antigo Testamento, um símbolo privilegiado para exprimir a
presença do divino (cf. Ex 13,21.22; 14,19.24; 24,15b-18; 40,34-38). Ao mesmo
tempo, simultaneamente esconde e manifesta: sugere o mistério do Deus escondido
e presente, cujo rosto o Povo não pode ver, mas cuja presença adivinha nos
acidentes da caminhada. Céu e terra, presença e ausência, luz e sombra, divino
e humano, são dimensões aqui sugeridas a propósito de Cristo ressuscitado,
elevado à glória do Pai, mas que continua a caminhar com os discípulos.
Temos ainda os discípulos a olhar para o céu
(vers. 10a). Significa a expectativa dessa comunidade que espera ansiosamente a
segunda vinda de Cristo, a fim de levar ao seu termo o projeto de libertação do
homem e do mundo.
Temos, finalmente, os dois homens vestidos de
branco (vers. 10b). O branco sugere o mundo de Deus, o que indica que o seu
testemunho vem de Deus. Eles convidam os discípulos a continuar no mundo,
animados pelo Espírito, a obra libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos
discípulos que tem de continuar, na história, a obra de Jesus, embora com a
esperança posta na segunda e definitiva vinda do Senhor.
O sentido fundamental da ascensão não é que
fiquemos a admirar a elevação de Jesus; mas é convidar-nos a seguir o
"caminho" de Jesus, olhando para o futuro e entregando-nos à
realização do seu projeto de salvação no meio do mundo.
ATUALIZAÇÃO
+ A ressurreição/ascensão de Jesus
garante-nos, antes de mais, que uma vida vivida na fidelidade aos projetos do
Pai é uma vida destinada à glorificação, à comunhão definitiva com Deus. Quem
percorre o mesmo "caminho" de Jesus subirá, como Ele, à vida plena.
+ A ascensão de Jesus recorda-nos, sobretudo,
que Ele foi elevado para junto do Pai e nos encarregou de continuar a tornar
realidade o seu projeto libertador no meio dos homens nossos irmãos. É essa a
atitude que tem marcado a caminhada histórica da Igreja? Ela tem sido fiel à
missão que Jesus, ao deixar este mundo, lhe confiou?
+ O nosso testemunho tem transformado e
libertado a realidade que nos rodeia?
Qual o real impacto desse testemunho na nossa
família, no local onde desenvolvemos a nossa atividade profissional, na nossa
comunidade cristã ou religiosa?
+ É relativamente frequente ouvirmos dizer que
os seguidores de Jesus gostam mais de olhar para o céu do que se comprometerem
na transformação da terra. Estamos, efetivamente, atentos aos problemas e às
angústias dos homens, ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado?
Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias, pelos sofrimentos,
pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o coração dos que nos rodeiam?
Sentimo-nos solidários com todos os homens, particularmente com aqueles que
sofrem?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 46 (47)
Refrão 1: Por entre aclamações e ao som da
trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor.
Refrão 2: Ergue-se, Deus, o Senhor, em júbilo
e ao som da trombeta.
LEITURA
II - Ef 1,17-23
A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos
exemplares de uma "carta circular" enviada a várias igrejas da Ásia
Menor, numa altura em que
Paulo está na prisão (em Roma?). Q seu portador é um tal
Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60.
Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese
da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente
terminada no oriente.
Em concreto, o texto que nos é proposto
aparece na primeira parte da carta e faz parte de uma acção de graças, na qual
Paulo agradece a Deus pela fé dos efésios e pela caridade que eles manifestam
para com todos os irmãos na fé.
À ação de graças, Paulo une uma fervorosa
oração a Deus, para que os destinatários da carta conheçam "a esperança a
que foram chamados" (vers. 18). A prova de que o Pai tem poder para
realizar essa "esperança" (isto é, conferir aos crentes a vida eterna
como herança) é o que Ele fez com Jesus Cristo: ressuscitou-Q e sentou-Q à sua
direita (vers. 20), exaltou-Q e deu-Lhe a soberania sobre todos os poderes
angélicos (Paulo está preocupado com a perigosa tendência de alguns cristãos em
dar uma importância exagerada aos anjos, colocando-os até acima de Cristo - cf.
Coi 1,6). Essa soberania estende-se, inclusive, à Igreja - o "corpo"
do qual Cristo é a "cabeça". Q mais significativo deste texto é,
precisamente, este último desenvolvimento. A ideia de que a comunidade cristã é
um "corpo" - o "corpo de Cristo" - formado por muitos
membros, já havia aparecido nas "grandes cartas", acentuando-se,
sobretudo, a relação dos vários membros do "corpo" entre si (cf. 1
Cor 6,12-20; 10,16-17; 12,12-27; Rom 12,3-8); mas, nas "cartas do
cativeiro", Paulo retoma a noção de "corpo de Cristo" para refletir
sobre a relação que existe entre a comunidade e Cristo.
Neste texto, em concreto, há dois conceitos
muito significativos para definir o quadro da relação entre Cristo e a Igreja:
o de "cabeça" e o de "plenitude" (em grego,
"pleroma").
Dizer que Cristo é a "cabeça" da
Igreja significa, antes de mais, que os dois formam uma comunidade indissolúvel
e que há entre os dois uma comunhão total de vida e de destino; significa
também que Cristo é o centro à volta do qual o "corpo" se articula, a
partir do qual e em direção ao qual o "corpo" cresce, se orienta e
constrói, a origem e o fim desse "corpo"; significa ainda que a
Igreja/corpo está submetida à obediência a Cristo/cabeça: só de Cristo a Igreja
depende e só a Ele deve obediência.
Dizer que a Igreja é a "plenitude"
("pleroma") de Cristo significa dizer que nela reside a
"plenitude", a "totalidade" de Cristo. Ela é o receptáculo,
a habitação, onde Cristo Se torna presente no mundo; é através desse
"corpo" onde reside, que Cristo continua todos os dias a realizar o
seu projeto de salvação em favor dos homens. Presente nesse "corpo",
Cristo enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até que o próprio Cristo
"seja tudo em todos" (vers. 23).
ATUALIZAÇÃO
+ Na nossa peregrinação pelo mundo, convém
termos sempre presente "a esperança a que fomos chamados". A
ressurreição/ascensão/glorificação de Jesus é a garantia da nossa própria
ressurreição/glorificação. Formamos com Ele um "corpo" destinado à
vida plena. Esta perspectiva tem de dar-nos a força de enfrentar a história e
de avançar - apesar das dificuldades - nesse "caminho" do amor e da
entrega total que Cristo percorreu.
+ Dizer que fazemos parte do "corpo de
Cristo" significa que devemos viver numa comunhão total com Ele e que
nessa comunhão recebemos, a cada instante, a vida que nos alimenta. Significa
também viver em comunhão, em solidariedade total com todos os nossos irmãos,
membros do mesmo "corpo", alimentados pela mesma vida. Estas duas
coordenadas estão presentes na nossa existência?
+ Dizer que a Igreja é o "pleroma"
de Cristo significa que temos a obrigação de testemunhar Cristo, de torná-l'O
presente no mundo, de levar à plenitude o projecto de libertação que Ele
começou em favor dos homens. Essa tarefa só estará acabada quando, pelo
testemunho e pela acção dos crentes, Cristo for "um em todos".
(Nota: em vez desta leitura, pode-se escolher
a seguinte leitura facultativa: Ef 4,1-13)
ALELUIA - Mt 28,19a.20b
Aleluia. Aleluia.
Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre convosco até ao fim dos
tempos.
EVANGELHO - Me 16,15-20
A perícope de Mc 16,9-20 distingue-se, no
conjunto do Evangelho segundo Marcos, por se apresentar com um estilo e com
vocabulário muito diferentes do resto do texto. Aliás, os manuscritos mais
importantes e mais antigos que conservaram este Evangelho concluíam o texto de
Marcos em 16,8, com o medo das mulheres que, na manhã de Páscoa, encontraram o
túmulo vazio. Provavelmente, foi assim que Marcos terminou o seu Evangelho,
dando-lhe um final "aberto" e como que convidando o leitor a
completar o relato com a sua própria experiência pessoal de seguimento de
Jesus, superando o medo, "vendo" Jesus e dando testemunho d'Ele.
No entanto, este final pareceu deixar
insatisfeitos os leitores de Marcos e apareceram várias tentativas de dar ao
Evangelho segundo Marcos um final mais satisfatório. Algumas dessas tentativas
estão, aliás, atestadas em diversos documentos antigos que nos transmitiram o
texto do segundo Evangelho. De entre os diversos ''finais'' que apareceram,
houve um que se impôs aos outros .Trata-se de um texto de meados do séc. II,
que apresenta um resumo das aparições de Jesus ressuscitado contadas por outros
evangelistas. Embora tardio e não redigido por Marcos, este "final"
é, contudo, parte integrante da Escritura Sagrada. A Igreja reconhece-o como canônico,
como inspirado por Deus e como Palavra de Deus.
O texto que nos é proposto é parte da perícope
em causa. Os
elementos apresentados no texto são pequenos resumos de relatos feitos por
outros evangelistas. Assim, a aparição de Jesus ressuscitado aos Onze depende
de Lc 24,36-43 e de Jo 20,19-29; a definição da missão dos apóstolos depende de
Mt 28,16- 20 e de Lc 24,44-49; o relato da Ascensão depende de Lc 24,50-53 e de
Act 1,4-11.
O quadro traçado pelo autor da perícope
apresenta os discípulos a reagir de uma forma muito negativa ao facto de Jesus
já não estar com eles. Na manhã da ressurreição, eles estavam "em luto e
em pranto" (Mc 16,10); depois, receberam o testemunho das mulheres que
encontraram Jesus ressuscitado, com incredulidade e com um coração obstinado
(cf. Mc 16,14). Num caso e noutro, negam-se a ir em frente e a continuar a
aventura que começaram com Jesus. Têm medo de arriscar e preferem ficar
comodamente instalados a "lamber as feridas".
É o anti-seguimento e encontro com Jesus
ressuscitado vai, porém, obrigá-los a sair do seu letargo e a assumir os seus
compromissos e responsabilidades, como membros da comunidade do Reino.
A questão central abordada no nosso texto é a
do papel dos discípulos no mundo, após a partida de Jesus ao encontro do Pai. O
texto consta de três cenas: Jesus ressuscitado define a missão dos discípulos;
Jesus parte ao encontro do Pai; os discípulos partem ao encontro do mundo, a
fim de concretizar a missão que Jesus lhes confiou.
Na primeira cena (vers. 15-18), Jesus
ressuscitado aparece aos discípulos, acorda-os da letargia em que se tinham
instalado e define a missão que, doravante, eles serão chamados a desempenhar
no mundo.
A primeira nota do envio e do mandato que
Jesus dá aos discípulos é a da universalidade DA missão dos discípulos
destina-se a "todo o mundo" e não deverá deter-se diante de barreiras
rácicas, geográficas ou culturais. A proposta de salvação que Jesus fez e que
os discípulos devem testemunhar destina-se a toda a terra. Depois, Jesus define
o conteúdo do anúncio: o "Evangelho". O que é o
"Evangelho"? No Antigo Testamento (sobretudo no Deutero-Isaías e no
Trito-Isaías), a palavra "evangelho" está ligada à "boa
notícia" da chegada da salvação para o Povo de Deus. Depois, na boca de
Jesus, a palavra "Evangelho" designa o anúncio de que o "Reino
de Deus" chegou à vida dos homens, trazendo-lhes a paz, a libertação, a
felicidade. Para os catequistas das primeiras comunidades cristãs, o
"Evangelho" é o anúncio de um acontecimento único, capital,
fundamental: em Jesus
Cristo, Deus veio ao encontro dos homens, manifestou-lhes o
seu amor, inseriu-os na sua família, convidou-os a integrar a comunidade do
Reino, ofereceu-lhes a vida definitiva. Tal é o único e exclusivo
"evangelho", a "boa notícia" que muda o curso da história e
que transforma o sentido e os horizontes da existência humana.
O anúncio do "Evangelho" obriga os
homens a uma opção. Quem aderir à proposta que Jesus faz, chegará à vida plena
e definitiva ("quem acreditar e for batizado será salvo"); mas quem
recusar essa proposta, ficará à margem da salvação ("quem não acreditar
será condenado" - verso 16).
O anúncio do Evangelho que os discípulos são
chamados a fazer vai atingir não só os homens, mas "toda a criatura".
Muitas vezes o homem, guiado por critérios de egoísmo, de cobiça e de lucro,
explora a criação, destrói esse mundo "bom" e harmonioso que Deus
criou D Mas a proposta de salvação que Deus apresenta destina-se a transformar
o coração do homem, eliminando o egoísmo e a maldade. Ao transformar o coração
do homem, o "Evangelho" apresentado por Jesus e anunciado pelos
discípulos vai propor uma nova relação do homem com todas as outras criaturas -
uma relação não mais marcada pelo egoísmo e pela exploração, mas pelo respeito
e pelo amor. Dessa forma, nascerá uma nova humanidade e uma nova natureza.
A presença da salvação de Deus no mundo
tornar-se-á uma realidade através dos gestos dos discípulos de Jesus comprometidos
com Jesus, os discípulos vencerão a injustiça e a opressão ("expulsarão os
demônios em meu nome"), serão arautos da paz e do entendimento dos homens
("falarão novas línguas"), levarão a esperança e a vida nova a todos os
que sofrem e que são prisioneiros da doença e do sofrimento ("quando
impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados"); e, em todos os
momentos, Jesus estará com eles, ajudando-os a vencer as contrariedades e as
oposições.
Na segunda cena (vers. 19), Jesus sobe ao céu
e senta-Se à direita de Deus. A elevação de Jesus ao céu (ascensão) é uma forma
de sugerir que, após o cumprimento da sua missão no meio dos homens, Jesus foi
ao encontro do Pai e reentrou na comunhão do Pai.
A entronização de Jesus "à direita de
Deus" mostra, por sua vez, a veracidade da proposta de Jesus. Na concepção
dos povos antigos, aquele que se sentava à direita de Deus era um personagem
distinto, que o rei queria honrar de forma especial D Jesus, porque cumpriu com
total fidelidade o projeto de Deus para os homens, é honrado pelo Pai e sentado
à sua direita. A proposta que Jesus apresentou, que os discípulos acolheram e
que vão ser chamados a testemunhar no mundo, não é uma aventura sem sentido e
sem saída, mas é o projeto de salvação que Deus quer oferecer aos homens.
Na terceira cena (vers. 20), descreve-se
resumidamente a ação missionária dos discípulos: eles partiram (quer dizer,
deixaram para trás as seguranças e afetos humanos por causa da missão) a pregar
(quer dizer, a anunciar com palavras e com gestos concretos essa vida nova que
Deus ofereceu aos homens através de Jesus) por toda a parte (propondo a todos
os homens, sem exceção, a proposta salvadora de Deus).
O autor desta catequese assegura aos
discípulos que não estão sozinhos ao longo durante a missão Jesus, vivo e
ressuscitado, está com eles, coopera com eles e manifesta-Se ao mundo nas
palavras e nos gestos dos discípulos.
A festa da Ascensão de Jesus é, sobretudo, o
momento em que os discípulos tomam consciência da sua missão e do seu papel no
mundo. A Igreja (a comunidade dos discípulos, reunida à volta de Jesus, animada
pelo Espírito) é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja missão é
testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus veio
trazer aos homens.
ATUALIZAÇÃO
+ Jesus foi ao encontro do Pai, depois de uma
vida gasta ao serviço do "Reino"; deixou aos seus discípulos a missão
de anunciar o "Reino" e de torná-lo uma proposta capaz de renovar e
de transformar o mundo. Celebrar a ascensão de Jesus significa, antes de mais,
tomar consciência da missão que foi confiada aos discípulos e sentir-se
responsável pela presença do "Reino" na vida dos homens. Estou
consciente de que a Igreja - a comunidade dos discípulos de Jesus, a que eu
pertenço também - é hoje a presença libertadora e salvadora de Jesus no meio
dos homens? Como é que eu procuro testemunhar o "Reino" na minha vida
de todos os dias - em casa, no trabalho ou na escola, na paróquia, na
comunidade religiosa?
+ A missão que Jesus confiou aos discípulos é
uma missão universal: as fronteiras, as raças, a diversidade de culturas não
podem ser obstáculos para a presença da proposta libertadora de Jesus no mundo.
Tenho consciência de que a missão que foi confiada aos discípulos é uma missão
universal? Tenho consciência de que Jesus me envia a todos os homens - sem
distinção de raças, de etnias, de diferenças religiosas, sociais ou econômicas
- a anunciar-lhes a libertação, a salvação, a vida definitiva? Tenho
consciência de que sou responsável pela vida, pela felicidade e pela liberdade
de todos os meus irmãos - mesmo que eles habitem no outro lado do mundo?
+ Tornar-se discípulo é, em primeiro lugar,
aprender os ensinamentos de Jesus - a partir das suas palavras, dos seus gestos,
da sua vida oferecida por amor. É claro que o mundo do século XXI apresenta,
todos os dias, desafios novos; mas os discípulos, formados na escola de Jesus,
são convidados a ler os desafios que hoje o mundo coloca, à luz dos
ensinamentos de Jesus. Preocupo-me em conhecer bem os ensinamentos de Jesus e
em aplicá-los à vida de todos os dias?
+ No dia em que fui batizado, comprometi-me
com Jesus e vinculei-me com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A minha vida tem sido coerente com esse compromisso?
+ É um tremendo desafio testemunhar, hoje, no
mundo os valores do "Reino" (esses valores que, muitas vezes, estão
em contradição com aquilo que o mundo defende e que o mundo considera serem as
prioridades da vida). Com frequência, os discípulos de Jesus são objeto da
irrisão e do escárnio dos homens, porque insistem em testemunhar que a
felicidade está no amor e no dom da vida; com frequência, os discípulos de
Jesus são apresentados como vítimas de uma máquina de escravidão, que produz
escravos, alienados, vítimas do obscurantismo, porque insistem em testemunhar
que a vida plena está no perdão, no serviço, na entrega da vida. O confronto
com o mundo gera muitas vezes, nos discípulos, desilusão, sofrimento,
frustração, nos momentos de decepção e de desilusão convém, no entanto,
recordar as palavras de Jesus: "Eu estarei convosco até ao fim dos
tempos". Esta certeza deve alimentar a coragem com que testemunhamos
aquilo em que acreditamos.
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